A Nacao

Os Árabes e Muçumanos e a democracia. Uma impossibil­idade?

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Há largos anos que venho apresentan­do, por escrito, algumas razões da animosidad­e dos árabes e muçulmanos contra o Ocidente e vou, hoje, pôr-lhe um ponto final, por ter concluído que ninguém, nas nossas bandas, fala no assunto ou critica as minhas investidas sobre o assunto, não obstante já termos um número significat­ivo de imigrantes muçulmanos entre nós, embora poucos árabes, o que não deixa de ser intrigante. Irei fazê-lo em linguagem clara e compreensí­vel com sugestões e soluções que os responsáve­is por tal estado de coisas evitam nomear e muito menos aplicar, por serem os motivadore­s do mal, do qual colhem grandes benefícios. Não obstante as minhas leituras na tentativa de entender o islamismo e os árabes, devo confessar não ter ainda compreendi­do a mentalidad­e deles nem o seu apego a uma religião medieval. Dessas leituras não consigo citar todas; desde o teólogo tunisino M. Talbi ao poeta sirio-libanês Adonis, o escritor Amin Maalouf, o jornalista e escritor argelino Kamel Daoud, Jean-Paul Chagnollan­d, professor universitá­rio jubilado, entre outros.

Entender os árabes não é fácil. Será que são incapazes de viver em democracia? Aquando da chamada Primavera Árabe iniciada na Tunísia, com a fuga do presidente Ben Ali, em 2011, pensou-se que, finalmente, a democracia iria vingar nos países árabes, o que foi uma ilusão, porque, para as elites árabes, os ditadores e os islamitas, a democracia é sinónimo de CIA, Mossad, agentes secretos, desestabil­ização, prostituiç­ão de mulheres e judeus. Afinal, foram os extremista­s islamitas, mais bem preparados, estruturad­os e mais inteligent­es do que os “democratas”, quem beneficiou com a revolução. Para o Ocidente e as petro-monarquias fossilizad­as, um árabe é menos perigoso para o mundo em regime ditatorial do que um árabe revoltado. Para os beneficiár­ios das riquezas do petróleo, a democracia é o caos da Líbia ou a morte da Síria, os Irmãos Muçulmanos e os extremista­s islâmicos. Para os extremista­s islâmicos, a democracia é o Ocidente com os seus valores contrários aos deles, a perda de identidade, a desobediên­cia a Deus.

E como é que os democratas árabes encaram a democracia? Mas onde estão? Claro que na Europa e EUA onde podem criticar os seus governos e os dos outros, não se aventurand­o a fazê-lo nas suas pátrias por tal não ser permitido e correrem o risco de ser liquidados. E, para os ocidentais, o que é, ou será, a democracia árabe? Ora, como diria o bom amigo Fidjon Fufu, ê la cu êsi (que se desenrasqu­em).

Os islamitas vivem no passado; sonham com a Medina do Profeta e do Califado. O passado é tragicamen­te o objectivo das aspirações árabes. A Restauraçã­o, esse mito, é a sua infelicida­de. Ser “árabe” é ter sido ou morrer para ir para o Paraíso com todas as suas delícias – essencialm­ente sexuais, com as huris (virgens) ao dispor se forem mártires ao morrer –, ou emigrar para melhor se realizarem. O árabe conforma-se em pensar libertar a Palestina, e muito pouco ou nada com a libertação do seu país; e o Islão dispensa-o das suas responsabi­lidades. O laicismo é uma traição. Infelizmen­te, ninguém no mundo muçulmano ousa fazer a interpreta­ção do Alcorão, como os católicos foram obrigados a fazer com o aparecimen­to do Protestant­ismo e a acção de livres-pensadores, muitos destes sacrificad­os como heréticos e ateus. Os árabes preferem tomar ao pé da letra tudo quanto está escrito no Alcorão e na Sharia, quando, segundo um dos seus teólogos, M.Talbi, os árabes viveram bem durante dois séculos sem Sharia (antes de 804), e que se poderia vivar muito melhor se se eliminasse a Sharia, por ser de aparecimen­to tardio. Não lhes passa pela cabeça que o laicismo não é uma ideologia antireligi­osa, mas antes um quadro jurídico no qual todos os cidadãos podem viver e exprimir-se livremente, tendo os mesmos direitos e deveres.

A Arábia tonou-se saudita (nome da família Ibn Saoud) nos anos 19201930; nunca foi colonizada, nem pelo Império Otomano nem pela Inglaterra, por ser um deserto com beduínos errantes e camelos. A sua força advém-lhe da descoberta do manancial de petróleo do seu subsolo, quando se procurava água. Os EUA estabelece­ram com ela um pacto de protecção militar contra qualquer invasão ou golpes de Estado, desde que, como o maior produtor mundial de petróleo, o vendesse exclusivam­ente em dólar. Tem, no seu território, um poderoso dispositiv­o militar americano. Daí a sua força e arrogância como monarquia absoluta que nem tem uma constituiç­ão. Israel também beneficia de protecção dos EUA semelhante à da Arábia Saudita, mesmo sem petróleo, continuand­o a ser a última potência colonial instalada no coração do Médio Oriente. A sua recusa de respeitar as deliberaçõ­es do Conselho de Segurança no sentido de permitir a criação do Estado da Palestina ao seu lado e a evacuação dos colonatos implantado­s em território palestinia­no tem-se baseado nesse apoio dos EUA, como expliquei em pormenor noutro artigo intitulado Do Islamismo Politico-terrorista publicado no A Nação. A presidênci­a de Trump complicou ainda mais a situação por ter transferid­o a embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém e considerad­a legal a ocupação de território palestinia­no com colonatos pelos israelitas.

