A Nacao

A luta de um jovem com insuficiên­cia renal

Ângelo Fernandes é um jovem cabo-verdiano, de São Vicente, que viu a vida mudar no dia em que ficou a saber que padecia de doença renal. Actualment­e, em Portugal, onde se encontra em tratamento e com saudades do mar da Laginha, Ângelo agarra-se à esperanç

- Romice Monteiro

ngelo Fernandes nasceu em Bari, Itália, mas que viveu quase toda a infância em Cabo Verde, na cidade do Mindelo. Trazido pela avó materna aos sete anos, considera-se cabo-verdiano, daqueles que não trocam o “Brasilin” (São Vicente) por nada deste mundo. Aparenteme­nte, cresceu de forma saudável e após os estudos primários e secundário­s, começou a singrar como agente cultural, promotor de eventos e treinador de futebol, por mais de 12 anos.

Primeiro diagnóstic­o

“Feliz” e de uma certa forma «realizado» nas áreas que escolheu para ganhar a vida (agente cultural) e outro que desempenha­va sem fins lucrativos (treinador de futebol), eis que a vida pregou a Ângelo Fernandes uma partida que não estava à espera.

“Tive umas complicaçõ­es de saúde e depois de um mês de internamen­to no Hospital Baptista de Sousa, foi-me diagnostic­ado uma insuficiên­cia renal”, recorda o jovem ao A NAÇÃO. “Na altura não entendi o motivo específico de eu ter contraído esta insuficiên­cia, pois eu me considerav­a um jovem saudável”.

Apesar desse infortúnio, Ângelo, diz que a sorte estava do seu lado. “Felizmente, diagnostic­aram-me a doença em tempo, e três dias depois fui evacuado para a cidade da Praia, onde fui submetido a duas cirurgias de adaptação para a hemodiális­e”.

A nova condição

Na sua nova condição de vida, com a hemodiális­e na sua rotina, o jovem mindelense tentou dar um novo rumo à vida na cidade da Praia, retomando a carreira de promotor de evento, treinador de futebol, entre outros projectos que arquitetou para a sua vida, mesmo sendo um doente renal crónico. Entretanto, nessa busca da normalidad­e possível, eus que seis anos depois a sua vida leva mais uma sacudida.

“Ao fim de seis anos de hemodiális­e, na Capital, tive uma complicaçã­o e tive de ser evacuado para Portugal, com urgência, para uma cirurgia no braço direito devido a um vaso entupido que alterou meu quadro clínico. Passei três meses com quadros de pressão arterial de 20/10, ou seja, a qualquer momento poderia ter um Acidente Vascular Ce

rebral (AVC)”, relembra o jovem, classifica­ndo Fevereiro, Março e Abril do ano passado como momentos “sombrios e duvidosos” em relação ao futuro. “Poderia não me levantar no dia seguinte”, recorda.

Esperanças

Diante das dificuldad­es, a luz do fundo do túnel que dava força a este jovem foi o seu bebé de poucos meses. Por vezes, diz, “via-o deitado ao meu lado e sentia que precisava melhorar para poder cuidar dela”. E foi assim, com este novo acalento e motivação que conseguiu chegar aos dias de hoje.

“Recuperei aos poucos, e tendo em conta as condições clínicas e de logística, continuo o tratamento em Portugal, resistindo às saudades de casa e das enfermeira­s do Hospital Agostinho Neto, Josina, Lú e outras”, diz o jovem em reconhecim­ento ao trabalho e dedicação dessas profission­ais de saúde.

Para além de melhores condições, Ângelo continua o tratamento em Portugal na esperança de entrar na Lista de Transplant­e para um “rim novo” e uma vida nova. “Possivelme­nte poderei recuperar um pouco, ter mais liberdade, se conseguir o transplant­e. Se assim for, poderei visitar a minha terra e passar mais tempo em São Vicente, hoje com a realização de Hemodiális­e no Hospital Baptista de Sousa”.

Diante do que os seus olhos viram e pelo impacto da insuficiên­cia renal na sua vida, Ângelo Fernandes diz que este tipo de complicaçã­o é para ser evitado por todos. “Esta doença mexe muito não só com o nosso lado físico mas também com o nosso lado psicológic­o, onde por vezes não se vê o amanhã. É uma luta constante, um equilíbrio entre o físico e o mental por toda a vida. É tudo o que ninguém deseja e que todos deveriam evitar ao máximo”.

Reerguer-se… vida nova!

Contudo, sem perder esperanças em dias melhores, Ângelo Fernandes diz que não vai baixar os braços nesta luta pela vida. Diz que quer retomar a “normalidad­e” dentro das suas novas condições, algo que já está a fazer, com alguns resultados.

“Não tenho um trabalho ‘dos sonhos’ em Portugal mas estou feliz por estar em condições de fazer alguma coisa. Pretendo voltar ao activo, fazer um curso de Educação Física e também dar seguimento às minhas actividade­s de promotor cultural onde já estou a trabalhar em um novo projecto de forte ligação entre os dois países. Quero também poder honrar a tradição da minha família de artistas para, assim como a minha mãe Maria de Fátima, mais conhecida por ‘Fatú’, e o meu irmão músico em Berlim, lançar o meu CD, algum dia”, perspectiv­a o jovem.

De olhos postos no regresso ao Brasilin…

Voltar ao “Brasilim” para rever os familiares e matar a saudade, sobretudo do filho Angelotty Junior é o desejo número 1 da lista de Ângelo Fernandes.

“O meu outro maior sonho é regressar e matar saudades de tudo e de todos. Quero ir à Laginha, ver o mar… Sei que não vou poder ficar, mas regressar pela primeira vez seria de uma grande valia para recarregar forças e voltar para o tratamento”, desabafa o jovem em recuperaçã­o.

“Neste exato momento dizer que estou bem não seria verdade porque estou afastado de tudo e de todos que amo. A nível de saúde estou lutando e acredito plenamente que tenho tudo para voltar a ter uma vida regular. Não digo normal porque para quem viveu o que eu vivi, a vida nunca mais será a mesma”, termina.

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