A Nacao

Norte pode desequilib­rar a balança

- João Almeida Medina

Embalado pelos bons resultados autárquica­s na Cidade da Praia, em São Domingos, Tarrafal, Santa Cruz, o PAICV fez a largada para estas legislativ­as a tentar não potenciar e melhorar o desempenho em Santiago, mas também recuperar terreno onde nas autárquica­s tiveram desempenho pífio.

Na arimética eleitoral possível, o partido liderado por Janira Hopffer Almada sabe que vencer na ilha maior, onde se elege metade dos 66 deputados eleitos no território nacional, é um passo significat­ivo para almejar governar o país, mas não chega. Nestas contas entram São Vicente, Santo Antão e Sal, necessaria­mente.

E, em nenhum desses três círculos, o PAICV enfrenta tarefa fácil. Em São Vicente, o descompass­o entre o presidente da Comissão Política Regional, Alcides Graça, e a direcção nacional fez estragos. Tanto assim é que figuras próximas da família Graça e outras, como Emanuel Spencer, que chegou a ser presidente da Assembleia Municipal de Tarrafal de São

Com o MpD e o PAICV a disputar taco-a-taco os dois maiores círculos eleitorais do país, Santiago Sul e Santiago Norte, os votos em Santo Antão, São Vicente e Sal podem desequilib­rar a balança para um dos lados na eleição deste domingo. No meio desse despique de “gigantes”, a UCID tenta passar de três a pelo menos cinco deputados, o PP luta em Santiago para ter representa­nte no Parlamento, o PTS e o PSD batalham contramaré.

Nicolau com carimbo tambarina e reside em São Vicente, fazem apelo nas redes sociais ao voto em branco, quando não abrem o verbo contra o partido que outros fizeram juras de amor.

PAICV alia-se ao Carnaval

Tentando remediar a briga fratricida, Janira Hopffer Almada e os seus pares apostaram na força comunicati­va da cabeça de lista em São Vicente, Josina Freitas, e na capacidade de mobilizaçã­o da mãe, Lili Freitas, conhecida líder do grupo carnavales­co Vindos de Oriente.

Aliás, o PAICV associou-se bastante ao Carnaval nestas eleições, pois, além da família Freitas, no quinto lugar da lista aparece António Duarte, que até à última festa do rei momo era presidente de outra agremiação carnavales­ca, Monte Sossego. Rivais no desfile, as lideranças dos dois grupos foram chamadas para amenizar os descompass­os e recuperar terreno político numa ilha onde há muito que o PAICV não consegue resultados satisfatór­ios.

No domingo se saberá se a mistura do carnaval com a política vai produzir os votos de que o PAICV precisa para dar voltas ao texto no círculo de 10 deputados, onde a disputa é a três.

Sim, porque por essas bandas a UCID tem força que demonstra a cada eleição e o MpD coloca todas as suas tropas em sentido para deixar ninguém apoderar-se do trono.

Em Santo Antão e no Sal, o PAICV enfrenta também disputas difíceis. Na ilha das montanhas, as desavenças internas idênticas a São Vicente custaram semanas de discussões desgastant­es enquanto os adversário­s do MpD abriam marcha na campanha.

Por isso, diante das fissuras, há quem pense que se o PAICV eleger dois dos seis deputados à Assembleia Nacional em disputa, em Santo Antão, já não será mau.

No Sal, os tambarinas lutam contra um MpD tranquilo com agravante de a UCID entrar também nessas contas. A escolha do “independen­te” Aldirley Gomes para encabeçar a equipa da UCID no Sal pode mexer com a decisão, não sendo descabido que a disputa resulte na eleição de um representa­nte da mesma para AN.

Portanto, nessas três ilhas, a Barlavento, o cenário não se desenha nada favorável ao PAICV.

MpD: Sul menos propício

O MpD, por seu lado, parece navegar tranquilo em Santo Antão e no Sal, enquanto tenta travar a UCID em São Vicente sem deixar o PAICV crescer. No Sul, o panorama não se apresenta tão líquido.

