Tatuagens ganham cada vez mais força entre os cabo-verdianos
As tatuagens foram, ao longo do tempo, bastante discriminadas. Apesar do preconceito que ainda existe, essa forma de expressão vem conquistando o seu espaço. Gringo, Tijoll e Tony L-square são três tatuadores que dão cartas em São Vicente e na ilha do Sal.
Sandro Leite, Ildo Andrade e António Lopes – Gringo, Tijoll e Tony L-square, respetivamente – são três tatuadores muito conhecidos e requisitados na região de Barlavento. Além da paixão comum, os três mudaram de profissão, para serem tatuadores a tempo inteiro.
Enquanto que Gringo dedica-se a tatuagens a preto, como tribais e moris, Tijoll destaca-se pelas tatuagens realistas, ao passo que Tony L-square se aventura pelas tatuagens aquarela, pontilhismo, lettering, preto e cinza e arte livre.
Para muitas pessoas, tatuagens são apensas rabiscos ou então um desenho muito lindo. Contudo, para Gringo, 33 anos, tatuador profissional há seis anos e natural de São Vicente, a tatuagem tem a ver com a autoestima.
“Muitas pessoas utilizam-na para disfarçar algo em relação ao físico, como estrias, cicatrizes de queimaduras ou operações”, e a tendência, garante, tende a aumentar consideravelmente.
“Recentemente tive uma cliente de 67 anos para a sua primeira tatuagem. E acredito que daqui a uns anos a pergunta ‘você tem uma tatuagem?’ vai se transformar na pergunta ‘porquê você não tem uma tatuagem?’. Essa geração mais nova é mais decidida e a tendência é sempre aumentar”, conta Gringo entre risos.
Por sua vez, Tony L-Square, também 33 anos, natural de Santo Antão e residente em São Vicente, classifica esta arte como uma troca de experiência e uma forma de fazer parte da vida de muitas pessoas.
“É uma forma de deixar a minha marca. Além de mudar a vida dos meus clientes, elas mudam a minha também, pois desde 2019 deixei o meu emprego fixo para me dedicar exclusivamente a esta arte, já tatuei várias pessoas”, conta o artista que na sua lista de clientes tem os nomes de Ceuzany, Jenifer Solidade, Kiddye Bonz, o ministro da Cultura, Abraão Vicente, entre outros.
Preconceitos
Na opinião de Gringo, o preconceito em relação à tatuagem, entre os cabo-verdianos, já foi mais acentuado, contudo, ainda não foi erradicado de todo.
“Muitas pessoas preferem fazer tatuagens em locais escondidos exactamente para não se sentirem de algum modo prejudicadas, devido aos padrões da nossa sociedade. Neste caso, a barreira já é criada pela própria pessoa. Mas há sempre aqueles que fazem mesmo assim, preferem arriscar”, esclarece.
Tijoll, de 24 anos, natural de Santo Antão e residente na ilha do Sal, começou a trabalhar efectivamente como tatuador
profissional em finais de 2018. Ele próprio possui várias tatuagens em seu corpo e revela que ele mesmo já foi vítima do “olhar preconceituoso” da nossa sociedade.
“As pessoas pensam que quem tem tatuagens é bandido ou drogado. É uma ignorância julgar as pessoas pelas tatuagens que apresenta. É desnecessário”, considera Tijoll.
Evolução e dificuldades
Os três tatuadores, entrevistados pelo A NAÇÃO, sublinham que Cabo Verde está cada dia melhor a nível de tatuadores, com “trabalhos espectaculares” e com “a mesma qualidade que se vê nas tatuagens feitas no estrangeiro”.
“Antes eram poucas pessoas na profissão, com materiais bastante precários, espaços nada indicados, muitos improvisos. Agora já temos muitos estúdios, garantindo segurança e higiene dos clientes”, observa Gringo.
Tijoll complementa, apelando directamente à consciência dos iniciantes da profissão, face aos descuidos na hora de tatuar que podem colocar em perigo a saúde das pessoas.
“Eu considero que comecei de maneira errada. Mas, hoje, já temos todos os materiais, temos mais informações, há tatuadores que já estão no mercado, a quem sempre se pode pedir dicas. A tatuagem pode transmitir doenças, então é preciso ter muita precaução e higiene. Há que garantir segurança dos clientes”, elucida.
Quando o assunto são as maiores dificuldades enfrentadas pela classe, há um consenso: falta de materiais disponíveis em Cabo Verde ou então a falta de fornecedores no país o que também dificulta o trabalho.
“Além de não termos fabricantes, não temos fornecedores de materiais. Tudo é comprado em stock e com antecedência. Nestes tempos, por causa da covid-19, tivemos muitos problemas, pois os correios pararam de funcionar. Mas agora já está tudo normalizado”, expõe Gringo.