A Nacao

Um guardião “elástico” e apaixonado pela música

- Carlos Alves

O antigo guarda-redes luso-cabo-verdiano Neno, que chegou a defender as cores da Selecção de Cabo Verde e de Portugal, morreu na passada quinta-feira, 10 de Junho, em Portugal, vítima de doença súbita, aos 59 anos. As ruas de Guimarães, por onde passou o caixão a caminho do cemitério, encheram-se de populares num sentido e último adeus.

Adelino Augusto Graça Barbosa Barros nasceu a 27 de Janeiro de 1962, na Cidade Velha, Ribeira Grande de Santiago. Filho de pai professor e de mãe doméstica, Neno, era o mais novo dos sete filhos do casal.

Para se tornar futebolist­a profission­al primeiro teve que fintar a resistênci­a do pai, que via o futebol como coisa de malandros.

“Naquele tempo o futebol não era visto com bons olhos. Na altura, só os malandros é que jogavam à bola e, por isso, o meu pai foi sempre contra. Posso dizer que o meu pai nunca viu um jogo meu”, contou Neno em entrevista ao Tribuna Expresso em 2020.

O antigo guarda-redes começou a jogar futebol na escola, na cidade da Praia, como era o mais novo e pequeno, os colegas não o deixavam jogar como jogador de campo e sim na baliza. E por ser muito rápido colocaram-lhe a alcunha de “Elástico”.

Percusro em Portugal: Barreirens­e, Vitória de Guimarães e Benfica

Neno e a família mudaram-se para Portugal logo após o 25 de Abril. Segundo o próprio, a chegada ao Barreiro (bairro a meia hora de barco de Lisboa), foi “um choque”, devido à diferença da realidade, pois, “nunca tinha visto um comboio sem ser em fotografia­s. Mas o pior foi o frio”.

Aos 13 anos passou pela formação do Barreirens­e, em Portugal, para mais tarde ingressar no Benfica após o clube da Luz, na altura treinado pelo sueco Sven-Göran Eriksson, mostrar interesse nos serviços do futebolist­a.

Embora o Sporting também o tivesse sondado, Neno acabou por assinar com as águias, por influência de Bento, guarda-redes do Benfica, oriundo do Barreiro, como Chalana e outros craques.

Porém, com a saída do treinador sueco e da consequent­e indefiniçã­o quanto ao plantel, o guardião acabaria por ser emprestado ao Vitória Sport Club (Vitória de

Guimarães).

Porém, Neno regressou ao Benfica no ano seguinte, para voltar a sair, desta vez para o Vitória de Setúbal, pois ainda não tinha espaço na baliza encarnada, defendida por Bento. Só após uma segunda passagem por Guimarães que o guarda-redes regressa a Lisboa para dividir a baliza com Silvino.

Três vezes Campeão Nacional pelo Benfica

No estádio da Luz, sagrou-se campeão nacional por três vezes e venceu ainda três Taças de Portugal. Antes, em 1988 conquistou uma Supertaça ao serviço do Guimarães, clube pelo qual voltou a jogar antes de perdurar as luvas no final da década de 90.

Após abandonar a carreira de futebolist­a, Neno integrou a estrutura do Vitória Sport Club, primeiro como treinador de guarda-redes e mais tarde com cargo directivo.

O antigo guarda-redes represento­u a selecção A de Portugal em nove ocasiões e uma vez a selecção de Cabo Verde, por ocasião da Taça Amílcar Cabral realizada na Mauritânia, em 1983.

Dotes de artista

Fora dos relvados Neno era fã de música, aliás outra paixão de infância que, tal como o futebol, também não era do agrado do pai. “Lembro-me até que, quando eu cantava lá em casa, o meu pai dava-me dinheiro para eu me calar [risos]. Chegou a pagar-me tostões para eu ficar calado porque ele queria trabalhar descansado em casa”.

Ainda assim, o sonho de infância tornou-se realidade quando o agora ex-guarda-redes lançou o disco “Neno, Neno, Neno” em 1996, inspirado em nomes como Júlio Iglesias e Roberto Carlos.

Tornou-se amigo de Iglesias, chegando a cantar os dois juntos, no mesmo palco, em Portugal, em mais de uma ocasião. Iglesias referia-se a Neno como seu “filho” em Portugal.

Antes do seu passamento na quinta-feira (10) passada, o ex-futebolist­a exercia o cargo de embaixador do Vitória de Guimarães.

Neno foi a sepultar na tarde de domingo (13), em Guimarães, com largas centenas de pessoas a aplaudirem no último adeus àquele que se tornou um símbolo da cidade.

C/Tribuna Expresso

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