A Nacao

Gestão problemáti­ca provoca ruptura de stock e quebra nos resultados financeiro­s

- Daniel Almeida

João Spencer é o novo PCA da Emprofac. Ele e mais duas gestoras, Evelyze Semedo e Sara Pereira, foram chamados de urgência pelo Governo para substituír­em a dupla Ana Ribeiro e Melina Veiga, que não se entendiam na gestão da empresa pública de medicament­os. Além de rupturas de stocks, os maus resultados financeiro­s falam por si: em 2020, as vendas aumentaram 25%, mas os lucros caíram 30%.

Para tentar resolver uma certa ineficiênc­ia instalada na Emprofac, provocada essencialm­ente pelo mau relacionam­ento entre Ana Ribeiro e Melina Veiga, que geriram a empresa desde a saída do PCA, Gil Évora, em Agosto do ano passado, o Governo decidiu nomear um novo Conselho de Administra­ção.

A NAÇÃO sabe que, perante várias recusas, tendo em conta que o mandato da nova administra­ção terá uma duração de apenas um ano, por causa da privatizaç­ão da empresa, Olavo Correia foi buscar o que tinha mais à mão: João Spencer (PCA), Evelyze Semedo e Sara Pereira (administra­doras).

Em 2020, com a pandemia, registou-se um cresciment­o de vendas na ordem das 25%, resultante basicament­e da comerciali­zação de álcool gel e máscaras, e a empresa atingiu perto de 2.539.000 contos (mais 53.4000 contos em relação a 2019), depois de, em 2019, ter ultrapassa­do pela primeira vez a barreira dos 2 milhões de contos em vendas.

Apesar dess e cresciment­o de vendas, estas não tiveram a sua repercussã­o no resultado líquido da Emprofac. Depois de três anos sucessivos com cresciment­os do seu resultado líquido, tendo atingido um resultado de 204.000 contos em 2019, a empresa conheceu, pela primeira vez em vários anos, uma diminuição do seu resultado líquido, passando em 2020 para pouco mais de 130 miç contos, uma diminuição de mais de 70 mil contos, cerca de -30%.

Os Gastos Operaciona­is tiveram um cresciment­o exponencia­l superior a 500 mil contos quando comparado com o ano de 2019, passando de 1.787.700 contos para 2.334.400 contos em 2020.

O Relatório & Contas 2020 entregue à Unidade de Acompanham­ento do Sector Empresaria­l do Estado para aprovação na Assembleia Geral, desta quarta-feira, 23, mostra ainda uma degradação de vários indicadore­s de natureza económico-financeira, com especial destaque para a inutilizaç­ão de medicament­os que se cifrou em valores astronómic­os superiores a 40 mil contos.

Contudo, para além do comprovado desentendi­mento entre as referidas “gestoras”, uma fonte do Ministério das Finanças confirmou ao A NAÇÃO que esse mau relacionam­ento se estendia também nesse mesmo Ministé

rio, uma vez que uma das administra­doras, “com costas quentes”, desobedeci­a permanente­mente às convocatór­ias quer do ex-secretário de Estado, Gilberto Barros, quer do actual secretário de Estado, Alcindo Nascimento, quer ainda do próprio vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, “não se dignando comparecer às convocatór­ias dos governante­s e nem em justificar as suas ausências”.

Conforme um veterano da Emprofac, a gestão “calamitosa” que se registou na empresa em 2020 e nos primeiros seis meses de 2021 é o reflexo da nomeação de administra­dores sem experiênci­a de gestão. “Nos últimos temos a empresa vem sendo gerida por gente nomeada, não por competênci­a, mas sim com base no amiguismo, partidaris­mo e nepotismo cruzado. Felizmente a Emprofac tem quadros competente­s e com muita experiênci­a que impedem que a empresa descambe para a falência, como acontece noutras empresas públicas”.

Ruptura de stock

De acordo com o Santiago Magazine, vários medicament­os, inclusive para doenças crónicas, não se encontram nas prateleira­s das farmácias desde o início do ano. A situação tem levado muitos utentes a denunciar nas redes sociais essas rupturas no stock sem data para reposição. Também os hospitais estão a trabalhar sem muitos equipament­os e reagentes, como, de resto, foi notícia o caso do Hospital do Porto Novo.

Conforme a mesma fonte, pelo menos onze farmácias de diferentes ilhas recorreram à Entidade Reguladora Independen­te da Saúde (ERIS), que já iniciou uma inspecção na Emprofac para averiguar qual o motivo de ruptura em tantos medicament­os e apurar responsabi­lidades.

Essa ruptura de stock deve-se ao facto de a administra­ção cessante da Emprofac não ter feito em tempo útil a adjudicaçã­o do plano de compras para 2021. Conforme A NAÇÃO pôde também apurar, esse plano de compras está pronto desde Fevereiro deste ano, mas até meados deste mês não tinha sido implementa­do.

Um alegado braço de ferro entre as duas administra­doras, que se digladiava­m o tempo todo para mostrar quem mandava na Emprofac, é que está na base dessa situação de ruptura de stock, derivada da não implementa­ção do plano de compras para 2021.

É que, com a saída de Gil Évora, a Emprofac passou a ser gerida apenas pelas duas senhoras. Segundo uma fonte bem posicionad­a, com apenas duas administra­doras, a Ana Ribeiro foi atribuída faculdade de voto de qualidade, “coisa que Melina Veiga nunca acatou”, por “ter costas quentes”.

Adjudicaçõ­es em stand-bye

O facto de não ter adjudicado o plano de compras para 2021 acabou por criar problemas às farmácias que não têm tido como atender algumas receitas, nomeadamen­te para doentes crónicos.

Normalment­e, essas adjudicaçõ­es, por meio de concurso público internacio­nal, são feitas em Outubro do ano anterior, mas devido a “divergênci­as sérias” existentes entre Ana Ribeiro e Melina Veiga, não se lançou concurso nenhum para o fornecimen­to de medicament­os para este ano de 2021.

Uma fonte citada por Santiago Magazine diz que, por causa da pandemia, havia também a hipótese defendida ainda quando Gil Évora era o PCA, de se manter a adjudicaçã­o directa à empresa que fornecedor­a os produtos no ano anterior, em 2020, de modo a agilizar o processo.

Consta então que Ana Ribeiro teria decidido seguir esse caminho, encomendan­do os medicament­os, só que Melina Veiga teria desautoriz­ado a colega, enviando um outro e-mail ao fornecedor a cancelar o pedido, “alegando que tem de ser ela, Veiga, a tratar desse assunto”. Um quadro que evidencia o “clima de cortar à faca” entre as duas gestoras da Emprofac, que vinha piorando a cada dia.

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