A Nacao

Escolha do presidente da AN agudiza disputa entre veiguistas e ex-PCD’s

Ângela Gomes: “O machismo e o sexismo não são barreiras para o meu triunfo na política” Governo serve de refúgio a dois “desalojado­s”

- Daniel Almeida

A indicação de Austelino Correia para o cargo de presidente da Assembleia Nacional (PAN) não foi nada pacífica e pode abrir mais uma ferida no seio do MpD. A rebeldia do novo PAN, apoiado pelo grupo parlamenta­r do PAICV, deixa exposta uma vez mais a liderança amorfa de Ulisses Correia e Silva.

Neste processo que culminou com a escolha de Austelino Correia para o cargo de presidente da Assembleia Nacional, quando Jorge Santos já tinha sido indicado pela Direcção Nacional do MpD para a sua reeleição, vem pôr a nu, uma vez mais, a disputa latente entre os veiguistas e os antigos dissidente­s que militavam no PCD, partido de Eurico Monteiro e Jorge Carlos Fonseca.

Segundo uma fonte bem posicionad­a, tanto Ulisses, como Fernando Elísio Freire, têm tido uma posição “dúbia” em relação aos “regressado­s” do PCD, que, na “surdina” tentam tomar conta do partido. É supostamen­te o caso de Jorge Santos, de quem Elísio Freire é cunhado.

Com a derrota de Óscar Santos, na Praia, nas últimas eleições autárquica­s e com a saída de cena de Jorge Carlos Fonseca, em Outubro próximo, o PCD, que “quer estar no centro do poder”, contava manter Jorge Santos como presidente da AN, e, assim poder ter pelo menos um “peão” na esfera de influencia­ção política.

Tudo indicava que o deputado cabeça de lista por Santo Antão renovaria o seu mandato como PAN, tendo em conta a sua indicação pelo Direcção Nacional do MpD e do facto desse partido contar com uma maioria absoluta no Parlamento. Sabendo disso, Austelino Correia nem sequer compareceu à reunião, preferindo jogar o que tinha para jogar fora desse fórum.

Como tínhamos avançado na edição anterior, o PAICV não apoiaria uma candidatur­a de Jorge Santos, como se veio a confirmar na primeira reunião da X Legislatur­a do Grupo Parlamenta­r desse partido, que assumiu claramente o apoio a Austelino Correia, que foi vice-presidente na anterior legislatur­a.

Sem o apoio do PAICV e na iminência de ser chumbado com os votos contra dos deputados do MpD afectos a Austelino Correia, Jorge Santos não teve outra alternativ­a e acabou por desistir da corrida ao segundo mandato como PAN.

Por outro lado, Austelino Correia, empurrado pela ala veiguista, sempre se manteve firme, desde o momento que aventou a possibilid­ade de Janine Lélis ser a candidata oficial do MpD para o PAN. Com a desistênci­a de Janine e com a repescagem de Jorge Santos, o cabeça de lista do MpD por Santiago Norte arregiment­ou as suas tropas, principalm­ente os deputados eleitos por Santiago Norte e parte do Sul, e fez frente à superestru­tura do partido, fazendo vincar a sua ambição de ser a segunda figura na hierarquia do Estado. No contar das espingarda­s o grupo contava com pelo menos oito deputados decididos a votar contra o candidato indicado pela Direcção Nacional, Jorge Santos, caso o seu nome fosse levado à plenária.

Mesmo com a retirada de Jorge Santos, Austelino Correia foi submetido a voto no seio da bancada do MpD. Dos 38 deputados, 23 votaram a favor do cabeça de lista por Santiago Norte, 11 votaram contra e quatro em branco. Os resultados mostram a clivagem existente neste momento na bancada do MpD e talvez em todo o sistema ventoinha.

Mas um dos principais derrotados nesse processo é o próprio líder do MpD, Ulisses Correia e Silva, que não soube ler os sinais que davam conta que Jorge Santos já não gozava nem de empatia nem apoio dos seus pares do Grupo Parlamenta­r, devido ao seu desempenho “sofrível” como presidente da casa parlamenta­r, marcado por gafes e atropelos ao regimento e à Constituiç­ão. O último desses atropelos foi a sua tentativa de cassar o mandato de António

Monteiro, da UCID, em plena sessão plenária, depois das eleições autárquica­s de Outubro do ano passado.

Contudo, Ulisses Correia e Silva, que, às pressas, teve que arranjar um lugar para Jorge Santos no Governo, justificou a retirada da candidatur­a desse deputado à presidênci­a da AN, com facto de o PAICV lhe ter rejeitado apoio. Antes, a ter que sair da Mesa da AN, Jorge Santos dera sinais que preferia ser ministro dos Negócios Estrangeir­os ou das Infra-estruturas, já que engenheiro civil.

Orlando Dias, nome proposto pelo MpD como primeiro vice-presidente da Mesa, foi chumbado na plenária da sessão constituti­va com apenas 36 votos favoráveis, menos um da maioria absoluta dos deputados em efetividad­e de funções. Perante esse chumbo, foi chamado o deputado Armindo Luz que foi eleito primeiro vice-presidente com 40 votos a favor.

Com a resolução desse problema no seio do MpD, a Mesa da AN ficou composta por Austelino Correia (presidente), que foi eleito com 64 votos favoráveis, mais um que o seu antecessor Jorge Santos, que obteve 63 votos a favor na anterior Legislatur­a, Eva Ortet (segundo vice-presidente), Georgina Gemiê (primeira secretária), Julião Varela (segundo secretário) e Anilda Tavares (terceira secretária).

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 ??  ?? Ângela Gomes
Ângela Gomes
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Austelino Correia
 ??  ?? Nova Mesa da Assembleia Nacional. Da esquerda para a direita: Anilda Tavares, Georgina Gemiê, Armindo Luz, Austelino Correia, Eva Ortet e Julião Varela
Nova Mesa da Assembleia Nacional. Da esquerda para a direita: Anilda Tavares, Georgina Gemiê, Armindo Luz, Austelino Correia, Eva Ortet e Julião Varela
 ??  ?? Ulisses Correia e Silva: um dos principais derrotados
Ulisses Correia e Silva: um dos principais derrotados
 ??  ?? Plenária chumbou Orlando Dias
Plenária chumbou Orlando Dias
 ??  ?? Jorge Santos vai para as Comunidade­s
Jorge Santos vai para as Comunidade­s

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