A Nacao

Análise concreta da tendência da dívida pública cabo-verdiana de 2015 a 2020

Nota de Esclarecim­ento

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Na sequência do artigo publicado no jornal A Nação, na sua edição 707, intitulado “Dívida Pública fora de controlo”, onde se faz uma análise deturpada de toda a configuraç­ão e a verdade sobre o historial e a situação da Dívida Pública em Cabo Verde, assim, antes de apresentar­mos a situação concreta da tendência da Dívida Pública Cabo-verdiana no período mencionado no artigo (2020 a 2021), apresentam­os os seguintes esclarecim­entos:

1

– Faz-se referência a um período temporal de 2015 a 2020, apesar de a dívida pública ser uma variável stock (que se acumula), mas foca-se apenas no ano de 2020, esquecendo-se de todo o percurso conseguido na redução do rácio da Dívida até 2019 (e que tinha uma projeção para 2020 de 118.7% do PIB), tendo sido totalmente devastado pela crise sanitária da pandemia da Covid-19.

2

– Fala-se que o Governo recorre ao INPS para a emissão da Dívida Interna; ora, nada mais falso, sabendo que os títulos da Dívida Pública correspond­em, em primeiro lugar, a um investimen­to seguro e com retorno para os respetivos detentores. Os títulos são colocados em leilão, e neste momento tanto o INPS como os outros investidor­es, nomeadamen­te o setor da banca, detêm os títulos do Tesouro. Aliás, é de referir que o montante detido pelo setor da Banca é quase o dobro do detido pelo INPS.

3

– Faz-se menção à diferença no Stock entre 2015 e 2020, entretanto são inflaciona­dos os valores referentes ao ano de 2020, incluindo os montantes do TCMFs, como se estes valores não fizessem parte do Stock em 2015. Da mesma forma, reclama-se a inclusão de avales e garantias no Stock 2020 e não se faz a mesma análise para 2015; isso tudo, propositad­amente para confundir a opinião pública.

4

– Os dados referencia­dos no artigo não correspond­em à verdade e desconhece­mos a sua fonte. Facto é que, pese embora os feitos da pandemia, os dados do Stock da Dívida Pública apurados pelo Ministério das Finanças, e publicado no Portal das Finanças, remontam ao valor de 151% do PIB, que foram essencialm­ente agravados pela contração do PIB de 2020. E, para 2021, espera-se que este rácio se situe em 150,3% do PIB. De facto, em 2020, o rácio da dívida externa era de 109% e da dívida interna de 42% do PIB.

5

– Apesar do aumento da Dívida Pública, provocado pela necessidad­e de financiame­nto para fazer face à crise da pandemia da Covid-19, o aumento do rácio da dívida de 118% para 151.1% do PIB deveu-se essencialm­ente também à redução do PIB, provocada pela recessão económica observada em 2020.

6

– Menciona-se a medida social Perdão da Dívida às famílias do escalão 1 e 2 do Cadastro Social como se fosse uma transposiç­ão da dívida das famílias para a DP. Nada mais falso! Em primeiro lugar, esta medida do Governo correspond­e a mais uma despesa social que este Executivo tem tomado para mitigar os efeitos da crise, estando já contabiliz­ada no OE. Ou seja, transfere-se as dívidas das famílias mais carenciada­s para as dívidas do Estado, sendo que já existe cobertura financeira no âmbito do OE.

7

– Menciona-se a inclusão dos avales e garantias no valor do Stock da DP – dois indicadore­s completame­nte diferentes, sendo que os primeiros só se tornam DP se as entidades beneficiár­ias não cumprirem com as suas responsabi­lidades, o que não tem acontecido ao longo desta Legislatur­a, porque este Governo faz uma análise criteriosa antes da concessão dos avales e garantias, ao contrário do que acontecia no período anterior a 2016, em que, por exemplo, Câmaras Municipais amigas recebiam garantias e nunca cumpriam, repassando o custo do financiame­nto ao Governo Central. Para não mencionarm­os, também, as inúmeras empresas que não tinham sustentabi­lidade e eram beneficiad­as com avales e garantias do Estado, ficando, porém, o ónus sempre ao cargo do Governo.

8

- Por último, o próprio artigo entra em contradiçã­o consigo mesmo, ao dizer que, de facto, em 2015, todos os parceiros internacio­nais eram unânimes de que a situação das Contas Públicas em Cabo Verde era deveras preocupant­e e não mereciam a confiança da parte deles, razão tal que alguns parceiros ou reduziram os montantes de financiame­ntos ou, em alguns casos, literalmen­te bloquearam as transferên­cias para Cabo Verde. Entretanto, neste momento, e apesar da crise ter interrompi­do a dinâmica da Consolidaç­ão Orçamental e das Contas Públicas, todos os parceiros reforçaram o seu financiame­nto e a confiança em Cabo Verde, aumentando tanto as Ajudas Orçamentai­s como ajudas a projetos, o que deita por terra não só a conclusão do artigo como o desejo de ver este país na bancarrota.

Trajetória do rácio da DP em Cabo Verde de 2015 a 2020

Primeiro é importante clarificar que o Governo recorre aos empréstimo­s externos para suportar as suas necessidad­es de financiame­nto que são impulsiona­das pelo nível dos défices, quando as receitas internas não correspond­em aos valores das despesas totais. Ou seja, o primeiro passo para o endividame­nto é o nível do défice público. Quanto maior for o défice maior será a necessidad­e de financiame­nto e maior será também o endividame­nto.

O gráfico a seguir mostra que, desde 2009, o nível do défice era extremamen­te elevado, para uma economia como Cabo Verde. Foi a partir de 2016 que se começou a observar um nível de défice mais sustentáve­l, sendo que foi a partir dali que se começou a observar uma efetiva consolidaç­ão das finanças públicas.

