Suicídio em Cabo Verde tem rosto masculino
Dados oficiais indicam que a maioria dos suicídios registados no país foram cometidos por homens e apenas uma pequena parte por mulheres. As psicólogas ouvidas pelo A NAÇÃO sobre o tema, neste mês dedicado a esta problemática, alertam que “urge combater, vigorosamente, esta séria questão de saúde pública”.
Das notícias vinculadas pela imprensa sobre suicídios, é possível notar que a maioria é cometida por homens. Esta ideia é confirmada pelo relatório estatístico do Ministério da Saúde de 2019. Esta fonte indica que dos suicídios registados no país em 2018, 49 foram homens e seis foram mulheres.
A psicóloga Evanisia Pinto adianta que isso se deve às dificuldades que os homens têm de lidar com as suas frustrações e em expressar as suas emoções.
“A sociedade também tem culpa, pois, apesar da luta pela igualdade e equidade de género, temos uma sociedade machista e esta mesma sociedade penaliza muito o homem. Temos as crenças e a cultura de defender que o homem não deve chorar, tem de ser forte a todo o custo e a sua educação ensina-os que são eles mesmos a resolverem os seus problemas. E, por isso, neste tipo de situações têm mais dificuldade em comunicar e partilhar o que sentem”, elucida.
Já quando se trata da população feminina, é muito mais fácil identificar se têm sinais, comportamentos ou pensamentos suicidas, tendo em conta que elas têm “mais facilidade em chegar em uma terceira pessoa para expor as suas preocupações e falar de seus problemas”.
Grupos de risco e sinais de um suicida
Para a psicóloga Denise Oliveira, “ninguém está imune ao suicídio”, isto é, ele “pode acometer a qualquer um de nós”.
Porém, há grupos de pessoas que correm um maior risco, como é o caso de indivíduos com “historial de tentativa de suicídio”...
“São pessoas que tiveram suicídios na família, pessoas com doenças mentais, indivíduos que experimentam situações de vida desgastante como conflitos familiares e interpessoais, fins de relacionamento, dificuldades financeiras, problemas no emprego, perda de emprego ou falta dele, morte de um parente próximo, diagnóstico de doença física grave e crónica; pessoas que vivenciaram traumas na infância”.
Com estes grupos, e com qualquer outro indivíduo, as pessoas mais próximas devem ter em atenção determinados sinais, pois, segundo Denise Oliveira, normalmente, o suicídio vem acompanhado de “pensamentos, planeamento e tentativas suicidas”.
Por esta razão, alerta, “é importante estarmos atentos a verbalizações que traduzem pensamentos e sentimentos de desesperança e auto-desvalorização ou ações indicadoras de um plano”.
“Verbalizações como ‘preferia estar morto’, ‘não aguento mais’, ‘sou um fardo para os outros’, ‘seria melhor viverem sem mim’ podem ser o anúncio de um comportamento suicida, um pedido de ajuda, de maneria que devemos valorizá-las e sobre que maneira”, sublinha a psicóloga.
Além disso, essa profissional reforça que existem outros sinais a ter em atenção como o “aumento do uso de álcool ou drogas, ansiedade ou pânico, agitação, irritabilidade, pessimismo, apatia, alterações repentinas no hábito alimentar e de sono. Sentimentos de tristeza profunda, solidão, impotência, desesperança, desespero, culpa, vergonha, ódio, raiva, busca de vingança”. Cartas de despedida ou menção repetida de morte ou suicídio também são indícios que não devem, sob forma alguma, ser ignorados.