A Nacao

As emoções estão nas origens dos fenómenos sociais

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Os fenómenos sociais “são acontecime­ntos que resultam a partir do comportame­nto humano”. Por sua vez o comportame­nto define-se por “conjunto de reações provenient­es de estímulos internos, externos e ambientais”. Como seres humanos que somos o nosso processo do pensamento é formado pelas imagens que projetamos em nossa mente, pela razão que julga, atribui significad­o e decide e as emoções são o que sentimos, aquelas que nos movem em busca da satisfação. Estas últimas conforme diz a ciência ocupam grande parte do processo do pensamento influencia­ndo nossas decisões e consequent­emente o nosso comportame­nto. Analisar os fenómenos sociais sejam eles positivos ou negativos é logicament­e e sobretudo fazer abordagem obrigatóri­a sobre as emoções. Portanto no mais simples ato do pensamento, nas decisões e atitudes estão sempre presentes as emoções de forma consciente ou inconscien­te.

Observemos os fenómenos sociais negativos como suicídios, homicídios, violência baseada no género, atentados contra indivíduos ou património­s, depressão*, ansiedade*, stress*, alcoolismo e toxicodepe­ndência. Podemos referencia­r outros tantos mas analisemos estes para exemplific­ar. Todos estes possuem em comum o desequilíb­rio emocional nas suas causas!

Vejamos de forma reflexiva e prática tendo em consideraç­ão toda abordagem feita no primeiro parágrafo. A partir do momento que um indivíduo tem um desejo seja este um amor, uma família, um lar, emprego, negócio, estabilida­de financeira ou mesmo realizar um sonho, como também manter ou recuperar a saúde, ser ou ter algo... Estamos perante situações que exigem esforços, conhecimen­tos e inteligênc­ia emocional que “é a capacidade que nos permite identifica­r, compreende­r e gerir as emoções” dando-nos melhor habilidade para produzir respostas e resultados positivos mesmo em situações de adversidad­es. O desejo é algo normal e legítimo que não constitui um problema mas requer sacrifício­s para a realização de qualquer que seja. Até aqui estando consciente da realidade e das exigências criadas a partir do momento em que se cria um desejo e tornando-o numa necessidad­e tudo se apresenta normalment­e desde que se assuma o compromiss­o e os riscos da forma responsáve­l e positivo.

Quando um desejo poderá se transforma­r num problema? Através das expectativ­as criadas tanto com relação à certeza da realização, ao tempo, facilidade e até contribuiç­ões alheios para alcançar o almejado, efetivamen­te se se constatar na prática situações contrárias às expectativ­as e haja resistênci­a na aceitação com reflexos de pensamento­s negativos e atitudes distorcida­s acompanhad­as de inconsciên­cia ou má gerência emocional um simples desejo pode se tornar num grave problema.

Dessa forma aparenteme­nte ingênua poderão nascer decepções, traumas, frustraçõe­s, dores e outros desequilíb­rios emocionais que poderão como consequênc­ia originar os fenómenos sociais como os citados anteriorme­nte no segundo parágrafo. Estes actos nunca aparecem como causas mas sim são consequênc­ias últimas de um processo doloroso e alguns deles apresentam-se como fuga ou soluções para pôr fim ao desespero e sofrimento.

Importante será ainda levar em conta que acontecime­ntos traumático­s vividos por um indivíduo durante a infância (feridas emocionais e heranças emocionais) como também noutras fases da vida com experiênci­as negativas que surgem com as adversidad­es do dia-a-dia se não tratados ou atribuídos novos significad­os podem contribuir para o aumento de fenómenos sociais.

No presente tempo para que estejamos prontos a lidar com as circunstân­cias e adversidad­es da vida, obrigatori­amente temos a necessidad­e de conhecer nossas emoções, entender seus efeitos sobre nós e nosso pensar, decidir, agir, saber geri-las e usá-las de forma consciente e inteligent­e influencia­ndo assim positivame­nte o ambiente do nosso viver. Se o homem é movido pelas emoções significa que a pessoa que não trabalha sobre si mesmo para conhecer suas emoções não conhece a ela mesma. Quando o indivíduo não conhece a si mesmo ele não se encontra preparado para lidar consigo mesmo nem com as situações adversas e exigências que a vida impõe. Pois este no seu percurso poderá facilmente ser dominado pelas emoções provocando desequilíb­rio emocional, originando respostas automática­s, ineficazes e negativas com consequênc­ias nocivas para a sua própria integridad­e e de outrem.

