A Nacao

PAICV apoia Austelino Correia

- Daniel Almeida

Muito se tem especulado sobre a estrutura do próximo Governo da X Legislatur­a, mas, neste momento, o problema reside na composição da mesa da Assembleia Nacional. O MpD deve voltar a apostar em Jorge Santos como presidente da Casa Parlamenta­r, mesmo conhecendo o risco de o seu candidato ser chumbado. A NAÇÃO sabe que o PAICV apoia uma eventual candidatur­a de Austelino Correia.

Face à intransigê­ncia de Austelino Correia, que considera que agora é a sua vez de concorrer ao cargo de presidente da AN, Janine Lélis, que era a primeira escolha de Ulisses Correia e Silva para a segunda figura na hierarquia do Estado, acabou por desistir da disputa.

Como solução para este problema, o MpD resolveu repescar o presidente cessante, Jorge Santos, que, como já se sabe, corre o risco de ser chumbado na sessão plenária de 19 deste mês, data da sessão constituti­va da X Legislatur­a e de tomada de posse dos novos deputados eleitos no dia 18 de Abril. Jorge Santos, ciente das dificuldad­es que poderá ter na sua reeleição, preferia uma pasta no Governo, de preferênci­a a dos Negócios Estrangeir­os.

A NAÇÃO sabe que as lideranças dos grupos parlamenta­res do MpD e do PAICV deverão reunir-se na próxima segunda-feira, o mais tardar, para negociar a composição da Mesa da AN. A ideia é convencer o PAICV a apoiar Jorge Santos a troco do apoio do MpD à uma eleição de Janira Hopffer Almada para segundo vice-presidente da AN.

O partido no poder apresentar­ia os nomes de Jorge Santos para presidente e de Orlando Dias como vice-presidente, compromete­ndo-se em validar as candidatur­as do maior partido da oposição para os cargos de segundo vice-presidente e do terceiro secretário da mesa.

Conforme pudemos apurar, o PAICV ainda não decidiu se avança com o nome de Janira Hopffer Almada ou o de Rui Semedo para o cargo de segundo vice-presidente, sendo certo que João do Carmo será o nome escolhido para o lugar de terceiro secretário da mesa, até aqui a cargo de Américo Nascimento.

Porém, segundo uma fonte bem posicionad­a, por questão de principio, o PAICV não apoiará a candidatur­a de Jorge Santos. Esta solução de “repescar” o presidente cessante, no dizer de uma fonte deste jornal, pode ser “politicame­nte mais fácil” para o líder do MpD, mas “é péssimo em termos estratégic­os”, porquanto “sabe qual foi o desempenho do Jorge enquanto presidente, e sabe que o PAICV não vai aceitá-lo de ânimo leve”.

De recordar que Jorge Santos foi o presidente da AN que o PAICV, pela primeira vez, retirou a confiança política, por alegada falta de imparciali­dade na condução dos trabalhos parlamenta­res. Além disso, a UCID também tem contas a ajustar com deputado por Santo Antão.

Contudo, Austelino Correia pode surgir como uma solução para um eventual impasse entre o MpD e o PAICV em torno de Jorge Santos. Mas a grande questão, consoante o nosso interlocut­or, “o PAICV, hoje, não é mais um partido de palavra, pode assumir uma coisa hoje e fazer o contrário nos bastidores”.

“Apoiando uma eventual candidatur­a de Austelino Correia na eleição para o cargo de presidente da Assembleia Nacional, Janira Hopffer Almada aproveitar­ia a ocasião para infligir uma primeira derrota a Ulisses Correia e Silva no chumbo do seu candidato”, realça.

A nossa fonte considera, no entanto, que se Austelino avançar “ficará sempre em maus lençóis com o sistema MpD”, e explica: “Se eleito ele vai precisar do apoio do Governo para fazer qualquer coisa na Assembleia, tendo em conta que o orçamento é só no papel. Vai depender sempre do Ministério das Finanças para libertar dinheiro”.

Além disso, caso Austelino venha a perder nesse eventual braço de ferro com Ulisses, “ele ficará como deputado, ou não, mas a carreira política dele poderá ficar bloqueada nos próximos cinco anos”.

O nosso interlocut­or considera, por outro lado, que o líder do MpD “está a criar um proble

ma sério na Assembleia, correndo o risco de Jorge Santos não passar e, se o Jorge não passa ele tem que ir para a plenária para integrar o Grupo Parlamenta­r, ou Ulisses terá que tirá-lo de lá para pô-lo no Governo ou em algum sítio”.

Orlando Dias com mesmos problemas

Também o PAICV tem algumas reticência­s em relação à uma candidatur­a de Orlando Dias para o cargo de primeiro vice-presidente da AN, tendo em conta a atitude “quase sempre hostil” desse deputado em relação ao partido tambarina e aos seus principais dirigentes. “Em mais de uma ocasião ele mostrou o desprezo que tem por nós”, afirma.

A dúvida é se Orlando Dias, estando como vice-presidente do Parlamento poderia acumular as funções de deputado da CEDEAO. Conforme a nossa fonte, “não há qualquer incompatib­ilidade”.

Orlando Dias, que almeja ser presidente da Comissão da CEDEAO nas eleições que deverão ocorrer em Janeiro de 2022, teria, no entanto, de renunciar o cargo de vice-presidente da AN, caso for eleito no próximo dia 19.

Contudo, a nossa fonte considera ser pouco provável que um candidato proposto por Cabo Verde venha a assumir a presidênci­a da Comissão da CEDEAO, tendo em conta o facto de não ter resolvido o problema da dívida relacionad­a com a taxa comunitári­a. Além disso, tendo em vista os “custos” políticos e financeiro­s da presidênci­a da CEDEAO, esta é uma corrida que a Cidade da Praia está muito longe de poder suportar.

Mirceia na calha

A Mirceia Delgado, reeleita deputada pelo círculo de São Vicente, conforme uma das nossas fontes, também ambiciona o cargo de primeiro vice-presidente da AN. Essa ambição poderá, todavia, ficar comprometi­da uma eventual eleição de Jorge Santos, tendo em conta que os dois são da região norte do país, sendo além disso muito chegados.

“Um dos grandes argumentos do Austelino, que os seus pares lhes estão a colocar é que se o presidente da AN não pode ser ninguém de Santiago, ou seja, se tem de ser sempre de norte/centro do país”, realça a nossa fonte. No cargo, recorde-se, já estiveram Amílcar Spencer Lopes (São Nicolau), António do Espírito Santo (Santo Antão), Aristides Lima (Boa Vista) e Basílio Ramos (Sal).

Mas se Austelino Correia merecer a confiança dos deputados é quase certo que Mirceia Delgado deverá a primeira vice-presidente do Parlamento na X Legislatur­a que arranca na próxima quarta-feira, dia 19 deste mês.

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Austelino Correia

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