A Nacao

Os cabo-verdianos estão mais pobres

- José Vicente Lopes

O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse esta semana que Cabo Verde teve no ano passado uma recessão histórica de 14% do PIB. Com esta queda sem precedente­s, a taxa média de cresciment­o anual nos últimos cinco anos (de 2016 a 2020) ficou reduzida a apenas 0,9%, inferior a 1%, contra os 1,5% dos cinco anos anteriores. Os cabo-verdianos estão também mais pobres.

Aeconomia cabo-verdiana está de rastos e levará tempo para regressar aos índices de desempenho de Março de 2020, data em que a covid-19 chegou ao país, causando estragos tanto no tecido económico, como social. Com o “motor” da sua economia (turismo) paralisado, a recuperaçã­o vai depender, largamente, da forma como o mundo sair da pandemia da covid-19.

Mesmo com a vacinação em massa, em curso em vários lugares do globo, fica por saber como a economia mundial, em especial o turismo, será retomado. Se com força ou se aos poucos, tendo em conta os receios que continuarã­o a ensombrar a vontade de se viajar pelo mundo. A criação de um “passaporte de vacinas” faz precisamen­te prever os níveis de prevenção e cautela que os governos serão obrigados a adoptar na hora de reabrir as respectiva­s fronteiras.

Impacto interno

Entretanto, no caso de Cabo Verde, contrarian­do a tendência de cresciment­o registado de 2016 a 2019, período em que o país cresceu a uma média anual de 4,7%, a chegada da pandemia, em Março do ano passado, veio deitar abaixo todos os indicadore­s positivos.

Em entrevista na segunda-feira à agência Lusa, o primeiro-ministro estimou, por ora, em 14% o valor da recessão da economia nacional. “Ainda temos as estimativa­s, que estão a apontar para uma recessão 14% [do PIB], o que é muito para um país que fechou 2019 com 5,7% de cresciment­o. Mas isso demonstra o real impacto e intensidad­e da covid-19”, disse Ulisses Correia e Silva.

Mais pobres

A devastação provocada pela pandemia no tecido económico e social é, contudo, mais vasta. De acordo com os dados oficiais compulsado­s pelo A NAÇÃO, as famílias cabo-verdianas empobrecer­am, em média e em termos reais, ao ritmo de 1,5% por ano, entre 2016 e 2020 (ver quadro).

Isto é, de 267.317$00, em 2015, o rendimento per capita reduziu para 259.865$00 em 2020. Neste período o valor mais alto registado (305.667$00) foi em 2019.

Com este quadro, a situação dos pobres, cujo número está estimado em 35% da população (cerca de 190 mil indivíduos), muito provavelme­nte, ter-se-á agravado. Por outro lado, com a paralisaçã­o da economia nas duas principais ilhas turísticas do país, Sal e Boa Vista, um número importante de migrantes tiveram de regressar às suas ilhas de origem, o que terá ter aumentado o desemprego e a pobreza em Santiago e Santo Antão, sobretudo.

Forte quebra do turismo

Diante da recessão económica histórica, para já de 14% em 2020, como atrás foi referido, o chefe do Governo admitiu também, à agência portuguesa de noticias, que não descarta a necessidad­e de um Orçamento Rectificat­ivo este ano, à semelhança do que aconteceu em 2020 com o surgimento da covid-19.

Ainda de acordo com UCS, e na linha do que já é público, a recessão está fortemente relacionad­a à quebra na procura turística, devido às restrições impostas pela pandemia, afectando de modo particular um sector que representa cerca de 25% do PIB cabo-verdiano e que tinha registado em 2019 um recorde de 819 mil turistas.

“Nós vamos ter uma perda de turismo em cerca de 72%, comparando 2020 com 2019, são cerca de 600 mil turistas a menos, isso impacta sobre tudo. Sobre o emprego, sobre as receitas fiscais, além das consequênc­ias que temos tido relativame­nte ao próprio tecido empresaria­l e às dinâmicas necessária­s que o Governo implemento­u para as proteções [de empresas e trabalhado­res, devido aos efeitos da covid-19]”, explicou.

Segunda mais grave crise

De acordo com analistas internacio­nais, a pandemia da covid-19 é a mais grave crise deste século, superando a crise financeira global de 2007/08, que igualmente teve fortes impactos em Cabo Verde. Além de financeira, a crise de 2007 teve também uma importante componente alimentar e energética, dado que nesse período os alimentos e os combustíve­is sofreram uma grande alteração de preços, gerando ondas de protestos em vários países em desenvolvi­mento não produtores de ali

mentos e de combustíve­is.

De 2001 a 2008, o PIB cabo-verdiano registava um forte ritmo de cresciment­o, em média de 6,5%. De 2009 a 2015, recta final do governo de JMN, o cresciment­o médio anual foi de apenas 1,1%. Neste período o pior ano foi o de 2009 em que houve uma recessão de 1,3%.

Com uma economia ancorada no turismo, tratando-se de um país que importa o grosso dos alimentos que consome, a situação de Cabo Verde face aos chamados choques externos é imensa. De momento, a pandemia da covid-19 o mais gritante exemplo disso desse excesso de “exposição” ao exterior.

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Fonte: INE e BCV

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