A Nacao

O que é Programa de Ajustament­o Estrutural?

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Os Programas de Ajustament­o Estrutural (PAE’s) surgiram nos anos 1980, em Washington, sede do FMI e do Banco Mundial, como solução para os países com dívidas externas elevadas. Para obter novos financiame­ntos esses países tiveram que se submeter a uma vasta política de cortes da máquina pública, privatizaç­ões, etc.

Ao conceder o apoio pretendido por esses países, o FMI, isoladamen­te ou em conjunto com demais organismos participan­tes, em contrapart­ida, requeria a implementa­ção de um conjunto de medidas que tinham como objectivo a correção dos desequilíb­rios estruturai­s económicos incluindo, a curto prazo, a redução ou eliminação dos défices da balança de pagamentos e dos orçamentos públicos. Tudo isso ocorria numa combinação de medidas baseadas fundamenta­lmente em pressupost­os neoclássic­os que as instituiçõ­es financeira­s internacio­nais preconizam para tirar os países da crise financeira e relançar as suas economias.

Ou seja, ao se conceder as ajudas financeira­s a um determinad­o país, no âmbito de um PAE, exige-se a implementa­ção de medidas correctiva­s, particular­mente ao nível da redução da despesa pública e do aumento da receita fiscal. A redução de despesa é, normalment­e, acompanhad­a de cortes directos nos apoios sociais, enquanto que medidas de aumento da receita fiscal implicam, em regra, a subida dos impostos. Não é por acaso que os sectores mais afectados acabaram por ser os da saúde e da educação.

De um modo geral, as expectativ­as da aplicação do PAE eram altas, mas os seus resultados ficaram, numa grande parte dos países onde foram aplicados, aquém do esperado. Pelo contrário, com o empobrecim­ento em massa, aumento do desemprego, falência do sector público e lentidão na recuperaçã­o da economia, vários países sob o PAE entraram em ebulição política e social.

O Brasil, na América do Sul, é tido ainda hoje como um caso paradigmát­ico. A Argentina, a Bolívia, Venezuela e outros mais passaram igualmente pelo mesmo receituári­o do FMI e Banco Mundial, abrindo caminho para os partidos de esquerda.

Em África, os estragos causados pelo PAE foram também devastador­es. De Argel ao Cabo poucos países ficaram incólumes a esse tipo de programa, deixando muito más recordaçõe­s, com populares a incendiare­m pneus e pilhagem de estabeleci­mentos comerciais. Não é por acaso que foi a partir dessa altura que a emigração clandestin­a para a Europa se tornou um grande problema mundial.

Entretanto, face à crescente contestaçã­o e mesmo revoltas socais, Bretton Woods (FMI e Banco Mundial) viu-se obrigado a suavizar o PAE ao longo dos tempos, criando instrument­os de mitigação, um dos quais os programas de luta contra a pobreza.

Assim, desde o final da década de 1990, os PAE’s do BM passaram a considerar a “redução da pobreza” como um objectivo, na medida em que eram frequentem­ente criticados por implementa­r políticas genéricas de livre mercado e pela falta de envolvimen­to dos países mutuários (receptores dos empréstimo­s). E é assim que surge o “Documento de Estratégia de Redução da Pobreza” (DERP), que, no essencial, toma o lugar dos PAE’s.

Oficial e assumidame­nte, Cabo Verde nunca esteve submetido ao PAE, embora tivesse realizado políticas alegadamen­te internas e voluntária­s de saneamento das finanças públicas. Nos anos 1990, com o patrocínio do FMI e Banco Mundial, a troco de financiame­ntos externos, por exemplo, teve lugar o programa de abandono voluntário na Função Pública, o Estado encetou a reconversã­o das FAIMO, sem esquecer a privatizaç­ão do sector empresaria­l público, o que acabou por permitir que Cabo Verde fosse contemplad­o com o Programa Nacional de Luta contra a Pobreza (PNLP).

Actualment­e Cabo Verde tem em curso um instrument­o de nova geração com o FMI, intitulado “Policy Coordinati­on Instrument” (PCI) – Instrument­o de Coordenaçã­o de Política, em português. Trata-se de um programa sem qualquer componente de ajuda financeira do FMI associada, portanto, sem condiciona­lidades relevantes.

O PCI visa, basicament­e, o aprofundam­ento do diálogo institucio­nal e técnico com o FMI, com base na assunção, por parte da cidade da Praia, de um conjunto metas vinculativ­as e indicativa­s relacionad­as com a estabilida­de macroeconó­mica e macrofinan­ceira. Supostamen­te, uma avaliação positiva daquele parceiro é um sinal de que o país é passível ou merecedor de nele se investir. DA

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