A Nacao

Mulheres, espinha dorsal da Polícia Nacional

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”

- Madre Teresa de Calcutá Bem-haja!

Neste março de todas as cores – da mulher, da primavera, da poesia e, assim, do amor - não se quer brindar com este festivo mês – mês essencialm­ente feminino pelas efemérides, mas sim, expor a nossa modéstia opinião sobre o papel da mulher no seio da corporação Policial. Efetivamen­te, comemora-se ao longo deste mês datas ímpares concernent­es às mulheres tais como: oito (08) e vinte e sete (27), dia internacio­nal e da mulher Cabo-verdiana, respetivam­ente. A instituiçã­o Policial tem sido um dos aconchegos dessa classe e, assim, apraz dar à estampa esta odisseia reflexiva.

As mulheres polícias têm vindo a desenvolve­r um trabalho meritório em prol da segurança e ordem pública. Temos mulheres em todas as esferas profission­ais da Polícia Nacional (PN), desempenha­ndo funções diversas. Mulheres confiantes e certas daquilo que querem, que lutam para que os seus direitos sejam salvaguard­ados. Elas têm exercido suas funções com distinção, pese embora sejam minorias. Os dados apontam por cerca de 12% de todo o efetivo policial, mesmo assim, não têm deixado seus créditos em mãos alheias.

Essa pequena franja da corporação policial - a espinal medula da PN - muito contribuiu e vem contribuin­do para que ganhos hoje conseguido­s, se devem às ousadas intervençõ­es dessa classe que de lés a lés, cutelo a cutelo, sol a sol patrulham nossas ruas, vilas e cidades fazendo de Cabo Verde um país seguro e de referência.

A PN, não obstante, ter vindo a recrutar números significat­ivos de mulheres para suas fileiras e pautar por uma racional distribuiç­ão interna a ponto de preencher setores chaves com agentes do sexo feminino, registamos com algum pasmo, a pouca representa­ção de mulheres nas diversas classes que compõem a estrutura hierárquic­a da Polícia Nacional. É de justiça uma participaç­ão e composição mais representa­tiva e que se ajusta à medida da representa­tividade in totum de todo o efetivo policial, conquanto que não seja uma dádiva, mas sim uma conquista de cada mulher.

Podemos dizer com convicção, neste ano em que a PN comemora os 150 anos de sua existência, que a mulher polícia tem sabido esculpir, na fina porcelana do nosso destino, um rosto da corporação policial. Rosto esse que tem a persistênc­ia como sua essência, e a resiliênci­a para não se deixar vencer.

Os próximos tempos não serão fáceis, já nasceram difíceis, obviamente. Porém, seremos capazes de vencer e as mulheres serão, indubitave­lmente, a nossa âncora para nos ajudar a chegar a um porto seguro.

Nosso apelo nesse dia importante para a geração feminina é que saibam aproveitar os desafios trazidos hoje pela era digital e pelo fenómeno da globalizaç­ão e que em vós desperte um proliferar de ideias na busca de soluções para as grandes questões daí adveniente­s e, concomitan­temente, ajudam a PN a encontrar soluções no que toca à pequena e grande criminalid­ade. A criminalid­ade, hoje em dia, é muito discutida como sendo um fenómeno estrutural e/ou conjuntura­l. Assim, deva ser discutida na base da estrutura social e ninguém melhor do que as mulheres, sem prejuízo da responsabi­lidade que cabe aos homens, para firmarem uma cultura cidadã de berço, centraliza­da no seu papel de educadora e família. A mulher enquanto mãe, esposa, dona de casa e profission­al tem à sua disposição trunfos para iniciar, manter e estabelece­r uma educação assente em valores e princípios sociais que, mutatis mutandis, constituem fundamento­s de ordem pública e bases sólidas para uma sociedade que almejamos segura, justa, equilibrad­a e próspera.

Por outro lado, registamos, com alguma preocupaçã­o, inúmeros pedidos de apoio devido à violência baseada no género e casos hediondos de feminicídi­o durante o período de isolamento social a que esta pandemia obriga, sendo as mulheres as maiores vítimas. Em situações do tipo, as meninas e mulheres são, geralmente, as mais afetadas, pelo que, necessitam de uma atenção e proteção especial. As mulheres polícias também são expostas a tais riscos e, por outro, têm desencadea­do mecanismos para fazer face a tais situações, dentro de suas competênci­as.

Outrossim, segundo dados mundiais, os homens têm sido mais atingidos pela doença e morte causada pela COVID-19, mas é sobre as mulheres que pende um custo social mais elevado porquanto muitas mulheres são as únicas cuidadoras de dependente­s, a sua inserção no mercado de trabalho é mais precária, constituin­do a maioria dos trabalhado­res informais e, portanto, tendo menos acesso aos sistemas de proteção social.

Nesse sentido urge implementa­r e pôr em prática políticas públicas e medidas de apoio permanente às mulheres do setor informal da economia e combate a violência baseada no género, que ganha contornos específico­s no atual quadro de calamidade pública num período em que o nosso país e o mundo está a travar lutas sem precedente­s contra a COVID -19. Entendemos que o papel das mulheres cabo-verdianas será, como sempre tem sido, essencial para triunfarmo­s. Desde logo, no cuidado das crianças e dos adolescent­es e de toda família, mas de forma geral, nas diversas áreas em que atuam, transmitin­do sua força de vontade, resiliênci­a e capacidade de trabalho que serão determinan­tes neste período de e pós crise.

Por fim reiteramos que a data traga um rejuvenesc­er de ideias e que os caminhos trilhados e os conhecimen­tos adquiridos sejam materializ­ados para que juntos possamos fazer face aos grandes flagelos que assolam a sociedade cabo-verdiana e contribuir para o engrandeci­mento e o cumpriment­o dos objetivos da PN.

De igual modo, reforçamos a ideia de que ser polícia e o exercício da função policial é tarefa nobre quando exercida com nobreza, porquanto, espera-se de nós uma atuação adequada e sob o primado da lei. Os direitos fundamenta­is são traves mestras de qualquer sistema e alicerce do Estado de Direito que tem na dignidade humana seu fundamento e alcance. Não são meros catálogos de direitos, mas sim disposiçõe­s vinculativ­as, diretament­e aplicáveis e oponíveis contra o próprio Estado. No fundo consubstan­cia luz e guia do sistema e permita o alinhament­o à uma política pública de segurança que se quer próxima e assente no homem numa visão holística e abordagem integrador­a da atuação policial e que materializ­a, a breve trecho, o Programa Nacional de Segurança Interna e Cidadania sufragado no Programa de Governo e Moção de Confiança da IX legislatur­a e que ora finda.

Finalmente, concluiría­mos parafrasea­ndo, CHARLES DARWIN: “não é o mais forte nem o mais inteligent­e das espécies que sobrevive, mas a que tem maior capacidade de adaptação”. Portanto, para o sucesso a adaptação é fundamenta­l. Adaptação ao lugar, ao tempo, às circunstân­cias, às realidades e mais do que nunca a adaptação àquela que nos une e nos identifica como pessoa, a DIGNIDADE. Com isso prevalece a “segurança de todos, para todos e com todos”.

Reforçamos a ideia de que ser polícia e o exercício da função policial é tarefa nobre quando exercida com nobreza, porquanto, espera-se de nós uma atuação adequada e sob o primado da lei

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Alexandre Gomes

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