Governo e FMI tropeçam na dívida pública
Há uma enorme confusão, com erros de palmatória pelo meio, relativamente aos rácios da divida pública/PIB apresentados pelo Governo. Não sabemos se por amadorismo, ou se por manipulação deliberada desse indicador, indicador este extremamente importante para a compreensão da situação macro-económica de qualquer país.
Como referem os pontos 4 e 5 da “nota de esclarecimento” do Governo, recebida pelo A NAÇÃO no dia 24 de Março (quarta-feira) e publicada nas páginas 10 e 11, o rácio divida pública/PIB é de 151% em 2020 e para 2021 “espera-se que este rácio se situe em 150,3% do PIB”. Dois dias depois, 26 (sexta-feira), surge o FMI a indicar o valor de 140,9% em 2020 e uma projecção de 138,7% para 2021. Afinal, de que dívida pública andamos a falar? Em quem acreditar?
No espaço de 48 horas, dois dias, em matéria de dívida pública temos o Governo e o FMI cada um a apontar na sua direcção. Um, o Governo, 151% em 2020 e 150,3% em 2021, e o outro, o FMI, 140,9% em 2020 e 138,7% em 2021. Convenhamos, são muitos desencontros para um país com a dimensão económica de Cabo Verde.
E mais: não é de hoje que se anda a brincar às dividas públicas em Cabo Verde. No Expresso das Ilhas, nº968, de 17 de Junho do ano passado, o antigo governador do BCV, Carlos Burgo, já tinha dito que “o nível da dívida pública, medido pelo rácio dívida/PIB é elevado. E a situação é ainda mais gravosa porque nem toda a divida pública está incluída nas estatísticas publicadas”.
Da parte do A NAÇÃO, e já agora, sem recurso a conselheiros desprovidos de idoneidade financeira e a peritos internacionais, pagos a peso de ouro pelo FMI, mas apenas à luz dos novos dados, nomeadamente, a recessão de 14% em 2020, tal como admitida pelo Governo e sufragada pelo FMI, corrigimos que o valor anteriormente indicado por nós já não é de 162% do PIB, mas sim de 166,3%. Desafiamos o Governo e o FMI a dizerem o contrário