A Nacao

“O mais importante é procurar um mentor para que se possa aprender” o xadrez de forma correcta: com disciplina, metodologi­a e objetivos”

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Como começou a jogar xadrez?

Foi através do livro “ABC do Xadrez”, de Petar Trifunovic, após o ter visto num desenho animado do “Pato Donald”, onde tentavam convencê-lo de que é possível gostar da matemática, pois esta encontra-se presente em tudo na natureza, bem como as artes, arquitectu­ra, e mesmo nos jogos, como o xadrez.

‘Devorei’ o livro em poucos dias e ensinei os amigos da minha rua e aos meus primos a jogarem, por forma a ter o máximo de adversário­s possíveis.

Com 34 anos considera-se um veterano no xadrez? E como foi a sua evolução?

Sim, posso considerar-me um veterano no arquipélag­o. Comecei a jogar torneios oficiais com 17 anos, contra oponentes e campeões de renome com o dobro da minha idade. Dos 13 aos 19 evoluí rapidament­e e tornei-me o jogador mais forte de São Vicente na altura.

Depois dos meus 22 anos, a forma como praticávam­os e fazíamos torneios de xadrez mudou-se radicalmen­te com a introdução de diretrizes internacio­nais. Porém, sofremos uma terrível estagnação em 2010 e até 2016, período em que abandonei o xadrez.

Estilo de jogo e preparação dos torneios Como caracteriz­a o seu estilo de jogo?

Até aos 20 anos, era considerad­o um jogador com um estilo agressivo, lançando ataques violentos ao rei, mesmo à custa de sacrifício­s de peças pesadas.

Depois passei a ser estratégic­o e posicional, tentando acumular pequenas vantagens para ganhar nos finais.

Hoje posso adaptar-me facilmente às circunstân­cias de jogo, e dependendo do ‘feeling’ e do adversário, decido qual será o estilo a aplicar ainda antes da partida.

Como se prepara para os torneios?

Isso varia conforme o nível e do interesse que tenho no torneio. Não possuo um método específico de preparação, mas, normalment­e, gosto de tirar férias para participar das competiçõe­s.

Cerca de duas semanas antes, faço uma revisão de algumas teorias de finais de partidas, noções estratégic­as e dou uma especial atenção a exercícios de treino de cálculo e de como avaliar uma posição.

Nas vésperas do torneio, dedico-me à resolução de exercícios de tática e preparação teórica das aberturas que pretendo executar.

Quantas horas treina?

Só treino devidament­e nas datas próximas dos torneios, três ou duas semanas antes, começo por dedicar cerca de duas horas por dia. As horas de treino aumentam com o aproximar da competição.

Qual foi a partida mais memorável?

Foram muitas. Ter vencido o número três de São Vicente em apenas sete lances quando tinha 17 anos, é uma delas. Também recordo com grande satisfação da última partida contra o veterano Daniel “Nhela” Lopes (São Vicente), que me garantiu o 1.º lugar no torneio da ISECMAR 2005.

Jerry Andrade Rosa: um verdadeiro rival Actualment­e que xadrezista­s considera como os seus maiores rivais?

Há uma meia dúzia de jogadores em relação aos quais tenho que ter muito mais atenção e fazer uma preparação específica antes da partida.

Mas se há quem eu possa considerar um verdadeiro rival, seria Jerry Andrade Rosa (Praia), que tem um ‘score’ contra mim de 46 por 20, na plataforma ‘online’ Lichess.

A maioria desses embates foram partidas ‘bullets’ de um a dois minutos, mas foram o suficiente para perceber o alto nível de conhecimen­to teórico que ele possui. Estranhame­nte nunca participou em nenhum torneio oficial de partidas clássicas, nem sei se é federado.

Mulheres a jogar xadez Há mulheres a jogarem xadrez? Quem?

Em Cabo Verde já temos atletas femininas no xadrez, inclusive atletas que já representa­ram Cabo Verde em torneios internacio­nais em Marrocos e São Tomé e Príncipe: Célia Rodriguez, Amanda Martins, Katlhene Martins, Divania Spínola, Honorina Santana e Janice dos Reis (ilha do Sal). A Jacira Almeida e a Loide Gomes (cidade da Praia), a Carolina Carapinha (São Vicente),

entre outras.

Quem é o melhor jogador da história e os melhores da actualidad­e? Tem algum ídolo?

Nunca estudei a fundo nenhum grande jogador da história. Mas são uns quantos, a meu ver. Cada um com a sua genialidad­e: gosto muito das partidas de Capablanca, pela sua capacidade de evitar compilaçõe­s e simplifica­r a partida de um modo científico. Foi o melhor jogador de finais.

Também admiro Karpov e Petrosian devido ao estilo posicional e estratégic­o. Paul Murphy, Alekhine, Kasparov e Judith Polgar, devido ao estilo agressivo.

Em Cabo Verde, aprecio o veterano Luís Fernandes, António Monteiro, David Anes, Sidney Spínola, o actual campeão nacional e Mariano Ortega e, a sua esposa, Célia Rodriguez.

Conselhos

O mais importante é procurar um mentor para que se possa aprender o xadrez de forma correcta: com disciplina, metodologi­a e objetivos. Caso estiverem a aprender sozinhos, aconselho a começarem pelos estudos de finais de partidas, aliada à compreensã­o estratégic­a, pois é aí que reside a parte científica do jogo.

Qual seria a melhor abertura que aconselhar­ia para garantir um jogo posicional?

Por um lado, o jogador deve interioriz­ar os princípios básicos das aberturas: controlar o centro, manter o rei seguro, colocar os cavalos em boas casas centrais, dominar as colunas abertas, fazer um desenvolvi­mento rápido e eficaz das peças, evitando jogar duas vezes com a mesma peça na abertura.

Por outro, deve tentar encontrar uma abertura que mais se aplica ao seu estilo de jogo e escolher duas de brancas e duas de pretas para aprofundar, dando especial atenção às ideias estratégic­as e analisando partidas de Grandes Mestres que jogam essa mesma abertura.

Que outra modalidade praticaria se não fosse um jogador de xadrez?

Artes marciais. Na verdade, qualquer desporto que exigisse muita competição e adrenalina.

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