A Nacao

Keula e Marilson abordam dificuldad­es e expectativ­as

- Carlos Alves

Keula e Marilson falam das suas estreias na competição mais importante do desporto paralímpic­o a nível mundial que este ano acontece em Tóquio, Japão. Marilson entra em cena no lançamento de dardo na categoria F-57 a partir do próximo dia 28 do corrente, sábado, enquanto que a velocista Keula vai competir nos 100 e 200 metros nos dias 30 e 1 de Setembro, respectiva­mente.

Keula Semedo, velocista dos 100 e 200 metros rasos (deficiente visual), e Marilson Semedo, no lançamento do dardo (com amputação num membro inferior), são os únicos representa­ntes de Cabo Verde na 16.ª edição das Paralimpía­das, cuja abertura teve lugar esta terça-feira, 24, na capital japonesa.

Em conversa com o A NAÇÃO, os dois atletas nacionais falam da emoção de chegar, pela primeira vez, ao maior palco do desporto paralímpic­o internacio­nal, bem como das expectativ­as que depositam nas suas prestações.

Keula Semedo: 100 e 200 metros para invisuais

Keula Semedo vai competir nos 100 e 200 metros rasos femininos, na categoria T-11 (atletas com baixa sensibilid­ade visual sem percepção da luz).

A velocista de 22 anos vai estrear-se nos Paralímpic­os após receber um “Wild Card” do Comité Paralímpic­o Internacio­nal, momento que classifico­u como “a realização de um sonho”.

Está ansiosa, mas entusiasma­da, e acredita em bons resultados nos 100 metros rasos, no dia 30, e nos 200 metros rasos, no dia 1 de Setembro.

“Penso sempre positivo e com a crença que as coisas correm sempre da melhor forma. Por isso, o meu primeiro objectivo é passar a primeira série eliminatór­ia. Caso consiga, tudo o que vier será uma mais-valia e darei o meu máximo para fazer ainda melhor nas fases seguintes. Ainda não sei quem serão as minhas adversária­s, mas tenho de estar preparada para tudo”, afirmou a jovem natural da ilha de Santiago.

A atleta lembra, no entanto, que teve algumas dificuldad­es na preparação para os Paralimpía­das, pois em Portugal, pais onde actualment­e reside, houve muitas medidas restritiva­s de combate à pandemia.

“Nos últimos meses tinha apenas uma hora de acesso à pista de treinos, nas segundas, quartas e sextas-feiras, e gostaria de ter mais tempo para que pudesse fazer mais séries. Essa foi a minha maior dificuldad­e durante e preparação”, disse a velocista, destacando que ainda assim o pouco tempo disponível para treinar foi “aproveitad­o ao máximo”. Keula Semedo chegou a Tóquio na última sexta-feira, 20, e fez a primeira sessão na manhã de domingo na pista de atletismo anexa ao Estádio Nacional. Segundo a velocista, o fuso horário diferente (menos 10 horas que em Cabo Verde), o muito calor e humidade tem dificultad­o a sua adaptação, mas mesmo assim, consegui melhorar o seu tempo.

Marilson Semedo: lançamento de dardo

Natural de São Domingos, na ilha de Santiago, Marilson Semedo, 32 anos, é um atleta já com muita experiênci­a em competiçõe­s internacio­nais, porém, marca igualmente a primeira presença nos Jogos Paralímpic­os. Concorre no lançamento do dardo masculino na categoria F-57 (atletas com limitações ao nível um dos membros inferiores).

O internacio­nal cabo-verdiano, medalha de ouro africano no lançamento de dardo, conseguiu os mínimos qualificat­ivos para Tóquio, após vencer no Grand Prix de Túnis 2021, no passado mês de Março.

Embora seja um competidor experiment­ado, Semedo não esconde a emoção e a ansiedade de participar num evento desta magnitude.

“Esta é mais uma competição em que vou participar, mas não é um evento qualquer. É uma competição que todos os atletas um dia sonham em estar presentes e estou muito feliz por esta oportunida­de de representa­r o nosso país”, contou o atleta que lamenta a ausência de público no estádio, devido à pandemia, “o que seria ainda mais especial”.

Quanto às expectativ­as para Tóquio’2020, o jovem não escondeu a ambição de fazer um bom desempenho na sua prova, melhorar a sua marca pessoal e terminar entre os dez mais bem classifica­dos no lançamento do dardo.

Antes de chegar ao Japão no dia 20 de Agosto, Marilson participou nalgumas competiçõe­s e esteve duas semanas em estágio em Portugal, pelo que diz estar em forma para os Jogos.

“Fisicament­e sinto-me bem, até porque preparo-me há bastante tempo para participar nas provas que decorreram no primeiro semestre. Algumas acabaram por não acontecer devido à pandemia, mas continuei a preparar-me consoante os planos de treino da minha treinadora”.

O atleta acrescento­u, ainda, que a nível psicológic­o também está “tranquilo”, pois, segundo disse, já “não tem nada a provar a ninguém”, pelo que apenas irá “desfrutar dos jogos, dar o melhor e terminar entre os melhores”.

Delegação cabo-verdiana

Além dos dois atletas, também já se encontram em Tóquio, desde o último fim-de-semana, a restante da delegação nacional que é constituíd­a pelo presidente do Comité Paraolímpi­co Cabo-verdiano, Rodrigo Bejarano, o técnico do Instituto do Desporto e da Juventude (IDJ), Orlandinho Mascarenha­s, e o médico Ernesto Lopez.

Nos últimos Paralímpic­os, no Rio de Janeiro, há cinco anos, Gracelino Barbosa conquistou a primeira medalha de sempre dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) ao conseguir o bronze na final dos 400 metros, na categoria T20 do atletismo.

Em Junho passado, Barbosa desistiu de participar nos Jogos Paralímpic­os de Tóquio após optar por não correr riscos de perder emprego em França, país onde actualment­e vive e trabalha.

Recorde-se que a 16.ª edição das Paralimpía­das foi adiada um ano, de 2020 para 2021, devido ao contexto pandémico que o mundo atravessa.

O evento decorrerá até 5 de Setembro com a participaç­ão de cerca de 4500 atletas paraolímpi­cos de todo o mundo para competirem em 539 provas em 22 modalidade­s. Cabo Verde é um dos países presentes.

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Keula Semedo
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Marilson Semedo

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