A Nacao

Islandeses foram os únicos a lucrar com o negócio da privatizaç­ão da TACV/CVA

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Apesar dos nefastos impactos da pandemia na aviação civil de todo o mundo, o certo é que, mesmo antes do encerramen­to das fronteiras nacionais, a 19 de Março de 2020, a TACV/CVA, pilotada pela Icelandair, já vinha acumulando pesados prejuízos, sempre encaixados pelo Estado cabo-verdiano.

Como A NAÇÃO chegou a noticiar várias vezes, a necessidad­e de injecção recorrente por parte do Governo na companhia, além da realização de voos (por exemplo, para o Brasil, praticamen­te vazios), eram sinais claros de que algo ia muito mal.

A isso acrescem outros episódios, como o facto de, em Julho de 2018, a TACV ter sido impedida de voar para Itália devido aos “numerosos” cancelamen­tos de voos para aquele país.

Outro senão, foi o facto de a companhia ter abolido desde o início destinos tidos como rentáveis, como a ligação Praia-Lisboa, concentran­do as suas operações no hub do Sal, para mais tarde retomar essa ligação, ainda que com pouca frequência.

A isso juntam-se os sucessivos problemas com aeronaves, que de uma promessa de 11 aviões na pista, como chegou a alardear o então ministro dos transporte­s, José Gonçalves, passaram a quatro aeronaves, para agora ter apenas uma, estacionad­a no Sal.

Na verdade, e porque os factos falam por si, os islandeses foram os únicos a lucrar com o negócio da privatizaç­ão da TACV/CVA. Com voos cheios ou não, tinham assegurado o pagamento do leasing das aeronaves e dos seus gestores, ao fim e cabo, pagos com os recursos do tesouro cabo-verdiano.

De recordar também que o tesouro cabo-verdiano nunca recebeu os 48 mil contos em falta da suposta venda da companhia à Lofleidir Icelandic, por 145 mil contos, sendo que 97 mil contos foram revertidos em contrapart­ida de trabalho de assessoria que prestou aquando da privatizaç­ão.

Ou seja, feitas as contas, basicament­e, foi o Estado de Cabo Verde, isto é, o contribuin­te, a injectar mais de 12,5 milhões de contos desde 2016 na companhia, o que se afigura como o principal lesado deste negócio de todo estranho, para não dizer anómalo.

Nos anais das privatizaç­ões em Cabo Verde, em curso desde 1993, nunca se viu nada igual.

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