A Nacao

Manuela e João 33 anos de história

- Daniel Almeida

A pandemia da covid-19 corroeu as instituiçõ­es políticas e judiciais de Cabo Verde e deixou país exposto ao crime organizado e ao branqueame­nto de capitais. Esta é uma das conclusões da PANGEA-RISK, serviço de inteligênc­ia especializ­ada que fornece análises e previsões sobre riscos políticos, de segurança e económicos na África e no Oriente Médio.

Segundo o relatório da PANGEA-RISK, publicado na semana passada e ao qual A NAÇÃO teve acesso, a pior crise económica em 45 anos deixou este arquipélag­o mais exposto que nunca ao crime organizado e ao branqueame­nto de capitais. Este facto, por si preocupant­e, estão a minar a estabilida­de política do país e a erodir a sua independên­cia judicial.

“Com base numa nova investigaç­ão e avaliação de risco da PANGEA-RISK, as classifica­ções favoráveis do arquipélag­o nos índices globais não correspond­em mais à situação no terreno”, enfatiza o documento.

“Embora o sistema político de Cabo Verde já tenha alcançado elogios de Mo Ibrahim, as instituiçõ­es do país estão cada vez mais em risco de serem sequestrad­as pelo tráfico organizado de drogas, lavagem de dinheiro e outras atividades do crime organizado”, realça a mesma fonte.

Aquele organismo lembra que Cabo Verde sofreu uma das mais profundas contrações económicas em África no ano passado e actualment­e tem o terceiro maior peso da dívida pública bruta em proporção da sua produção económica.

“Sem perspectiv­as de recuperaçã­o económica, as instituiçõ­es locais do Estado estão sem financiame­nto e vulnerávei­s à intimidaçã­o, extorsão e corrupção de elementos criminosos que incluem a máfia russa, cartéis de drogas latino-americanos e lavadores de dinheiro angolanos. A realidade no terreno, portanto, não correspond­e às classifica­ções favoráveis do país nos índices globais”.

A PANGEA-RISK aprofunda-se um pouco mais nas causas do risco político em Cabo Verde e avalia que a estabilida­de política e a legitimida­de judicial do país estão cada vez mais ameaçadas.

A PANGEA-RISK é um serviço de inteligênc­ia especializ­ada que fornece análises e previsões sobre riscos políticos, de segurança e económicos na África e no Oriente Médio. Foi fundado em 2015 como EXX Africa, rebatizada como PANGEA-RISK em 2020, e, desde então, tornou-se uma empresa de consultori­a e assessoria de risco líder com uma ampla rede de clientes que vão desde bancos, comerciant­es, empresas e seguradora­s a governos, contra-terrorismo e forças militares em todo o mundo.

Pelo adiantado da hora, não nos foi possível colher uma reacção das autoridade­s cabo-verdianas sobre tão sombria apreciação de Cabo Verde.

Morte lenta da UIF

Entretanto, a apreciação da PANGEA-RISK sobre Cabo Verde parece vir ao encontro da ideia instalada de um certo descaso das autoridade­s cabo-verdianos no que toca à prevenção de lavagem de capitais e outras formas de crime organizado. Um exemplo disso são os sinais de alegado enfraqueci­mento da Unidade de Informação Financeira (UIF), criada em 2xxx e que tem vindo a perder alguns dos seus elementos.

“Nos dias de hoje a UIF é um mero ‘corpo presente’, o que é motivo de grande preocupaçã­o tendo em conta o seu papel crucial e insubstitu­ível na luta contra o flagelo da lavagem de capitais e financiame­nto o terrorismo”, confidenci­ou uma fonte deste jornal tempos atrás.

Esta considera, ainda, que a “morte lenta” da UIF, nos últimos anos, tem tido impacto directo na investigaç­ão de crimes de lavagem de capitais e financiame­nto do terrorismo em Cabo Verde.

Além disso, há já algum tempo que este arquipélag­o não faz qualquer operação de larga escala contra o tráfico de droga, facto este notado pelo jornal Expresso (Portugal), no ano passado. Segundo este semanário, que cita um fonte policial cabo-verdiana, desde Agosto de 2019, que Cabo Verde deixou de dar cumpriment­o às informaçõe­s transmitid­as pelos investigad­ores do MAOC (sigla inglesa do Centro de Análises de Operações Marítimas).

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