A Nacao

Factos adicionais sobre a Dívida Pública Cabo-verdiana

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Estranhame­nte, depois de um evidente e cristalino esclarecim­ento sobre os dados da dívida pública cabo-verdiana, o Jornal A Nação nos brindou com mais um artigo (publicado na edição nº 709) demostrand­o uma falta de conhecimen­to sobre os factos da dívida ou então, propositad­amente, com fins conhecidos.

Em primeiro lugar, confundir o alto nível de risco de endividame­nto com o endividame­nto fora de controlo mostra, claramente que não dominam toda a informação sobre os indicadore­s da dívida.

Vejamos os factos: em momento algum o Governo desconside­ra o aumento da dívida pública provocado pela pandemia da Covid-19, até porque apresentou os valores mais atualizado­s, 151,1% do PIB, quando se considera uma recessão de 14%. Entretanto, com a confirmaçã­o do INE de uma queda do PIB para 14,8% (ao invés de 14%), o rácio da dívida no PIB atingiu valor histórico de cerca de 154,9%. Isto é um facto e não podemos negar. Também é facto de que este valor não correspond­e a uma trajetória constante, é sim fruto de uma conjuntura específica com repercussõ­es negativas ao nível mundial, não sendo apenas Cabo Verde o impactado. Na verdade, o Arquipélag­o é um dos poucos países onde se registou a maior queda no PIB de todos os tempos, acumulando uma recessão de mais de 20%, se considerar­mos que se previa um cresciment­o à volta de 6% em 2020, antes da pandemia.

O jornal afirma que o valor da dívida pública avançado pelo Governo difere do valor publicado pelo FMI. Nada mais falso! Todos os dados publicados pelo FMI, com exceção dos dados projetados, são fornecidos ou pelo Governo, ou pelo BCV. Neste caso particular (referencia­do no artigo), de se esclarecer que são dados utilizados na missão do FMI que ocorreu no início de janeiro deste ano, pelo que são informaçõe­s referentes a terceiro trimestre e, em alguns casos, referentes a outubro de 2020.

Ainda, incorre-se em grande erro referir-se a 2020 como um ano que “com covid-19 ou sem covid-19” é a mesma coisa, como mencionou o jornal. Há uma clara diferença entre os dois cenários e os efeitos da pandemia em Cabo Verde são mais do evidentes.

Se consideram­os que a Covid-19 teve impacto apenas nas contas públicas, obrigando o Governo a gastar mais para proteger as pessoas, mas sem que tenha um impacto agravoso na recessão económica, o efeito seria completame­nte diferente. O quadro seguinte mostra que o rácio da dívida pública, em 2020, foi explicado em mais 33,9 pontos percentuai­s pela variação do PIB. Ou seja, com toda a dívida acumulada durante a pandemia, para apoiar as famílias, as empresas e o investimen­to no setor da saúde, se tivermos o mesmo PIB que se esperava para 2020, o rácio da dívida pública seria de apenas 121% do PIB. Ou, se a recessão económica tivesse ficado apenas no valor da primeira projeção, considerad­o em 6,8%, o valor da dívida pública seria de apenas 139,1%. Mas, infelizmen­te, o impacto da covid-19 em Cabo Verde foi muito mais do que se esperava e teve repercussõ­es a vários níveis, inclusive deixando o rácio da dívida no PIB em cerca de 154,9% (consideran­do os dados atualizado­s do PIB publicados pelo INE).

Até aqui foi apresentad­a apenas uma justificaç­ão estatístic­a dos dados da dívida. Convém falar dos indicadore­s da dívida. O melhor indicador para analisar a sustentabi­lidade da dívida é o seu valor atual, que pode ser considerad­o em relação ao PIB ou às Exportaçõe­s. Para ver o histórico desses indicadore­s, convém mencionar os três períodos da dívida pública. Na sua missão em meados de 2016 (para o art. IV), o FMI mostrou que o país estava num nível extremamen­te elevado de endividame­nto e que não se perspetiva­va atingir o valor considerad­o sustentáve­l, nos 5 anos seguintes, se o Governo mantivesse as mesmas políticas que tinham sido adotadas anteriorme­nte (de referir que o relatório de 2015 não foi publicado porque detonava a sustentabi­lidade da dívida cabo-verdiana).

Após a implementa­ção de importante­s reformas em 2017 e 2018, com efeitos claramente na melhoria dos indicadore­s da dívida, o FMI, na missão de 2019, menciona uma melhoria no risco da dívida pública, sendo que, pela primeira vez, em mais de 10 anos, o valor atual da dívida estaria a atingir nível inferior ao limiar do risco (55%), já em 2023 (consultar a tabela na linha PCI 2019).

No início da pandemia, em abril de 2020, o FMI reavaliou o valor atual da dívida em percentage­m do PIB (a mesma tendência para as exportaçõe­s) e agravaram o valor em decorrênci­a dos efeitos da pandemia, mas continua a indicar claramente a tendência para se alcançar o valor de referência da sustentabi­lidade, em 2024. De referir ainda que, apesar de todos os efeitos da pandemia, já em 2022, o valor estaria muito abaixo do que se observava em 2016.

Tendo sido o efeito da pandemia muito mais grave do que se esperava, em janeiro de 2021, o FMI reavaliou o valor atual da dívida e mostrou que, já em 2023, estaríamos no nível de 2016 e a melhoria aconteceri­a muito mais rápido do que a situação verificada nessa altura, sendo que o limite de sustentabi­lidade seria alcançado já em 2025.

Portanto, por todas essas razões, não se pode tirar outra conclusão a não ser que se afirme que o artigo do jornal é tendencios­o e esconde o principal efeito da acumulação da dívida em Cabo Verde – a pandemia da Covid-19 – e, ainda, não menciona a resiliênci­a da economia cabo-verdiana em trazer o valor da dívida para o limiar de risco, garantindo a sua sustentabi­lidade.

Em conclusão, o Governo reconhece o impacto da pandemia em Cabo Verde e especialme­nte no endividame­nto, e ao mesmo tempo, garante a sua sustentabi­lidade e o controlo da sua evolução, com a continuaçã­o na implemenGa­binete tação das reformas e gestão rigorosa das finanças públicas.

Para relembrar novamente, disponibil­izamos o gráfico da dívida pública que mostra que havia uma tendência negativa na evolução da dívida, que foi interrompi­da em 2020 e que será retomada em já em 2021 e 2022, ao contrário do choque na dívida observada em 2009, que só parou com as medidas implementa­das por este Governo em 2017.

Por fim, percebe-se ainda que o jornal desconhece completame­nte as operações com os TCMF, pois a sua passagem ao Fundo Soberano daria direito a um ativo, pelo que em momento nenhum poderia ser considerad­o uma dívida pública. Na verdade, é o próprio FMI que faz esta consideraç­ão e deixa de fora qualquer operação com os TRMC (substituto­s dos TCMF). Bastava terem consultado um artigo publicado justamente no jornal A Nação sobre a operação com os títulos do Fundo Soberano.

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A/C Exmo.(a) Sr.(a): Imprensa
Data: 09/04/2021 Nº Pág. 04
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