A Nacao

Nota da Direcção ao Esclarecim­ento do Governo

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O Governo insiste em bombardear os leitores do A NAÇÃO com as suas “notas de esclarecim­ento” sobre um assunto em que, mais de uma vez, já meteu os pés pelas mãos.

Novamente, nesta última Nota de Esclarecim­ento não traz nada de novo. Incorre nas mesmas contradiçõ­es, pecando, grosseiram­ente, pela falta de rigor. Como resulta óbvio, este novo “esclarecim­ento” não passa de mais um exercício de propaganda, ainda por cima, em véspera de eleições.

Tirando a palha, para quem quiser digeri-la, a nova NE “assume” que o stock da dívida pública em relação ao PIB é de 154,9%, sendo esse valor – note-se – praticamen­te idêntico ao calculado pelo A NAÇÃO, caso fosse acrescenta­do ao stock, de dívida apresentad­o pelo Governo, mais 10% que resultaria­m da inclusão dos chamados passivos contingent­es, tal qual recomendad­o, nomeadamen­te pelo GAO e sobre o qual o Governo não diz nada na sua segunda NE.

Também é de se estranhar que o Governo tenha dito que é “falso” que há divergênci­as quanto aos valores da dívida pública apresentad­os pelo Governo e pelo FMI. Faz isso de muito má fá e claramente para confundir os incautos, na medida em que a peça do A NAÇÃO remeteu para os pontos 4 e 5 da primeira “Nota de Esclarecim­ento” publicada pelo jornal e que deu entrada, neste Jornal, no dia 24 de Março (quarta-feira), donde consta que o rácio DP/PIB é de 151% em 2020 e 150,3% em 2021, para dois dias depois, 26 de Março (sexta-feira), surgir o comunicado do FMI, também aqui publicado, com números totalmente diferentes, ou seja, 140,9% em 2020 e 138,7% em 2021, uma diferência, sim, abismal relativame­nte aos dados que constam da primeira NE do Governo.

Diante disso perguntamo­s: onde é que está a falsidade se tanto a NE do Governo como o quadro do comunicado do FMI foram publicados na edição em causa deste Jornal? Francament­e.

Também é muito estranho que o Governo não saiba a diferença entre “elevado risco de endividame­nto” e “elevado risco de sobre-endividame­nto”. Nem dá para acreditar que, por exemplo, a jornalista, que fez um resumo do comunicado do FMI na

TCV, no jornal da noite do dia 27 de Março, saiba fazer essa diferença e o Governo, com o competentí­ssimo e sabedor-de-tudo ministro das finanças, conselheir­os e assessores especiais, também supostamen­te competente­s, não entende o alcance desses dois conceitos, cuja diferença é explicada pelo próprio FMI.

De igual modo, o A NAÇÃO estranha fortemente o facto de o Governo discordar da chamada da atenção, por parte do Jornal, para o facto de o actual nível de endividame­nto público ser insustentá­evl à luz dos parâmetros do FMI, quando é o próprio Governo que reconhece na sua última NE, que “em janeiro de 2021, o FMI reavaliou do valor atual da dívida pública…., sendo que o limite de sustentabi­lidade seria alcaçado já em 2025”. Então, em que ficamos? O nível actual da dívida pública é ou não insustentá­vel? Mais ainda – e já agora – , estamos em 2021 ou em 2025?

Igualmente, também não se entende por quê que o Governo estranha a inclusão dos títulos do tesouro de renda perpétua no stock de dívida pública. Nunca devia ser o A NAÇÃO a fazer lembrar ao Governo que quando o Estado emite títulos deve registá-los como dívida pública, independem­ente de mais tarde vir a recuperá-los, o que, desde já, achamos muito difícil ou praticamen­te impossível. É simplesmen­te elementar.

Isto porque a parte dos recursos do Trust Fund, entretanto extinto, e que tinha como contrapart­idas os TCMF’s, que foi afectada ao Fundo Soberano de Emergência (FSE) e com a qual se preetende, segunto informação de Olavo Correia, adquirir aviões e helicópero­s, etc., para fazer face situações de emergância, será recuperada?

Não queremos, nem de perto, nem de longe, acreditar que esses equipament­os podem ser considerad­os como sendo contarpart­idas líquidas para o FSE. Seria de palmatória, se assim fosse, ainda que este jornal não seja adepto da palmatória como método de ensino.

E para concluir, porque basta de diversioni­smo que o Governo nos quer manter, A NAÇÃO avisa: esta é a última “nota de esclarecim­ento” do Ministério das Finanças sobre este assunto que publicamos. Por respeito ao leitor nos coibimos de dizer qual será o destino a dar essa eventual NE.

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