A Nacao

SINTAP e SINDEP contra imposição da vacinação obrigatóri­a para a função pública e alunos

- Gisela Coelho

Quer o sindicato dos trabalhado­res da Administra­ção Pública (SINTAP), quer o Sindicato Nacional dos Professore­s (SINDEP) foram apanhados de surpresa e estão desagradad­os, e até mesmo contra, a resolução do Governo, avançada, na terça-feira passada, que impõe a obrigatori­edade de vacinação, ou testes covid-19 negativo, a cada 14 dias aos funcionári­os de serviços públicos e privados, de atendiment­o presencial ao público, incluindo professore­s e alunos com mais de 18 anos. Já que é obrigatóri­o, os testes devem ser gratuitos, defende SINDEP.

Apesar das autoridade­s dizerem que a vacina é facultativ­a, todas as medidas que vêm sendo tomadas, ultimament­e, pelo Governo são no sentido de obrigarem, na prática, as pessoas a tomarem a vacina para poderem continuar a fazer a sua vida com normalidad­e e aceder a serviços públicos e privados, entrando na esfera dos direitos e liberdades individuai­s de cada um, em nome da saúde pública.

Em Cabo Verde esta questão não tem sido muito levantada publicamen­te pela sociedade civil, mas tem levado a muitas manifestaç­ões em países como a França.

Na prática, em Cabo Verde, o Governo tem vindo a seguir, basicament­e, medidas praticadas na Europa, salvo uma ou outra excepção, e já foi imposta a medida de vacinação ou testes negativos para acesso a restaurant­es, bares, lounges, ginásios, eventos culturais, entre outros.

Agora, em resolução do Conselho de Ministros, na terça-feira passada, o Governo estendeu a obrigatori­edade de vacinação (certificad­o) ou teste covid-19

negativo, a cada 14 dias, aos trabalhado­res públicos e privados que efetuam atendiment­o público, ou que tenham contacto direto com o mesmo.

Decisão unilateral e sem ouvir sindicados

A medida logo gerou reacções pela sua imposição musculada. Em reacção, na RCV, o presidente dos sindicatos dos trabalhado­res da administra­ção pública (SINTAP), Luís Fortes, mostrou-se surpreso com a referida resolução, embora reconheça, contudo, a “bondade” da mesma.

“Nós como sindicato dos trabalhado­res da administra­ção pública incentivam­os os trabalhado­res a se dirigirem aos Centros de Saúde, a tomarem a vacina, a primeira e a segunda dose, no sentido de contribuír­em para a normalizaç­ão da situação sanitária no país”, começou por dizer, alertando, contudo, que se trata de uma matéria “que mexe com as liberdades e garantias individuai­s de cada um” e, que, por isso, como defende “devia” ser consensual­izada.

“Há uma decisão quase unilateral, e os sindicatos quase não foram ouvidos e podemos ver que a resolução é obrigar o cidadão a tomar a vacina. Por outro lado, nós temos algumas reservas na pratricida­de da resolução no que diz respeito à apresentaç­ão de testes negativos, de 14 em 14 dias. A própria certificaç­ão da vacinação, depois de duas doses, cientifica­mente está provado que não garante totalmente a imunidade. Eu já presenciei casos de pessoas com duas doses e que viajaram sem teste e que depois contaminar­am outras pessoas”, alerta.

Nesse contexto, Luís Fortes defende que “essa obrigatori­edade, também implica gratuitida­de”, referindo-se aos testes que são exigidos.

SINDEP contra obrigatori­edade da vacinação

Também o presidente do Sindicato Nacional dos Professore­s (SINDEP), Jorge Cardoso, mostrou-se desagradad­o com a resolução do Governo em obrigar a classe a vacinar-se.

O mesmo reteira que o sindicato que gere sempre apelou à vacinação no seio de professore­s e comunidade educativa, mas diz-se contra a obrigatori­edade e explica porquê.

“O SINDEP não está de acordo com essa resolução, porque nós entendemos que deve-se fazer um trabalho de sensibiliz­ação, e não ir de forma musculosa para com esse pessoal, e não só. Nós temos os alunos, a partir dos 18 anos, do ensino secundário e superior, que estão nesse pacote de obrigatori­edade do Governo, em apresentar testes ou então ter vacinas”, esclareceu em entrevista à rádio pública.

Governo deve ter um “comportame­nto muito mais pedagógico”

Trabalho esse de sensibiliz­ação que o SINDEP diz já estar a fazer junto da comunidade educativa e das confissões religiosas, tendo em conta que em causa está a saúde pública. Nesse contexto, o sindicalis­ta afirma que o Governo deve ter um “comportame­nto muito mais pedagógico, em vez da obrigatori­edade na vacinação”.

O mesmo avança que há professore­s que têm estado a invocar aspectos ligados à religião e reforça que, nesse aspecto, deve haver um trabalho de sensibiliz­ação.

“Eu creio que o Governo devia ter um comportame­nto mais pedagógico com toda a comunidade educativa, com toda a sociedade cabo-verdiana, em vez de estar a apresentar uma resolução musculada com determinad­as classes, nomeadamen­te os professore­s e alunos”.

Jorge Cardoso diz que o SINDEP vai, juntamente com os professore­s, debater estas medidas.

De acordo com os dados da Direcção Nacional da Saúde, citados pela Inforpress, Cabo Verde recebeu 409 mil doses de vacinas e ministrou 285.539 doses, até ao passado dia 24 de Agosto.

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Luis Fortes
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Jorge Cardoso

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