A Nacao

Violência reacende na Praia

- Silvino Monteiro

A violência urbana parece estar de volta na cidade da Praia. No último fim-de-semana foram registados vários casos de agressão com recurso a arma de fogo. Na Vila Nova, um jovem foi assassinad­o a tiro. E na Calabaceir­a foi registado um tiroteio em plena luz do dia envolvendo um agente da Polícia Nacional na reforma.

Gelson Patrick, 28 anos, foi morto a tiro no início da noite de domingo, 6, na Vila Nova, supostamen­te na sequência de uma briga de grupos rivais daquele bairro da cidade da Praia. O presumível autor do disparo, que atingiu Patrick no peito, é outro jovem de 21 anos que vive no mesmo bairro.

Segundo relatos dos moradores, tudo aconteceu na sequência de uma rixa entre grupos da mesma zona. Antes do incidente mortal, Gelson Patrick teria agredido um outro jovem, amigo e alegadamen­te pertencent­e ao grupo do suposto autor do disparo, que decidiu se vingar da agressão.

A vítima foi socorrida e levada para o Hospital Agostinho Neto, mas não resistiu aos ferimentos e acabou por falecer a caminho do hospital. O suposto agressor já foi capturado pela Polícia Nacional e apresentad­o às autoridade­s judiciais.

No passado dia 23 de Maio, o jovem Ailton Teixeira foi também morto a tiro na Achada de Santo António, também alegadamen­te por elementos de grupos rivais. Nalguns bairros, mal a noite chega, as ruas são tomadas por disputas entre bandos rivais.

Polícia reformado aos tiros

Na Calabaceir­a, no domingo 6, por volta das 16 horas, viveu-se momentos de muito terror devido um tiroteio e arremesso de pedras envolvendo um agente principal da Polícia Nacional na reforma e alguns moradores. As imagens captadas pelos moradores e divulgadas nas redes sociais demonstram o ambiente de ferro e fogo vivido na Calabaceir­a.

Num dos vídeos, o agente da PN referencia­do pelos vizinhos como sendo uma “pessoa conflituos­a” e com várias queixas e processos a decorrer na justiça, aparece a disparar vários tiros ao mesmo tempo que também era alvo de pedradas e disparos. Uma situação que deixou muiÇÃO, ta gente com medo e revoltada, uma vez que um dos envolvidos era agente da PN.

Explicaçõe­s da PN

A Polícia Nacional veio mais tarde explicar o incidente com troca de tiros envolvendo um agente reformado. Conforme avança a Inforpress, o porta-voz do Comando Regional de Santiago Sul e Maio, Nataniel Silva, confirmou que “de facto há já algum tempo que este agente tem tido conflito com vizinhos”, e que inclusive “várias participaç­ões” já foram feitas a nível interno e nas instâncias judiciais.

“Conflitos de vizinhos que a polícia não tem muito por onde trabalhar, a não ser através das instâncias judiciais”, disse.

Nataniel Silva explicou ainda que o agente estava a reagir a uma agressão, na sequência de uma abordagem feita junto de um grupo de jovens que alegadamen­te estava a consumir estupefaci­entes na frente da sua residência, naquela zona.

“Este policial avisou o grupo no sentido de pôr cobro a esta prática e acabaram por ter um comportame­nto agressivo e por agredir o senhor à pedrada”, apontou.

O subcomissá­rio sublinha ainda que, no momento passava um carro-patrulha da PN, que se encontrava nas imediações, e que se deparou com esta situação, tendo assistido o agente reformado, na tentativa de localizar os agressores.

“Até este momento não foi possível a localizaçã­o dos agressores para fins processuai­s. Já o senhor, agente na reforma, foi assistido no hospital e depois regressou à sua residência com direito à apresentaç­ão da sua queixa para que o Ministério Público, enquanto titular de acção penal, possa instaurar um processo-crime contra os agressores”, explicou.

Advogada dos jovens refuta as acusações

A advogada Giselda Rodrigues, em conversa com A NAdiz que a versão da história apresentad­a pela Polícia Nacional não correspond­e à verdade, uma vez que foi o agente em causa que agrediu o seu cliente José Nilton, mais conhecido por “Wilson”, com pontapé nas costas, quando este estava falar ao telefone em frente a sua casa. Por isso, avança que vai entrar com queixa de tentativa de homicídio contra o referido agente.

Aliás, Giselda Rodrigues avança que já tinha entrado com uma queixa-crime contra o referido agente em Agosto de 2020, por ameaça e sequestro de um irmão de José Nilton, mas que até agora estão à espera de um despacho da Procurador­ia.

“O agente em causa é tido como uma pessoa conflituos­a com os vizinhos, mas ele implica-se mais com os dois irmãos. No passado domingo voltou novamente a agredir José Nilton com pontapé nas costas e quando lhe perguntou porquê que faz isso, respondeu que não quer vê-lo à sua frente”.

Conforme a advogada, na sequência disso gerou-se a confusão “tendo o agente inicialmen­te sacado de uma navalha que trazia no bolso para agredir Nilton e depois puxou uma pistola e desferiu uma coronhada na cabeça da irmã de Nilton, que tentava inteirar do que se passava, e depois começou a disparar em várias direções, conforme demonstra o vídeo”, conta.

Segundo a advogada, a vítima foi fazer curativo no hospital e apresentar queixa na Polícia, acrescenta­ndo que a polícia foi ao local, mas que não disse nada ao seu cliente. “Limitaram-se apenas a recolher os invólucros das balas e levaram o agente para o hospital para receber curativo por causa das pedradas que recebeu”.

Portanto, estes são mais alguns casos que engrossam as estatístic­as da violência urbana na capital do país.

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