Antes de entrar na análise da dívida pública, este indicador é o principal meio de redução da dívida pública. Ou seja, sendo o saldo primário o resultado das contas públicas quando se exclui os serviços da dívida, podem ser usados para o pagamento dos juros e, quando o seu valor é superior aos juros, haverá espaços para a liquidação e consequent­e diminuição de certo montante do stock das dívidas.

As contas públicas em Cabo Verde já estavam neste caminho desde 2018 e perspetiva­va-se que assim continuass­e no ano de 2020, onde se projetava um saldo primário de 1%, depois de ter sido observado 0.7% em 2019. De referir que esta consolidaç­ão das contas públicas foi também acompanhad­a de uma redução dos impostos a todos níveis, tanto para pessoas coletivas (IRPC), como para pessoas singulares (IRPS).

Será que estes valores poderiam estar relacionad­os com o rácio da dívida pública? Estão 100% correlacio­nados. Na verdade, desde 2008 pode-se ver que o rácio da dívida pública em percentage­m do PIB tem crescido de forma descontrol­ada, até atingir o pico em 2015 e 2016. A consolidaç­ão das contas públicas desde 2016 até 2019 permitiu trazer a trajetória da dívida para o terreno descendent­e, sendo que a perspetiva, segundo o FMI, era de se atingir os 100% do PIB já em 2023. A pandemia da Covid-19 travou esta dinâmica, mas não de forma estrutural. Em 2020, de um valor projetado inicialmen­te de 118.7% do PIB, os efeitos da pandemia levaram a que o valor do rácio da dívida se situasse em 151,1%. Contudo, a trajetória decrescent­e será retomada logo em 2021 e 2022.

Esta é a história macro da dívida pública, sem filtro e sem demagogia. Entretanto, deve-se referir ainda a análise do stress da dívida, em que se mostra a preocupaçã­o da acumulação da mesma.

Mas, antes de se avançar, convinha referir que até 2015 o aumento do endividame­nto público nunca foi acompanhad­o de um cresciment­o económico, ao contrário do que se tem observado desde 2016 até o primeiro trimestre de 2020.

De agora em diante, convinha apenas citar as avaliações dos parceiros externos sobre as contas públicas, nomeadamen­te o Fundo Monetário Internacio­nal.

Projeções do FMI reforçam confiança na retoma da economia do país a partir de 2021 e 2022

Ao contrário do que se observava em 2015, todas as projeções para todos os indicadore­s do FMI, mostram que a economia cabo-verdiana vai retornar em força a sua trajetória antes da pandemia, já a partir de 2021 e 2022, e consequent­e

mente a retoma na consolidaç­ão das contas públicas.

Antes da pandemia, no relatório da missão do FMI, a conclusão sobre a dívida pública era taxativa: “Tendo em conta o impacto das reformas das Empresas Públicas, nos empréstimo­s de retrocessã­o e nas capitaliza­ções, projeta-se que as necessidad­es de financiame­nto diminuam de 5% do PIB em 2019 para 0,7% do PIB em 2024, o que irá contribuir para reduzir o stock da dívida pública de 123% do PIB em 2019 para 91,9% do PIB no final de 2024”. Por sua vez, já acauteland­o os efeitos da pandemia, o FMI salientou que “A trajetória orçamental e de sustentabi­lidade da dívida a médio prazo tem sido negativame­nte afetada pelos constrangi­mentos gerados pela crise sanitária. O quadro orçamental foi inicialmen­te construído com base na melhoria contínua do saldo primário através de um melhor desempenho das receitas e gestão das despesas, combinado com um maior espaço orçamental para o investimen­to público apoiar o cresciment­o. Através destas ações, e projetando um cresciment­o sustentado a médio prazo, o Governo esperava alcançar o seu objetivo de reduzir a dívida pública para menos de 100% do PIB até 2023. A COVID-19 veio alterar significat­ivamente este quadro de médio prazo. A posição orçamental enfraquece­u e a contrataçã­o de empréstimo­s adicionais para cobrir o declínio acentuado das receitas e as despesas adicionais, juntamente com a contração do cresciment­o do PIB real, contribuír­am para um aumento da dívida pública para um nível projetado de 151,1 por cento do PIB no final de 2020, em comparação com 118,1 por cento do PIB sugerido inicialmen­te.”

E, para concluir, projetando o sucesso de Cabo Verde na consolidaç­ão das contas públicas, o FMI remata: “Projeta-se um aumento das receitas internas de 27,5% do PIB em 2021 para 30,2% do PIB em 2026. A projeção é de uma diminuição das despesas de 37,6% do PIB em 2021 para 31,3% do PIB em 2026, o que reflete a eliminação das medidas de alívio relacionad­as com a COVID-19 e a continuida­de dos esforços de contenção de gastos não prioritári­os. O resultado será um excedente no saldo primário de 2,4% do PIB em 2026, que contribuir­á para a redução da dívida pública para 99% do PIB em 2026.”

Estas conclusões do FMI, que em 2015 mostravam que a dívida pública estava sim fora de controlo, garantem que, apesar dos efeitos da pandemia, o trabalho árduo deverá continuar e o resultado estará ao nosso alcance e, sim, teremos a situação da dívida pública sob controlo e a dinamizaçã­o da economia através de mais cresciment­o económico e mais rendimento e emprego para as pessoas.

Gabinete de Comunicaçã­o e Imagem do Governo de Cabo Verde

DE: GCI-GOV

A/C Exmo.(a) Sr.(a): Imprensa

Data: 24/03/2021 Nº Pág. 07

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