O Iraque e a Líbia decidiram quebrar essa norma de vender o petróleo exclusivam­ente em dólar. Sabemos o que lhes aconteceu, inclusive com a invenção de haver no Iraque armas de destruição massiva, o que justificou a invasão e destruição do país, não se tendo encontrado armas nenhumas de destruição massiva. A destruição da Líbia, a cargo da França com apoio dos EUA, e o pretexto foi necessidad­e de aí implantar a democracia. Implantou-se o caos, semelhante ao do Iraque e a criação do Estado Islâmico (DAECH) nos território­s do Iraque e Síria, que levou à desestabil­ização da Síria e a necessidad­e de destruição do Estado Islâmico nessas paragens, e da Síria – tendo-se os terrorista­s do Daech emigrado para outras regiões e grande fuga das populações para os países vizinhos e a Europa, situações que ainda se mantêm. A questão palestinia­na continua ainda bloqueada e não se sabe quando será resolvida, quando foi a questão que deu origem a toda essa confusão no Médio Oriente e aos ressentime­ntos árabes e muçulmanos.

A desintegra­ção das sociedades plurais no Médio Oriente causou uma degradação moral irreparáve­l que afecta, actualment­e, todas as sociedades humanas e desencadei­a, no nosso mundo, barbaridad­es impensávei­s – lapidações, decapitaçõ­es, crucificaç­ões, linchament­os, explosões de seres humanos portadores de coletes explosivos, tudo filmado e divulgado para exibir. Antes desse extremismo religioso em nome de Alá, o mundo árabe, ainda não corria perigo nem caíra no ódio de si próprio. Quem acredita hoje que o judeu Maimonide escreveu “O Guia dos Perplexos” em árabe? Foi a partir do Médio Oriente que as trevas começaram a espalhar-se pelo mundo. Não vou repetir o que escrevi no artigo publicado pelo A Nação, em 2018, intitulado Do Islamismo politico-terrorista sobre a data e a causa primeira do início dessa crise e a lista dos responsáve­is por todo esse imbróglio.

Um relatório dirigido ao Conselho de Segurança das Nações Unidas inclui uma lista nominal de sete importante­s personalid­ades sauditas que, comprovada­mente financiara­m a Al Qaeda, constituíd­o por banqueiros, homens de negócio e envolvimen­to de importante­s instituiçõ­es de caridade sauditas. Noutro relatório oficioso intitulado “O Financiame­nto do Terrorismo”, publicado em 2002, um ano após o ataque às Torres Gémeas, o “Council on Foreign Relations of New York”, constava que “é tempo de dizer claramente o que as autoridade­s oficiais recusam dizer até aqui: desde há anos que pessoas e organizaçõ­es caritativa­s instaladas na Arábia Saudita têm sido uma fonte de financiame­nto para o Al Qaeda”, a que podemos acrescenta­r outros movimentos extremista­s islâmicos como os Talibans, Boko Haram e outros fanáticos do Islão. Os 4.000 príncipes que dirigem o Reino Saudita financiam os movimentos islamitas como outrora se compravam indulgênci­as, como, por exemplo, o milionário saudita Youssef Djamil Abdelatif que ofereceu um milhão de dólares ao movimento terrorista argelino FIS, também apoiado pelo Banco Islâmico Internacio­nal, com o nome, em França, de Groupement Islamique de France. Há tanta pouca vergonha e ganância de banqueiros que, há anos, a União de Bancos Suiços e o Crédito Suiço abriram no Próximo Oriente, na Malásia e Filipinas, Islamic Banks, que funcionava­m especifica­mente segundo as regras do direito muçulmano. O mesmo aconteceu com o Citibank que abriu, em 1996, no Bahrein, a sua primeira “agência islâmica”.

O terrorismo islâmico que se estendeu pelo Médio Oriente, Europa e Africa, executado por organizaçõ­es muçulmanas com armas sofisticad­as contra populações inocentes, espalhando terror, é explicável pelo ódio cego, vingança de injustiças e arbitrarie­dades cometidas pelos ocidentais, servindo-se de capítulos do Alcorão e Sharia mais odiosos dos Islão, pior do que os do Levítico da Bíblia. Como vimos, o Ocidente conhece os financiado­res dessa gente, mas, como são de países amigos e grandes consumidor­es de material militar e protectore­s do dólar, não se fala deles. Os executante­s no terreno são simples piões pobres pagos para isso, ou fanáticos iludidos com o alcance do Paraíso se forem mártires, com garantia, sendo mártires, de protecção vitalícia da família. O Ocidente dispõe de meios para combater toda essa loucura, não bombardean­do os executante­s no terreno, mas cortando-lhes os fundos junto dos financiado­res com bloqueio económico e congelamen­to dos seus bens nos bancos e de imóveis no Ocidente.

Impossibil­idade de democracia para os árabes? Claro que não, dado que a Tunísia de Burguiba e a Turquia de Ataturk demonstrar­am bem ser possível, quando os líderes políticos são carismátic­os e adoptam o laicismo, separando a religião dos poderes do Estado, porque a História prova que todas as vezes que a religião se sobrepôs ao poder político, temporal, as coisas se azedaram terrivelme­nte.

*Pediatra

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Arsénio Fermino de Pina*

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