Um morto e mais de uma centena de detidos em manifestações contra Governo
Pelo menos uma pessoa perdeu a vida na sequência de confrontos entre manifestantes e as forças de segurança em Havana, Cuba. No domingo e segunda-feira, milhares de pessoas saíram às ruas em protesto contra o Governo e alegada falta de resposta à maior crise económica vivida pelo país nos últimos 30 anos. Falta electricidade, alimentos e medicamentos, tudo isso no meio do pior surto de covid-19 desde o início dessa pandemia.
Um homem de 36 anos morreu, na segunda-feira, durante um confronto entre manifestantes e as forças de segurança na capital cubana, Havana.
Várias pessoas ficaram feridas e outras 150 foram detidas, informou a agência de notícias de Cuba (ACN).
Entretanto, segundo a organização não-governamental Cuba Decide, o número de vítimas mortais é superior (pelo menos cinco). Uma jornalista, do jornal espanhol ABC, foi detida, acusada de conspirar contra o Estado cubano.
Estes são os maiores protestos, em décadas, contra o regime cubano, agora chefiado por Miguel Díaz-Canel, que sucedeu em 2018 Raul Castro, irmão de Fidel Castro, líder histórico da Revolução Cubana, falecido em 2016.
Ao que consta o “movimento popular” começou de forma pacífica, mas terminou com a polícia a carregar sobre manifestantes e jornalistas em vários pontos deste país do Caribe.
Pior crise económica das últimas décadas
Com efeito, para além de Havana, os manifestantes insurgiram-se noutras cidades do país, contra a falta de resposta das autoridades à pior crise económica das últimas décadas. O mal-estar social tem vindo a agravar-se com a crise imposta pela covid-19, que aumentou os problemas económicos e sociais.
Os cubanos enfrentam a maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos das últimas décadas. Na verdade, há gerações que os cubanos vivem sob austeridade.
Desta feita, os protestos aconteceram no dia em que o país registou um novo recorde diário de infecções: 6.923, e também de mortes, 47, por covid-19.
Preisdente cubano DíazCanel acusa EUA
O presidente Miguel Díaz-Canel esteve também na rua e exortou os seus apoiantes e simpatizantes a responderem às manifestações antigovernamentais na mesma moeda.
Díaz-Canel acusa os Estados Unidos da América de financiarem as manifestações, com o objectivo de desestabilizar e praticar uma “política de asfixia económica para provocar a agitação social”.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, afirmou, em reacção, que “seria um grave erro para o regime cubano interpretar o que está a acontecer, em dezenas de cidades e vilas, em toda a ilha, como o resultado ou o produto de algo que os Estados Unidos fizeram”.
Já o presidente Joe Biden apelou ao regime cubano para, “ouvir o seu povo e responder às suas necessidades. (…) Estamos ao lado do povo cubano e do seu claro apelo à liberdade”, afirmou, apelando entretanto os cubanos a não se lançarem ao mar direcção aos EUA, como aconteceu no passado.
Também a ONU (Organização das Nações Unidas), dirigida por António Guterres, apelou, na segunda-feira, 12, para que Cuba respeite a liberdade de expressão e de reunião pacífica.
Reacções do México, Russia e Venezuela
O México e a Rússia, aliados de longa data de Cuba, por sua vez, alertaram para a utilização da agitação social como um pretexto para a interferência estrangeira.
Na Venezuela, o presidente Nicolás Maduro afirmou que “se o Governo dos EUA e a oposição extremista, também em Cuba, querem realmente aliviar e ajudar” os cubanos, “devem levantar, imediatamente, todas as sanções e o bloqueio contra o povo de Cuba”.
Desde 1994 que o regime castrista, no poder desde 1959, não enfrenta este tipo de contestação popular. Cuba vive sob embargo americano há mais de 50 anos, imposto pelos EUA. Não sendo a primeira vez que a população dá mostras de cansaço, resta saber como esta contestação irá terminar, agora que Miguel Díaz-Canel se encontra ainda em fase de afirmação do seu poder, depois de suceder Raul Castro.