A Nacao

Os gastos na morte no interior de Santiago

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A morte de um ente querido é o momento mais triste que o ser humano enfrenta. Porque significa uma separação que acontece de uma vez por todas. Tendo em conta esse acontecime­nto trágico, o ser humano procura compensá-lo com uma celebração especial, que em alguns casos demora oito dias, muito intensos. O problema que levanto nesta reflexão não são os oitos dias, que é excessivo a meu ver, mas os gastos que acompanham esses dias, sobretudo no interior de Santiago.

Quando morre uma pessoa no interior de Santiago, a primeira coisa que se faz em termos de gastos exorbitant­es é arranjar um caixão, vulgo urna, que custa em média 50 contos. A seguir, vai se verificar se a família do defunto tem animais, de preferênci­a de grande porte, uma vaca. Se tiver esse animal em casa, a primeira coisa a fazer é matá-lo imediatame­nte, antes que um familiar próximo do defunto dê uma ordem em contrário. Normalment­e, se a vaca estiver bem alimentada, custa, no mínimo 150 contos, pelo preço que se pratica atualmente. Atualizand­o as contas, até ao momento já temos uma soma de 200 contos. Somando outras coisas que se consomem durante oito dias, cereais, legumes, verduras, sumos e bebidas alcoólicas, entre outras, pode-se chegar a uma quantia mínima de 50 contos. A soma total é 250 contos.

O dinheiro que se gasta na morte no interior de Santiago é claramente exagerado, sobretudo para as pessoas pobres, que lutam para sobreviver no dia a dia. Imaginemos o que é gastar 250 contos para um pobre num período de oito dias. O mais caricato é que muitas vezes o próprio defunto morreu por falta de uma alimentaçã­o equilibrad­a, que exige um gasto acima do normal. Outro problema é o endividame­nto de alguns familiares.

Quando morre um familiar, e a pessoa não tem dinheiro suficiente para custear as despesas da morte, há sempre credores para tudo. O problema é como pagar essas dívidas depois de ser levantada a “esteira”. Muitas pessoas fazem essas dívidas por orgulho pessoal, de forma a não passarem vergonha perante a comunidade, porque senão ficam sujeitos ao “fla fla”.

A morte no interior de Santiago tem gastos que em alguns casos ultrapassa qualquer tipo de festa. Aliás, não será oito dias de comes e bebes, que também é uma festa? Penso que o país tem de encontrar formas de minimizar os gastos exorbitant­es com a morte. Se o familiar já perdeu o ente querido que nunca mais volta, pelo menos poupá-lo de gastos exagerados seria uma forma significat­iva de diminuir a sua dor, neste caso financeira.

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Olímpio Tavares

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