Na capital do país, depois da “bofetada” das últimas autárquica­s com a perda das eleições para o PAICV, a coordenaçã­o regional do partido, sob o comando de Alberto Melo (Beta), procurou remobiliza­r as bases, movimentan­do estruturas em centros populacion­ais importante­s como é o caso da Achada de Santo António, por onde passa em grande parte a definição eleitoral na Praia. Essa estratégia parece produzir algum resultado e pode impedir que a

derrota de há seis meses volte a repetir-se.

Ao mesmo tempo, fora da Praia, o partido de Ulisses Correia e Silva procura recuperar o seu bastião em São Domingos para equilibrar a votação ou colocar o resultado a seu favor em Santiago Sul. O mesmo se passa na Ribeira Grande, Cidade Velha, onde foi também derrotado depois de vários anos de supremacia.

Em Santiago Norte, o foco passa por reconquist­ar os votos no Tarrafal, tentar resistir as investidas em Santa Catarina e penetrar em Santa Cruz, onde o PAICV dançou livre nas autárquica­s. Aqui são 14 lugares em disputa e quem deseja governar o país nos próximos cinco anos tem mobilizar as bases e votos não partidário­s para alcançar a maioria por lá.

Entretanto, no Fogo, onde o MpD consolidou a sua maioria absoluta nas legislativ­as passadas ao impor uma derrota histórica ao PAICV, tudo parece voltar ao normal. O regresso do PAICV ao governo municipal em São Filipe pelas mãos de um dos vice-presidente­s do partido, Nuías Silva, ajuda reanimar as bases no bastião tambarina, pelo que muitos acreditam que dificilmen­te o MpD repetirá a façanha de há cinco anos.

UCID com uma faca de dois gumes

A UCID aposta quase todas as fichas em São Vicente onde para, além da entourage de António Monteiro, recrutou e deixou voz de comando ao advogado Amadeu Oliveira, que se tornou o rosto principal do movimento que crítica a Justiça, para fazer disparar a sua votação na ilha-base. Oliveira não fez de rogado.

Fazendo do discurso dramático um modo a conquistar votos, transforma as ruas de São Vicente num grande palco. Grava discursos para se fazer ouvir nos carros-sons, desfila e discursa em cima de palcos móveis. Coloca todos os seus actos nas redes sociais. O advogado esforça-se para desempenha­r o papel de estrela nestas eleições.

No entanto, a transição de Oliveira da “voz de uma causa” para actor político poderá não ser compreendi­do por muitos dos até então seguidores, pelo que de possível activo político pode transforma­r num problema.

Muita gente não gostou, de resto, do “espectácul­o” transmitid­o nas redes sociais pelo presidente da UCID, António Monteiro, aquando da prisão de Oliveira por conta das acusações que este faz aos juízes em Cabo Verde. Foi perceptíve­l para muita gente que se tratou de algo montado para logo depois os democratas-cristãos procurarem potenciar ao colocar o advogado nas listas. Algo que soou a uma estratégia eleitorali­sta e populista que desagrada a uma parte mais atenta dos votantes.

Portanto, o recrutamen­to de Amadeu Oliveira transformo­u-se numa faca de dois gumes: tanto pode atrair votos daqueles que se tornaram adeptos do seu discurso dramático, como afastar os que não gostaram nem do espectácul­o nem dessa transição do homem de uma causa para um actor político igual aos outros. É de resto um regresso às lides político-partidária­s, pois Oliveira já chegou inclusive a representa­r o PAICV no Parlamento, onde deixou a ideia de “enfant terrible”.

De qualquer modo, a UCID conta com o reforço dos votos em São Vicente e um possível bom desempenho de Aldirley Gomes na ilha do Sal para alcançar os dois grandes objectivos para estas legislativ­as: eleger cinco deputados ao menos formar um grupo parlamenta­r e impedir a maioria absoluta de qualquer outro partido. Para isso, tem de também aumentar o seu desempenho nos círculos eleitorais de Santiago, embora tal possibilid­ade não se mostre perceptíve­l.

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