Jovens idealizam plataforma online para facilitar a vida aos emigrantes
Nelson Varela, Éder e Aquilino Correia são três jovens de Santa Cruz, interior de Santiago, que decidiram criar uma plataforma digital para facilitar a vida dos emigrantes na sua “luta” contra a burocracia que são obrigados a enfrentar nos seus contactos com a terra-mãe.
Não é de hoje que os emigrantes se queixam da má prestação de serviços e da burocracia no país, pouco importa o sector, seja ele público ou privado.
Normalmente, para esses cabo-verdianos, os períodos de férias são utilizados para resolver antigos problemas, o que acaba por significar muito tempo nos balcões, para pagamento de impostos, levantamento de cargas nas alfândegas, entre outras “chatices”, que custam tempo, paciência e, por vezes, dinheiro.
Facilitar a vida dos emigrantes
Na perspectiva de facilitar a vida dos emigrantes os três jovens - Nelson Varela, engenheiro, e Éder e Aquilino Correia, emigrantes em França - , resolveram criar uma plataforma digital de apoio aos nossos patrícios no estrangeiro.
“Estávamos a falar sobre os projectos inovadores que podemos trazer para o nosso concelho e tendo em conta as suas dificuldades enquanto emigrantes acabamos por socializar a ideia de criação desta plataforma que acabou por ultrapassar as fronteiras de Santa Cruz”, explicou Nelson Varela, um dos donos desta iniciativa, o mesmo que, em 2017, desenvolveu o aplicativo “Nha Bex” e em Março de 2020 a “Linha Verde Cv”.
“Os interessados devem disponibilizar os seus dados e, estando devidamente cadastrados na plataforma, conseguem serviços de empresas, instituições, pessoas e parceiros da plataforma também cadastrados. Por exemplo, uma pessoa quer vir passar férias em Cabo Verde e precisa alugar um carro. Entra na plataforma, acerta tudo com uma empresa desta área à dis
tância e no dia da sua chegada tem o carro à sua espera no aeroporto, sem passar por muita burocracia economizando tempo”, exemplifica.
Plataforma integra serviços das mais diversas áreas
Varela diz também que a plataforma é abrangente, aberta a todas as empresas de prestação de serviços, não importa a área. Por exemplo, agências de viagens e turismo que fazem pacotes de férias, empresas de aluguer de apartamento, empresas de construção civil até para pessoas singulares que têm também serviços a prestar, entre outras.
“Uma senhora, por exemplo, que vende linguiça pode estar cadastrada e um certo dia alguém solicita encomenda de terra. Esta senhora vende o seu produto através da plataforma”, explica o nosso entrevistado.
“Muitas vezes, vimos nas redes sociais pessoas a procurarem portadores de Praia-Lisboa e vice-versa. Este tipo de serviço estará também disponível na plataforma e os portadores ganham comissão com isso. Algo que antes faziam, mas que agora será de forma mais segura e que tem recompensas”, diz.
Segurança e fiscalização
Varela diz que esta plataforma será segura, uma vez que a ideia é ter sempre uma terceira pessoa que faz a fiscalização.
“Os emigrantes espalhados pelo mundo, assim como os parceiros prestadores de serviços, terão uma terceira pessoa, que em vários lugares também do mundo e em Cabo Verde, consegue verificar se os dados pessoais são verídicos. Todo o processo vai desenvolver através de um componente de inteligência artificial que funciona como os bancos que fazem a transferência e a SISP que controla as transações”, garante.
Lançamento do projecto piloto em Santa Cruz
Tendo em conta que a ideia inicial era trazer algo inovador para Santa Cruz, que acabou por ser alargado, entretanto, a todo o país, Nelson Varela diz que escolheram este concelho para o lançamento piloto do projecto.
“Já apresentámos a ideia à Câmara Municipal e ela mostrou toda a abertura em colaborar connosco. Considera que os serviços que pretendemos prestar representam uma mais-valia. Por exemplo, há interesse que os emigrantes, mesmo do estrangeiro, paguem os impostos”, explica.
Depois de Santa Cruz, emigrantes.cv segue para o concelho de São Miguel, outro ponto estratégico para chegar às outras ilhas e municípios do país.
“Para além da proximidade entre São Miguel e Santa Cruz, seguir para este concelho é um ponto estratégico para abordar o seu presidente Herménio Fernandes que é também presidente da Associação dos Municípios de Cabo Verde. Com este automaticamente faremos com que a ideia chegue a todos os municípios”, justifica.
Fases de implementação
Neste momento, diz o nosso entrevistado, “estamos a fazer recolha de mais feedbacks depois de alguns pontos iniciais que nos permitem avançar. Temos todos aqueles componentes que serão resolvidos em parte”, garantiu, acrescentando que após as informações, a ideia é avançar com os serviços delivery que serão disponibilizadas também a nível dos concelhos.
“Um estudante santacruzense a caminho da Praia consegue através da plataforma levar uma encomenda e acaba conseguindo uma recompensa. Se receber 100 escudos por exemplo, fica com 60, 20 vai para a fiscalizadora que garante a segurança do produto e uma parte vai também para a plataforma que faz a ponte”, explica.
Numa segunda fase, Nelson Varela diz que darão oportunidade para os parceiros disponibilizarem os seus serviços. Nesta parte entram as prestações de serviços das autarquias como pagamento de impostos, compra e venda de terrenos, entre outros serviços procurados pelos imigrantes em cada concelho”.
Serviços alfandegários
Ainda nesta fase entram os serviços alfandegários na parte de gestão e monitorização de todo o processo.
“Esta parte é muito mais complexa e requer mais tempo e cuidado. No entanto, depois de socializar a ideia e de encontrar um interessado competente nesta matéria, podemos seguir com serviços de levantamento de encomendas nas alfândegas através da plataforma. Da forma como queremos trabalhar, os emigrantes poderão acompanhar todo o processo até ter tudo em mãos”, explica o jovem engenheiro, para quem as vantagens desta plataforma são inúmeras, dando oportunidade de negócio a todos.
“Mais à frente, vamos lançar um desafio aos emigrantes para serem agentes turísticos, ou seja, falar de Cabo Verde e dos seus pontos turísticos para fazer com que recebamos cada vez mais turistas. Cada emigrante que levar à plataforma turistas que pretendem vir para Cabo Verde para usufruirem dos nossos serviços recebe uma recompensa financeira”, sublinha.
Boa aceitação
O nosso entrevistado garante que, até aqui, tudo tem corrido bem. “Os emigrantes abordados, até agora, já mostraram todo o interesse, congratulando-se com a ideia de que vão poder estar melhor servidos”.
Assim, esses jovens esperam, com esta plataforma, melhorar os serviços, mas também o desenvolvimento de Cabo Verde, em vários níveis. “Estamos abertos para ouvir os emigrantes, as suas preocupações de forma a fazer com que a plataforma seja solução para todos os seus problemas. Queremos também feedbacks das instituições e parceiros já que aqui ninguém fica de fora se tiver serviços a prestar”, termina.