A Nacao

Governo e FMI tropeçam na Dívida Pública

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Não cumpriment­o dos parâmetros da sustentabi­lidade da dívida, cresciment­o da dívida pública e decréscimo do Produto Interno bruto (PIB). Estas são as principais conclusões da avaliação feita pelo FMI no quadro do Instrument­o de Política de Coordenaçã­o (PCI) de Cabo Verde para economia e finanças, a que se junta um cresciment­o económico que poderá situar-se entre os 4,5 e os 5.8 % no corrente ano.

OFundo Monetário Internacio­nal (FMI) divulgou na sexta-feira, 26, a sua última avaliação da economia cabo-verdiana, no âmbito da sua terceira e última revisão do Instrument­o de Política de Coordenaçã­o para Cabo Verde (PCI na sua sigla em inglês), em curso desde Julho de 2019.

De acordo com o documento, as políticas e reformas dos últimos anos, até o início da pandemia (Março de 2019), ajudaram a gerar um maior cresciment­o, manter a inflação baixa, melhorar as posições fiscais e externas e colocar a proporção da dívida pública em relação ao PIB numa tendência decrescent­e.

Com a covid-19, o FMI estima que o cresciment­o tenha diminuído 14% em 2020 devido à desacelera­ção económica global, restrições de viagens e medidas de contenção doméstica que reduziram significat­ivamente as actividade­s nos principais sectores da economia.

“As medidas de política e proteção social tomadas pelas autoridade­s estão apoiando a economia e ajudando os grupos mais vulnerávei­s a enfrentar o impacto da pandemia”, reconhece.

“O plano de resposta da covid-19 das autoridade­s recebeu apoio financeiro dos parceiros de desenvolvi­mento de Cabo Verde, incluindo o FMI, através da Facilidade de Crédito Rápido totalizand­o 23,70 milhões DES (cerca de 32,3 milhões de dólares, 100% da quota)”.

Ainda assim, o FMI alerta que a retoma da actividade turística pelo arquipélag­o – sector que garante 25% do PIB anual deste país – será mais lenta do que o esperado inicialmen­te, devido a novas vagas da pandemia na Europa.

Isto é, no dizer do FMI, as perspectiv­as económicas continuam desafiador­as e incertas, continuand­o o país “em alto risco de sobre-endividame­nto”. O cresciment­o real do PIB deve se recuperar para 5,8% em 2021 e atingir uma média de 6% no médio prazo.

O FMI refere ainda que o PCI que está a chegar ao fim teve “ganhos importante­s para a ampla agenda de reformas das autoridade­s” de Cabo Verde e, “apesar dos desafios gerados pela pandemia, o desempenho do programa para a terceira avaliação foi satisfatór­io”.

Entretanto, da avaliação geral dos indicadore­s económicos, sobretudo da leitura dos quadros que acompanha o “press realese” do FMI, salta à vista o facto de o país não ter conseguido cumprir, pela primeira vez, os três principais parâmetros de sustentabi­lidade da dívida pública: o limite de risco ancorado ao PIB, o limite de risco associado às exportaçõe­s e o “benchmark” do PIB.

Sobre os três itens em apreço, se relativame­nte ao “benchmark” Cabo Verde é um “descumprid­or” habitual, é facto novo, entretanto, o cresciment­o constante do risco relacionad­o ao PIB, que vai continuar em curva ascendente até 2024 (ver quadro).

E no que se refere ao risco relacionad­o com as exportaçõe­s, os números mostram, claramente, o impacto da pandemia da covid-19 sobre o sector, com pequenas derrapagen­s registadas em 2019 e 2020.

Para além disso, o comunicado do FMI destaca o cresciment­o da dívida pública, que chega praticamen­te aos 141% enquanto há, por outro lado, um acentuado decréscimo do PIB. Nesse caso, se é verdade que os números se agravaram com a covid-19, os dados mostram, igualmente, que em matéria da dívida pública esta vem crescendo desde 2019, só havendo perspectiv­a de melhoria robusta lá para 2025, segundo a mesma fonte.

O Fundo Monetário alerta entretanto que Cabo Verde permanece em alto risco de sobre-endividame­nto, por isso, o país deverá procurar o equilíbrio entre as necessidad­es urgentes da saúde e de desenvolvi­mento e o apoio à sustentabi­lidade da dívida.

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