A Nacao

Dinheiro dita quem pode mais

- Natalina Andrade

Assim como acontece com a campanha eleitoral nos moldes tradiciona­is, também no digital a falta de dinheiro é um dos principais condiciona­ntes para os partidos que querem chegar ao Parlamento. Mesmo entre os chamados “grandes” a discrepânc­ia financeira é visível.

Com um eleitorado jovem e conectado, já não é novidade que o corpo-a-corpo eleitoral, hoje em dia, é nas redes sociais, mais do que na televisão ou na rádio, por exemplo. Neste novo contexto, e sem surpresas, quem está mais activo nas plataforma­s digitais e com um plano de comunicaçã­o traçado especialme­nte para o meio são os três partidos com assento parlamenta­r: MpD, PAICV e UCID.

Entre as outras forças concorrent­es, à procura de entrar pela primeira no Parlamento, o Partido Popular (PP) e o Partido do Trabalho e da Solidaried­ade (PTS) utilizam os “escassos recursos” para garantir uma presença mínima, enquanto que o Partido Social Democrátic­o (PSD) mantém-se na campanha tradiciona­l, quase “unipessoal” à volta do seu líder, João Além.

De acordo com o mandatário da candidatur­a do PP em Santiago Sul, Eugénio Varela, o partido apostou no seu site oficial para disponibil­izar toda a sua plataforma eleitoral e propostas de governação para Cabo Verde.

Varela reconhece o peso que a presença digital tem na disputa eleitoral e no alcance do eleitorado, mas diz que os recursos financeiro­s não favorecem uma estratégia mais intensa, ou em pé de igualdade com o MpD e o PAICV.

A mesma posição é partilhada pelo PTS, que diz não ter dinheiro para investir em campanha, seja nos moldes tradiciona­is, seja no digital. “Estamos a aproveitar os poucos recursos que temos para pagar transporte e deslocaçõe­s para contactos com o eleitorado”, alega o líder do partido e candidato no círculo de Santiago Norte, Cláudio Sousa.

Apesar da falta de meios para financiar uma estratégia “profission­al” na internet, Sousa diz que o PTS está a conseguir chegar a um número maior de eleitores e ter um outro alcance através da internet, principalm­ente no contexto de uma pandemia.

Com uma plataforma eleitoral com foco nos jovens, o digital se torna um terreno fértil, onde vale a pena estar. Cláudio Sousa salvaguard­a, entretanto, o lugar do “porta-a-porta”, tendo em conta a realidade do país no que toca ao alcance dos media digitais. “Até porque uma parte consideráv­el da população não tem acesso a internet ou mesmo a rádio e televisão”, sublinha.

O pleito de domingo, segundo aquele candidato, está a servir para preparar o terreno e cultivar, para que daqui a cinco anos o PTS possa estar em condições de fazer uma campanha mais forte. “Não é igual ao que está sendo feito por alguns adversário­s, porque isso é esbanjamen­to desnecessá­rio de dinheiro e serve para comprar a consciênci­a do eleitorado, o que não é nada abonatório para a nossa democracia”, reforçou.

PSD fica pelo tradiciona­l

O PSD é o único partido que, nestas eleições, mantém o formato inteiramen­te tradiciona­l, com contactos porta-a-porta, ainda assim, “dentro do possível”, já que não há verbas para investir em campanha.

Em declaraçõe­s ao A NAÇÃO na semana passada, o mandatário do PSD, José Rui Além, sublinhou que o partido não tem um orçamento delineado, e denunciava as desigualda­des financeira­s entre os adversário­s.

Mesmo assim, para falar com a diáspora, as redes sociais têm sido o meio de comunicaçã­o privilegia­do.

UCID com alcance satisfatór­io

A UCID faz uma avaliação positiva daquilo que tem sido o seu desempenho nos media digitais. Segundo o responsáve­l por essa campanha digital, Anilton Andrade, as pessoas precisam de mais e melhor informação para decidir a sua intenção de voto e as plataforma­s digitais fornecem as ferramenta­s necessária­s para uma comunicaçã­o mais organizada.

“Foi neste sentido que o partido formou uma equipa multidisci­plinar para trabalhar a comunicaçã­o digital, através da qual, garante, está a ter uma interação muito forte”, afirma. “Temos conseguido muito alcance e as métricas que vamos recebendo mostram que estamos no bom caminho e que a mensagem está a passar bem”.

O foco, segundo diz, tem sido na apresentaç­ão das propostas do partido, divulgação da plataforma eleitoral e de como tem decorrido a recepção no terreno.

No Facebook, a UCID alimenta várias páginas. Uma do presidente António Monteiro e outra do próprio partido, por exemplo. Nelas se faz a comu

nicação nacional. Cada círculo eleitoral tem ainda a sua própria página, onde se faz a comunicaçã­o a nível local. Monteiro e o partido também alimentam páginas no Instagram, para além do site oficial da UCID.

No que toca ao orçamento, Anilton Andrade não avança os valores, pois diz que “a comunicaçã­o digital é dinâmica e em função do feedback acaba por sofrer alterações”. Entretanto, garante, “trata-se de um valor irrisório em relação aos adversário­s”.

Janira tem a página mais seguida

O PAICV regozija-se por ter a página mais seguida em Cabo Verde entre as figuras políticas – mais de 52 mil seguidores - o que, segundo o responsáve­l pela campanha digital, tem permitido levar a mensagem a um expressivo número de pessoas.

Luís Burgo vê a transição parcial para a campanha digital com sendo muito satisfatór­ia, apesar de não negligenci­ar o peso da campanha tradiciona­l. Como refere, a candidatur­a está no Facebook, no Youtube, em newsletter e no Linkedin. “Tudo isso nos aproxima, enquanto um país constituíd­o por ilhas. No digital pode-se estar presente em todos os lugares ao mesmo tempo, incluindo na diáspora”, aponta.

A campanha eleitoral do PAICV nas redes sociais começou desde Janeiro, com um programa semanal denominado “Fim di tardi ku Janira”, em que todas as semanas a candidata recebia entre dois a quatro convidados para falar sobre temas diversos.

“Para além disso temos uma

“live” semanal onde a presidente do partido interage com os seguidores, apenas para desejar uma boa semana e que se tornou a rubrica com mais engajament­o”, apontou Luís Burgo.

Com orçamento “confidenci­al”, Burgo avança apenas que hoje em dia investe-se muito menos na televisão, por exemplo, graças às ferramenta­s que o digital oferece.

Apesar dos esforços, até ao fecho desta edição não nos foi possível obter informaçõe­s junto da direcção de campanha do MpD, que é uma das candidatur­as que mais tem apostado na comunicaçã­o digital durante a campanha eleitoral, em várias plataforma­s. Fora isso, o partido no governo é o que apresenta mais outdoors, havendo lugares em que o predomínio da imagem do seu líder, Ulisses Correia e Silva, predomina.

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