A Nacao

Quebra acentuada no sector dos combustíve­is

- Gisela Coelho

O impacto da pandemia da covid-19 no sector dos combustíve­is não tem sido muito falado, ao nível das autoridade­s económicas nacionais, porém, como alerta João Oliveira e Sousa, PCA da Vivo Energy/Shell, tem sido um impacto “muito sério”. Só em receitas, a empresa ficou nos 70% do valor expectável, devido, sobretudo à quebra no abastecime­nto à marinha (barcos e cruzeiros), aviação e bunkering. Quanto a uma eventual retoma, alerta que ainda não há motivos para “euforias”.

“Oimpacto é muito sério, porque Cabo Verde é um mercado que depende muito do turismo, e, como se sabe, esta pandemia parou tudo o que é a actividade nesse sector”, começa por dizer João Oliveira e Silva.

Impacto esse provocado não pela redução “relativame­nte pequena a nível do consumo no retail”, porque os consumidor­es nacionais continuara­m a consumir combustíve­is, mas sim ao nível da marinha (barcos e cruzeiros) e aviação.

“Se quisermos quantifica­r, porque os números falam sempre por si, a nível do retail, es

tamos a falar de cerca de 10 a 12%, de redução de 2019 para 2020, enquanto na marinha falamos de reduções à volta dos 50%, e na aviação, entre 50 a 60%”.

Isto, garante, causa um impacto “brutal”, como se compreende, não apenas na área dos combustíve­is, mas também em todos os serviços associados. “Não havendo receitas, não há lucros e não há investimen­tos. Parte dos investimen­tos que tínhamos para 2020/21 tiveram que ser adiados, precisamen­te por falta das receitas que supúnhamos ter”, elucida.

Nesse contexto, alerta que esta crise pandémica é “algo que não pode ser levianamen­te considerad­o” e que a empresa tem “feito tudo” para mitigar estes efeitos.

Investimen­tos adiados

Entre os investimen­tos adiados, está um no Mindelo, na unidade de enchimento de garrafas de gás. “Esse investimen­to era para ser feito no ano passado e não o fizemos nem o ano passado, nem este ano. De facto, um dos equipament­os foi comprado, mas depois decidimos pôr em “stand by” o resto do projeto”, esclarece.

No entanto, trata-se de um projeto que não acrescenta

valor, no que se refere às vendas, ou seja, não ia aumentar as vendas por si só, mas sim, é um projeto mais na área da manutenção. “Isto não quer dizer que não tenhamos cuidados com a manutenção, tudo o que é minimament­e necessário que façamos nesta área é efetuado. Fazemos a manutenção que tem que ser preventiva e a curativa também. Mas, há outro tipo de manutenção, a médio e longo prazo, que nós simplesmen­te adiamos, dentro dos períodos que nos são permitidos”.

Bunkering o mais afectado

Em termos de “bunkering”, também houve uma redução significat­iva. “Mais de 85 milhões de litros foram fornecidos em 2019 e em 2020 tivemos apenas 40 milhões litros. Em 2019 fizemos “bunkering” em 11 navios cruzeiros, e em 2020 fizemos apenas nos dois primeiros meses do ano”, quantifica.

Essa fonte explica ainda que dos navios de “pipeline”, houve uma quebra situada nos 62%, principalm­ente em “bunkering”, porque os cruzeiros encostam no cais e pode-se fornecer combustíve­l através do cais.

“Portanto, estamos a falar de uma redução brutal. Só neste último mês é que vimos alguma recuperaçã­o, mas, mesmo assim, quando estamos a falar destas quantidade­s de volumes, e dos meios que temos para fornecer os navios, o “bunkering” foi sem dúvida um dos mais afetados”, assegura.

“A nível que resultados posso dizer que ficamos a 70% do plano e isto é muito num país onde temos uma estrutura pesada. A Vivo tem a sua própria frota para fazer o transporte de tudo o que são combustíve­is entre as ilhas, entenda-se que combustíve­is não são só o gasóleo e a gasolina. Há também o jet, o fuel, os óleos e os produtos a granel e os custos fixos pelo uso dos navios estão lá todos”, esclarece.

Portanto, como explica, qualquer alteração ao nível da faturação tem um grande impacto nas contas da Vivo, “como por certo têm os nossos concorrent­es”.

Alteração essa que contrasta com aquilo que vinha sendo a tendência. “Vínhamos de uma sequência de cresciment­o, por exemplo, com o turismo, e de repente encontrámo-nos aqui. Os números que nós temos indicam que talvez em 2022 alcancemos os valores de 2019, ao nível de vendas. É um caminho longo e penoso, mas estamos aqui com toda a confiança e vamos continuar”.

Isto sem contar com os habituais constrangi­mentos do facto de Cabo Verde ser um país arquipelág­ico. “É difícil trabalhar num mercado que, apesar de tudo, é pequeno quando as variações são tão grandes, relativame­nte ao plano e aquilo que é a prática”, conclui.

Futuro

Esse responsáve­l garante que já se sente “alguma retoma”, mas alerta que não é motivo para “euforias”. “Temos que ter os pés muito bem assentes na terra, pois acredito que vamos sofrer, pelo menos, mais um semestre”.

João Oliveira e Sousa acredita que no último trimestre deste ano “veremos uma evolução bastante positiva”, mas até lá, o sector vai enfrentar um “cresciment­o lento, devido aos “altos e baixos” na pandemia”.

Mesmo assim, a companhia prepara-se para o futuro. “Fizemos uma racionaliz­ação de todos os meios que temos, fizemos uma reorganiza­ção interna, para que quando a pandemia estiver controlada sermos capazes de responder melhor”.

A reorganiza­ção está a ser feita a nível das estruturas nos aeroportos, nos portos e nos postos de venda. “Não fechamos nenhum posto de combustíve­l, o que estamos a fazer é equipar-nos e a preparar-nos para o futuro, que esperamos que seja próximo e não distante”. João Oliveira e Sousa garante que a crise pandémica não afectou a nível dos recursos humanos, “a remuneraçã­o normal dos colaborado­res”, mas afectou “os prémios, infelizmen­te”, porque os resultados não permitiram.

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