Covid-19 empobrece o “mercado” da moda em Cabo Verde
Kévin Daniel, estilista e agente de modelos, é actualmente um dos nomes que se destaca na moda em Cabo Verde.
Com a paralisação dos desfiles, a produção de colecções ficou para o segundo plano, com a covid-19 a colocar a nu as fragilidades de uma área em desenvolvimento no país.
Em alternativa, Kévin Daniel, retomou os planos de preparar e agenciar modelos cabo-verdianos para o mercado internacional. Um trabalho que, como diz, tem dado muito gosto ao estilista, que já tem contratos fechados com agências de Milão, Paris e Nova Iorque.
“Enorme potencial”
“Cabo Verde tem um enorme potencial. As agências ficam fascinadas pela beleza rara e única do nosso povo, cheio de talento e capacidade”, adianta Kévin.
Entretanto, no mercado nacional ainda há resistências para a solidificação de uma verdadeira indústria da moda, que valorize os talentos e garanta empregabilidade dos profissionais do sector.
“Trabalhar e viver da moda sempre foi difícil. A moda é muito incipiente em Cabo Verde. Não temos mercado, não há um número expressivo de designers e estilistas e não há união dos profissionais da área. Não podemos falar de um sector da moda porque exige um conjunto de profissionais ou profissões”, considera Kévin Daniel.
O responsável pela agência de modelos Ilhéus Fashion e também agente de modelos Hernani Moreira, parte da mesma opinião. Fala numa vontade embrional de fazer nascer, de facto, uma indústria cabo-verdiana da moda.
“Existe um enorme potencial a nível humano que necessita de ser promovido e desenvolvido, potenciando a formação nesse sector. A pandemia parou por completo a possibilidade de sonhar e desenvolver, por ora, o nosso mercado”, avança.
Para que o sector não fique parado, a Ilhéu Fashion, segundo Hernani, tem também formado e capacitado os modelos da agência e procurado novos talentos para o mercado internacional.
Falta de regulamentação
E para que se desenvolva, de facto, um mercado de
moda nacional, Kévin Daniel acredita que a primeira etapa passa por regulamentar o sector.
“Há que regulamentar o sector, nomeadamente das agências, pois muitas são ilegais e não fazem um trabalho sério, colocando em causa as demais que primam pelo rigor. A moda só é possível quando existem todas as condições, legislação e pessoas sérias a trabalhar em prol de um bem comum”, entende.
Esse estilista e agente de modelos pede também que os modelos sejam valorizados como profissionais com direito a salário.
Por sua vez, Hernani Moreira considera que Cabo Verde tem de acreditar e investir na moda, citando o papel do Estado na criação de mecanismos de promoção e divulgação da moda cabo-verdiana além fronteiras.