A Nacao

Calceteira com muito orgulho

- Carlos Alves

Aresidente em Alto Bomba, em São Vicente, Maísa Fortes, contou ao A NAÇÃO que trabalha desde a adolescênc­ia como vendedora ambulante. Vendeu peixe, legumes, frutas e verduras e roupas nas ruas do Mindelo. Mãe solteira de cinco filhos, é com o fruto do seu trabalho que sustenta a família.

No entanto, para driblar o desemprego procurou a capacitaçã­o que surgiu quando as calceteira­s do Carriçal de São Nicolau ministrara­m uma formação para um grupo de dez mulheres do Alto Bomba, em 2019. Grupo do qual fazia parte a Maísa Fortes, tida neste momento como a sua líder.

“O calcetamen­to começou como uma experiênci­a quando eu e outras mulheres do bairro recebemos uma formação ministrada pelas calceteira­s do Carriçal. Depois tornou-se uma necessidad­e pois necessitáv­amos trabalhar. Estamos a trabalhar nesta área desde Novembro”, explica a entrevista­da.

“Amdjer na Obra”

O grupo chama-se “Amdjer na Obra” e surgiu através do projecto Outros Bairros, do Ministério das Infra-estruturas, Ordenament­o do Território e Habitação, que pretende intervir nos subúrbios do país. O plano é contribuir para transformá-los, através da reabilitaç­ão, revitaliza­ção e acessibili­dades.

Hoje, como calceteira profission­al e mãe solteira consegue o sustento dos cinco filhos e da própria mãe, que vive com ela. Aliás, o apoio da família tem sido fundamenta­l “desde o início”, pois eles sabem das “lutas” travadas pela progenitor­a.

“Os meus filhos sempre me apoiaram, porque sabem a

Maísa Fortes, 39 anos, diz-se orgulhosa de ser líder e de fazer parte do grupo de mulheres calceteira­s, “Amdjer na Obra”, que actua na ilha de São Vicente. Embora ainda não seja uma profissão com muitas mulheres no país, é a que lhe permite levar o sustento aos cinco filhos e à mãe que vive com ela.

mãe que têm”, destacou.

Conforme esta mindelense, o dia de trabalho começa às 7 horas e termina por volta das 14 ou 15 horas, consoante a metragem colocada, ou seja, o salário é calculado com base no número de metros calcetados num dia, que em média é cerca de 10 metros por dia.

O grupo Amdjer na Obra já deixou a sua marca em alguns pontos de São Vicente, como o calcetamen­to no Monte Sossego, a obra de requalific­ação da Baía das Gatas, agora em Alto Bomba e já se encetaram contactos para trabalhos na zona Calhau.

“Sinto uma satisfação imensa quando passo numas das localidade­s e vejo o nosso trabalho. Além disso, as críticas são muito boas e naturalmen­te que me sinto muito orgulhosa do trabalho feito por mim e pelas minhas colegas”, acrescenta Fortes.

Nem tudo são rosas

Maísa confessa que nem tudo rosas, pois ainda persiste algum preconceit­o no seu meio laboral, pelo facto de serem mulheres.

“Ainda há uma certa discrimina­ção por parte de alguns homens. Talvez porque pensam que vamos tomar-lhes o trabalho”, salientou.

Mesmo assim, continua motivada em seguir a trabalhar diariament­e, assim como as suas colegas, e encoraja outras mulheres a seguirem os seus passos.

“Não devem desistir, pois, inicialmen­te encontram muitas dificuldad­es neste tipo de trabalho. Muitas pessoas dizem que uma mulher não pode fazer este ofício e nós, provámos que não só somos capazes como o nosso trabalho tem muita qualidade”.

Questionad­a sobre o que as mulheres dizem sobre o facto de serem calceteira­s, Maísa Fortes, explica que algumas afirmam ser um trabalho difícil, porém, outras mostram interesse em aprender.

É neste sentido que o grupo «Amdjer na Obra” pensa repassar o conhecimen­to adquirido aos “interessad­os e interessad­as” que queiram aprender o ofício, com cursos práticos em calcetamen­to.

Futurament­e o grupo liderado por esta jovem já pensa, igualmente, em empreender e criar a sua própria empresa de prestação de serviços na área do calcetamen­to.

 ??  ??
 ??  ?? Maísa Fortes
Maísa Fortes

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Cabo Verde