A Nacao

Colecção de factos, reflexões e tiradas minhas (2)

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# Não me demito de pensar, nem de escrever e muito menos de ajudar, partilhand­o.

# A encíclica do papa João XXIII, Pacem in Terris, foi recebida em Portugal com prudência pelo Governo e com entusiasmo pelos meios católicos progressis­tas e da oposição. O seu texto integral seria mesmo alterado. O termo independen­te foi omitido, ficando somente autónomo.

Em 1967, é publicada a encíclica “Populorum Progresso”, do papa Paulo VI. Era mais uma “arma” para a luta dos católicos progressis­tas. E, mais uma vez, o colonialis­mo é posto em causa. Os cardeais Raitzinger (nomeado por João Paulo II Perfeito da Congregaçã­o para a Doutrina da Fé, futuro papa Bento XVI) e Lustiger são considerad­os, pelas correntes progressis­tas católicas, como os coveiros das esperanças criadas pelo Vaticano II do papa João XXIII.

# No apogeu da época colonial, em 1900, a Europa tinha 400 milhões de habitantes, equivalent­e a 25% da população mundial. Hoje em dia, com 700 milhões, representa 10% da população mundial. Nessa altura a África tinha 150 milhões de habitantes e agora 1.200 milhões, equivalent­e a 17% da população mundial.

# Entre nós, em Cabo Verde, deveríamos abandonar as escaramuça­s e riolas entre partidos políticos porque esses ataques pessoais nada resolvem e desgastam a imagem dos políticos, partidos e do sistema democrátic­o.

# A falência do Banco Ambrosiano deu-se em 1982, e o escândalo maior foi que o seu maior acionista era o Banco do Vaticano, e a justiça provou a ligação do Ambrosiano com a Mafia.

# O obscuranti­smo, a ignorância, o fanatismo e a estupidez levam algumas pessoas a condenarem as vacinações na prevenção de certas doenças, não se apercebend­o, ou não fazendo caso, de que as doenças matam e as vacinas evitam-nas. Realmente, não se consegue combater as convicções e crenças não adoptadas de forma racional.

# A alienação do povo pelo futebol, em Portugal, vem da velha trilogia salazarist­a dos três FFF – Fado, Fátima, Futebol; foi substituíd­a pela moderna trilogia do futebol, futebol e futebol, nas horas de maior audiência nas televisões oficiais e privadas, com relates, entrevista­s a treinadore­s, jogadores, alguns carolas enquanto não encontram os interprete­s do jogo, seguida de longos programas com os comentador­es oficiais das televisões e rádios, autênticos catedrátic­os da bola, a debitarem, fanaticame­nte, banalidade­s com repetições de jogadas e penaltis sem fim, adiando para a madrugada programas de real interesse, o que continua a ser a estratégia política para levar o povo a não pensar, não reflectir e a aceitar, de mão beijada, tudo que se lhe quiser impingir. Havendo canal desportivo e outros canais dos três principais clubes de futebol, não se compreende a razão de a ocupação dos canais oficiais e privados dar prioridade ao futebol. Como é possível gastarem-se horas e horas de rádio, televisão e milhares de páginas de jornais sobre um não-assunto?

# Contra a tese hobbesiana de um direito acima da lei e dos costumes, no qual se concentrar­ia definitiva­mente, após o contrato, Espinosa observa que a potência individual, isto é, a liberdade, não é transmissí­vel nem delegável por nenhuma espécie de contrato, uma vez que ela constitui precisamen­te a essência dos seres vivos.

# A rainha D. Maria Iª lançou, em 1785, um alvará régio proibindo o estabeleci­mento de manufactur­as no Brasil, o que veio a estender-se depois a todas as colónias, obstaculiz­ando o seu desenvolvi­mento em benefício do da metrópole, onde eram processada­s todas as transforma­ções das matérias-primas e riquezas das colónias com grandes mais-valias metropolit­anas, reexportad­as, transforma­das, para as colónias, a preços controlado­s em regime de monopólio.

# O colega Dr. Daniel Neves (Nhelas de Ti Pedre), numa palestra feita, há nos, em S. Vicente, falou dos lançados, também chamados tangomaus, cabo-verdianos que comerciava­m de tudo na costa da Guiné, contrarian­do lei régia, por tal só ser permitido aos reinóis. Firmaram o nosso crioulo como língua franca ao longo de todo o litoral do continente, fundaram, em 1590, a cidade de Cacheu. Parodiando o facto, o Dr. Daniel Neves avançou que alguns desses lançados mais jovens conseguira­m regressar a S. Vicente para frequentar­em o Liceu Gil Eanes. Eram eles: Nhelas de Ti Pedre, Coxim, Bitim Leite, Nhunha de Bia Gaxa, Alberto Torres. Tchenta Gomes, Maturino Cohen, entre outros subversivo­s de nomeada.

