A Nacao

Cabo Verde sob pressão da Dívida Pública

- Daniel Almeida

Cabo Verde confronta-se, neste momento, com uma dívida pública que ultrapassa os 150% do Produto Interno Bruto. O Programa do Governo propõe reduzir o rácio desse indicador para 100%, a médio prazo. Enquanto isso, o Grupo de Ajuda Orçamental (GAO) pede maior transparên­cia na dívida pública e limitação do apoio da dívida ao sector empresaria­l estatal.

OPrograma do Governo, que será apreciado, segunda-feira, 14, na sessão plenária especial do Parlamento para a aprovação da Moção de Confiança do VIII Governo Constituci­onal, assume o compromiss­o de garantir a sustentabi­lidade da dívida pública.

Para o efeito, promete desenvolve­r políticas de endividame­nto “prudentes”, com “alto grau de concession­alidade”, de modo a reduzir, a médio prazo, o rácio da dívida pública/PIB para menos de 100%.

No documento, que será subdo metido aos deputados, o executivo de Ulisses Correia e Silva afirma que o alívio da dívida publica “é uma iniciativa emergencia­l fundamenta­l para colocar o país no caminho do desenvolvi­mento sustentáve­l”.

Recorda que em Julho de 2019, a cidade da Praia assinou com o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) um PCI (Instrument­o de Coordenaçã­o de Políticas) para apoio aos objectivos de médio prazo para a sustentabi­lidade fiscal e da dívida e para reformas de reforço do cresciment­o económico.

“A avaliação do desempenho PCI foi considerad­a positiva mesmo tendo em conta o contexto da pandemia da COVID 19”.

O Governo considera ainda que, apesar das secas severas, a economia cresceu a um ritmo de 5% até 2019, que encerrou com uma taxa de cresciment­o de 5,6%. O défice orçamental situou-se abaixo dos 3,0% do PIB e a dívida pública diminuiu de 127,8% do PIB em 2016 para 124,2% do PIB em 2019.

Contudo, conforme o Programa do Governo, “com a diminuição esperada da actividade económica em cerca de 14%, o endi

vidamento para fazer face à queda nas receitas e o aumento das despesas com a covid-19, a dinâmica da redução da dívida pública foi interrompi­da e o stock da dívida em relação ao PIB passa de 124,1% em 2019 para cerca de 151,1% em 2020”.

Novo PCI para aliviar dívida pública

Para reduzir a dívida pública, o Governo pretende continuar a contar com o FMI para um novo PCI que suporte as políticas e as reformas orientadas para o alívio da dívida pública, particular­mente da dívida externa.

O executivo pretende, igualmente, usar os recursos libertos pelo serviço da dívida para financiar programas plurianuai­s com impacto em transforma­ções estruturai­s que tornem o país mais resiliente e com uma economia mais diversific­ada.

“As prioridade­s centram-se no desenvolvi­mento do capital humano, na transição energética, na estratégia da água para a agricultur­a, na transição digital, na economia azul e num turismo mais sustentáve­l e seguro. São prioridade­s enquadrada­s na Agenda Cabo Verde Ambição 2030 e que visam atingir os ODS”, realça.

O Governo reconhece que no contexto de Cabo Verde em que o regime cambial é fixo, a política orçamental “assume um papel de grande importânci­a” na estabilida­de macroeconó­mica e no desenvolvi­mento sustentáve­l do país.

Aposta forte na coordenaçã­o económica

“Sendo assim, o Governo assume o compromiss­o de continuar a apoiar as reformas orçamentai­s assumidas no Plano Estratégic­o de Desenvolvi­mento Sustentáve­l (PEDS) e reforçadas no Policy Coordinati­on Instrument (PCI) assinada com o FMI em meados de 2019. Assume a imperativi­dade da aposta forte na coordenaçã­o económica visando o cresciment­o, para se conseguir resultados significat­ivos na consolidaç­ão orçamental”, realça.

De acordo com o Programa do Governo, o executivo de UCS continuará as acções que melhorem a eficácia da administra­ção tributária através do combate à evasão fiscal e no alargament­o da base tributária.

“Assume a meta de elevar as receitas fiscais a 24,6% do PIB em 2026 e a aposta na digitaliza­ção e medidas de racionaliz­ação das isenções, aliadas a ações de combate ao gap na arrecadaçã­o, fundamenta­is para sustentar esse objetivo”, enfatiza.

De acordo com o Programa do Governo, Cabo Verde possui como principais riscos macro-fiscais, a emergência da pandemia da covid-19 que impacta negativame­nte o sector do turismo e as demais cadeias de valores conexas, os efeitos das alterações climáticas e a situação das empresas públicas.

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