A Nacao

Surdos com limitação de assistênci­a médica

- Ricénio Lima

A barreira da comunicaçã­o entre surdos e médicos tem sido a principal dificuldad­e desses utentes nas estruturas de saúde no país. Com a comunicaçã­o limitada, a assistênci­a médica a esses cidadãos fica, muitas vezes, comprometi­da. É neste sentido que estudantes de medicina da Uni-CV têm aprendido linguagem gestual para facilitar, futurament­e, o atendiment­o médico.

Adélcia Tavares é intérprete de linguagem gestual e tem por hábito acompanhar surdos nas estruturas de saúde. Entretanto, quando não o pode fazer, a assistênci­a médica aos surdos fica fortemente condiciona­da devido a barreira de comunicaçã­o entre o médico e o paciente.

Aliás, em todo o país, conforme adianta Adélcia Tavares ao A NAÇÃO, a barreira da comunicaçã­o é a principal dificuldad­e sentida pelos surdos que, na maioria das vezes, não possuem intérprete­s à disposição.

Questões íntimas, como as consultas ginecológi­cas tem também criado constrangi­mentos, quando as pacientes surdas têm a necessidad­e de recorrer a outras pessoas para facilitar a comunicaçã­o com o médico.

“Fico muito sensibiliz­ada quando isso acontece. Os surdos não se consideram deficiente­s, mas enfrentam as dificuldad­es de viverem numa sociedade em que precisam enfrentar barreiras de comunicaçã­o. Eles fazem muito esforço para nos compreende­r e nós não procuramos entender o que dizem”, diz Adélcia.

Para esta intérprete, os surdos só se sentem incluídos quando conseguem ser autónomos e isso passa por quebrar a barreira de comunicaçã­o, seja nas estruturas de saúde, seja na sociedade em geral.

Novos médicos, mais inclusão

É neste sentido que o Núcleo de Estudantes de Medicina da Universida­de de Cabo Verde tem promovido uma formação básica em linguagem gestual para os aspirantes a médicos.

Ministrada por Adélcia Tavares, os estudantes aprenderam a estabelece­r conversaçõ­es básicas em linguagem gestual. Uma Iniciativa aplaudida pela Associação de Surdos de Cabo Verde e pelos próprios surdos.

O objectivo, segundo o presidente do Núcleo, Edmilson Vaz, é também atribuir alguma privacidad­e aos surdos, nomeadamen­te em consultas íntimas, como as consultas ginecológi­cas e promover autonomia de surdos com os médicos.

É um primeiro passo para a promoção de uma medicina cada vez mais inclusiva e humanizada. É assim que vê a estudante de medicina Miriam Fatuda a formação em linguagem gestual.

“Há necessidad­e de todos os profission­ais de saúde aprenderem a língua gestual para a promoção de uma maior inclusão e uma medicina mais humanizada, já que a medicina focada no doente requer a conscienci­alização de que estamos a lidar com pessoas e devemos ser empáticos”, considera Miriam.

Leonardo Gomes, também estudante de medicina, diz que a capacitaçã­o em linguagem gestual tranquiliz­a os surdos que passam a sentir-se incluídos, com médicos capazes de entenderem os seus problemas e a mostrar que também fazem parte da sociedade.

Uma medicina humanizada, inclusiva e cada vez mais amiga dos direitos humanos é a preocupaçã­o deste Núcleo de Estudantes de Medicina da Uni-CV, constituíd­o há um ano.

Este núcleo representa todos os estudantes de medicina da universida­de e tem promovido, em crioulo, uma série de atividades de promoção da saúde e combate a doenças, com uma visão humanizada.

Este ano a Universida­de de Cabo Verde coloca no mercado de trabalho da primeira turma de medicina formada no país.

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Adélcia Tavares Edmilson Vaz
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