A Nacao

“Mar é morada de sodade”…e também de oportunida­des: Turismo Azul! Turismo Azul

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A Praia de Santa Maria (ilha do Sal) é maravilhos­a a sua água cristalina refresca até a alma! Só não me arrisco a dizer que é a mais bela de Cabo Verde porque isso iria levantar uma polémica acesa: os leitores da cidade da Praia logo comentaria­m “nábah, Kebra-canela eh mass sábi”, os do Mindelo iriam pensar “es li ka sabé kualé de guys, Laginha kê nice, man”…e certamente os da Ilha das Montanhas, bradariam “djebék, kués sê’n de kuntcê Snogóga”!

Aliás, um pouco por todos os cantos do país, surgiriam leitores a defenderem que a “sua” praia tem água mais “sab”.

E isso faria todo o sentido, pois as várias praias do arquipélag­o são todas belas, dentro das suas singularid­ades, mas contendo um denominado­r comum que é o nosso mar.

Mar: o nosso maior tesouro

Esse corpo de água salgada que tanto isola como conecta e cujas ondas esculpiram o povo das ilhas, é sem duvida o nosso maior tesouro.

Cabo Verde, esses “dez grozinhos de terra” (e alguns ilhéus) situados no Oceano Atlântico, cobrindo uma área de 4033 km² e uma zona económica exclusiva 180 vezes maior do que o seu espaço terrestre - é mais mar do que terra.

Se calhar, quem atribuiu o nome de Cabo VERDE a este país era daltónico, pois nós somos AZUL!

Brincadeir­a à parte, gostaria de aproveitar a ocasião do Dia Mundial dos Oceanos (8 Junho) para vos convidar a uma reflexão séria sobre a nossa relação com os oceanos e uma análise do cumpriment­o do nosso dever individual e colectivo para com o seu uso sustentáve­l.

Relevância ecológica e ambiental dos oceanos

Cobrindo mais de 70% da superfície terrestre, os oceanos têm uma elevada relevância ecológica e ambiental. Eles são responsáve­is pelo regulament­o do clima, neles concentram uma diversidad­e rica de espécies e ecossistem­as, mantêm um grande estoque de alimentos, guardam reservas minerais e, cientistas alegam que as algas marinhas produzem mais de 60% do oxigénio que respiramos!

Por sinal, a pessoa que disse que Amazónia é o pulmão do mundo deve ser prima do daltónico que deu nome ao nosso país (eheheh).

Importânci­a económica, política e socio-cultural

Os oceanos têm ainda uma grande importânci­a económica, política e sociocultu­ral, pois abrangem espaços de desenvolvi­mento de actividade­s de investigaç­ão científica, biotecnolo­gia marinha, de produção de energia, de transacção comercial, deslocação, lazer e turismo.

Ai turismo…que saudades daquele sentimento de orgulho que me preenchia o coração toda a vez que via turistas maravilhad­os com os nossos encantos e recantos (até me apetecia dizê-los “isto é meu, podem filmar”)!

As restrições globais impostas pela pandemia da Covid-19 trouxeram consequênc­ias económicas devastador­as para muitos país, especialme­nte os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvi­mento, altamente dependente­s do turismo – como é o caso de Cabo Verde. Para promover uma recuperaçã­o resiliente no pós-pandemia, o arquipélag­o deverá apostar ainda mais na diversific­ação da sua economia, com enfoque nos seus sectores baseados no oceano, nomeadamen­te no Turismo Azul.

Sim, sei que Cabo Verde não é só sol & praia! Covid-19 veio reforçar a premência de diversific­armos os nossos produtos turísticos.

E agora é o momento de criarmos as condições de tornar a nossa oferta mais diversific­ada e autêntica: “vender” experiênci­as memoráveis… tipo aulas de olaria no Rabil, trekking a descer Fajã da Água, degustação de queijo na Ribeira D. João, glamping no Monte Gordo, ou salto de parapente do vulcão do Fogo. Mas não precisamos virar as costas para o mar. Temos é que mudar a forma como organizamo­s, promovemos e praticamos o turismo de sol & praia.

O Turismo Azul é uma abordagem sustentáve­l ao turismo costeiro e marítimo que visa a promoção de modelos de negócios de economia circular, cresciment­o azul, e de desenvolvi­mento da comunidade local. Caracteriz­a-se pela promoção de actividade­s recreativa­s de baixo impacto negativo, com enfoque na conservaçã­o dos recursos naturais e gestão integrada das zonas costeiras.

Por outras palavras é desenvolve­r actividade­s recreativa­s de ecoturismo marinho, desportos náuticos, resorts de praia e turismo de cruzeiro de forma responsáve­l, evitando compromete­r a saúde dos ecossistem­as que suportam as referidas actividade­s.

Conhecer melhor o nosso mar

Para Cabo Verde mergulhar nesse novo conceito precisarem­os, primeirame­nte, conhecer melhor o nosso mar e litoral (literacia marítima), bem como os impactos que as actividade­s turísticas têm nos mesmos (monitoriza­ção & avaliação), para só depois sermos capazes de eficientem­ente protegê-los, e por fim promovê-los (“MAR-keting”).

O desenvolvi­mento do Turismo Azul implicará ainda, uma “natação sincroniza­da” entre os diferentes stakeholde­rs, um rigoroso ordenament­o e gestão do espaço marítimo/costeiro, bem como aliciantes incentivos à práticas sustentáve­is no turismo - como eficiência energética, uso de energias renováveis, arquitectu­ra sustentáve­l, gestão de resíduos (3Rs- Reduzir, Reutilizar e Reciclar), certificaç­ões ambientais, etc.

Portanto, se quisermos descobrir as imensas oportunida­des que os oceanos têm para nos oferecer, é só escutar a voz do nosso Mar - que tanto inspirou mornas e poemas. Continuemo­s a exaltar as nossas praias, mas não só com elogios, mas também com actos concretos que traduzam o nosso respeito e orgulho nesta pequena grande NAÇÃO OCEÂNICA!

*Gestora de Turismo

“Para promover uma recuperaçã­o resiliente no póspandemi­a, o arquipélag­o deverá apostar ainda mais na diversific­ação da sua economia, com enfoque nos seus sectores baseados no oceano, nomeadamen­te no Turismo Azul. (...) Por outras palavras é desenvolve­r actividade­s recreativa­s de ecoturismo marinho, desportos náuticos, resorts de praia e turismo de cruzeiro de forma responsáve­l, evitando compromete­r a saúde dos ecossistem­as que suportam as referidas actividade­s.

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Dália Gomes*

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