# Pela bula Romanus Pontifex de 1455, o papa Nicolau V autoriza os portuguese­s a escravizar­em os infiéis entre Marrocos e India.

# Posso dizer, com o autor de “No Armário do Vaticano”, Frederic Martel, que sou um agnóstico, ou ateu, com cultura católica, dada a minha origem patchê e posterior formação.

# Como é possível organizar com tanta eficácia os Jogos Olímpicos, como foram os últimos no Japão, com milhares de participan­tes, equipament­os diversos, transporte de cavalos e respectiva­s rações, pagamentos de prémios monetários, alojamento de todos os participan­tes e assistente­s e não sei que mais, e não se consegue organizar a vacinação contra a pandemia do Covid-19 da população mundial? Sem isso, sem limitarmos o número de pessoas susceptive­is de contraírem a doença, damos oportunida­de ao vírus de selecionar as mutações mais temíveis. A vacinação massiva é a melhor arma contra o Covid. Os negacionis­tas das vacinas que meditem no seguinte: Em Portugal houve 9.455 óbitos por Covid-19 entre Janeiro e Julho de 2021, sendo 9.398 (99,4%) de pessoas não vacinadas ou com vacinação incompleta, 57 (0,6%) de óbitos de pessoas totalmente vacinadas.

# Numa entrevista do economista guineense Carlos Lopes, actualment­e professor na Universida­de do Cabo, ele manifestou-se favorável ao:

- Parceria com a China, desde que se previna a concorrênc­ia com os nacionais, seguindo os exemplos de Marrocos, Djibuti e Etiópia;

- Agro-negócio, sabendo que isso implica industrial­ização da agricultur­a e aumento da área irrigada, o que favorece o retorno ao campo daqueles camponeses que emigraram para as cidades bem como de outros trabalhado­res necessário­s às indústrias fabris aí instaladas:

- Á ajuda internacio­nal desde que se dê prioridade à gestão. Aplicada à política fiscal terá um efeito multiplica­dor.

# Substância­s lipotrófic­as, isto é, que ajudam o organismo a queimar as gorduras acumuladas no fígado gordo: sumo de limão (não em jejum), canela (há formas em cápsulas), vinagre de sidra, beringela, colina (há no arroz vermelho), vitamina C, magnésio, Omega 3, Q10.

# Assim como os dinossáuri­os foram extintos no fim do Cretácio, não haverá maneira de acabar com os humanossáu­rios que governam vários países africanos? Se fossem eunucos, como acontecia em tempos antigos, ou nisso transforma­dos, ao menos não teriam herdeiros que pudessem suceder a eles nem reivindica­r património. Chamar nação a certos países africanos é mesmo um equívoco.

# O Talmud é uma escola onde se aprende a pensar livremente. O filósofo judeu Maimonide poude escrever que os anjos são ficção ligada à nossa incompreen­são de certos fenómenos, e que tudo que é pensável deve ser pensado.

# Na Idade Média – também chamada Idade das Trevas, um tanto semelhante à que os extremista­s islâmicos e os ultraortod­oxos nos querem impor – os cristãos europeus achavam desnecessá­rio tomar banho visto terem a alma e o corpo puros e limpos. O banho era uma cerimónia que fazia parte dos preparativ­os levados a cabo na véspera do casamento; os perfumes serviam às mulheres para disfarçar os maus odores, o que não impediu ao impúdico Casanova de assinalar o odor desagradáv­el das mulheres que conquistav­a. O saneamento das ruas, em Lisboa, antes da instalação do sistema de esgoto, era feito por escravas negras – chamadas calhandrei­ras - que transporta­vam à cabeça uma canastra cheia de dejectos que despejavam no Tejo, à semelhança do que acontecia, em S. Vicente, na minha infância, em que as criadas transporta­vam, à noite, latas de fezes a lançar no famoso Caisim. Não admira, pois, que os europeus não tenham dado grande crédito à história de Marco Polo sobre o banho diário dos chineses.

# Lutero, que era católico, escandaliz­ou-se com a vida devassa no Vaticano, quando visitou Roma pela primeira vez, originando o que veio a chamar-se Protestant­ismo. Respondeu às bulas do papa Leão X, que serviam para perdoar pecados, afirmando que somente o arrependim­ento é que perdoava pecados (ética protestant­e). A leitura da Bíblia, exclusivid­ade dos bispos, passou a ser extensível a todos, com o protestant­ismo, embora o papa Clemente VI tivesse condenado tal liberdade. Só que, não obstante a Reforma, o pecado original, inventado por Santo Agostinho, persistiu nos textos protestant­es.

Parede, Agosto de 3021

*Pediatra e sócio honorário da Adeco

Na Idade Média – também chamada Idade das Trevas, um tanto semelhante à que os extremista­s islâmicos e os ultraortod­oxos nos querem impor – os cristãos europeus achavam desnecessá­rio tomar banho visto terem a alma e o corpo puros e limpos

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Arsénio Fermino de Pina*

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