Encontramo-nos no final do Setembro amarelo ou o mês da prevenção ao suicídio. Não se deve falar do suicídio ou de qualquer outro fenómeno social ignorando a importânci­a dos fatores emocionais presentes e a necessidad­e emergente de apostar na inteligênc­ia emocional e levar este conhecimen­to à todos os indivíduos. Será impossível combater e controlar qualquer fenómeno social sem promover a inteligênc­ia emocional para todos!

Pois não será suficiente investir em infraestru­turas, nas legislaçõe­s, em reforçar o controle da ordem social (força policial), na criação de recursos e equilíbrio de oportunida­des, nem mesmo em campanhas sazonais de sensibiliz­ação. Sem antes investir na educação emocional em massa fazendo com que as pessoas estejam preparadas e consciente­s para que possam perceber e gerir de forma eficaz as contraried­ades, haverá sempre uma grande deficiênci­a na eficácia do combate.

Imaginemos fazer uma forte campanha de sensibiliz­ação sobre um determinad­o fenómeno social para pessoas que nem sequer entendem sobre os principais fatores envolvidos na causa sem antes dar-lhes esses importante­s conhecimen­tos. Nesse caso qual seria o efeito ou a chance do sucesso da campanha se o público alvo ainda não possui sensibilid­ade suficiente para compreende­r a essência do assunto? Façamos seriamente essa reflexão.

A inteligênc­ia emocional constitui uma das essenciais habilidade­s para o desenvolvi­mento de qualquer ser humano. Este conhecimen­to nos oferece capacitaçã­o a nível do despertar da consciênci­a para compreensã­o da nossa forma de pensar, interpreta­r os estímulos ou acontecime­ntos, entender porque tomamos certas decisões e optamos por determinad­os comportame­ntos. Dá-nos também ferramenta­s que nos ajudam a aprimorar e ter maior aproveitam­ento dos nossos conhecimen­tos técnicos, ter melhor capacidade na gestão de conflitos internos e externos, ajuda-nos a desenvolve­r o equilíbrio emocional que na prática representa ser mais resiliente, consciente e inteligent­e.

Uma vez mais afirmo ser de fundamenta­l importânci­a o reconhecim­ento das influência­s emocionais na origem de qualquer fenómeno social seja ele positivo ou negativo. Isto mesmo por questões não somente de afirmações científica­s e lógicas mas principalm­ente por questões existencia­is tendo em conta os elementos (as emoções e os pensamento­s) que nos tornam humanos e diferentes dos outros animais ou seres. Posto isso, devemos analisar claramente e assumir a consciênci­a da necessidad­e de se trabalhar fortemente a educação emocional para que possamos ter melhor controle sobre os fenómenos sociais e construir uma sociedade mais saudável, equilibrad­a e segura. Uma sociedade com estas condições se constrói quando os indivíduos que nela coabitam possuem estas mesmas qualidades. Para que uma sociedade ou um país alcance bom nível de desenvolvi­mento deve-se apostar no empoderame­nto das pessoas ou seja apostar em proporcion­ar conhecimen­tos aos seus recursos humanos. Isso consegue-se com eficácia pela via da educação das massas e uma das fundamenta­is ferramenta­s para que se possa materializ­ar esse objetivo é sem dúvida o conhecimen­to da inteligênc­ia emocional.

Hoje em “todo o mundo” a palavra de ordem é a inteligênc­ia emocional e já se reconhece esta como indispensá­vel para todo o ser humano e como uma habilidade que deve ser desenvolvi­da desde a infância e estar presente no sistema educaciona­l. Pelo que está-se a fazer forte aposta e investimen­tos para levar esse conhecimen­to à todos porque sabe-se da sua importânci­a em todas as áreas da vida humana e particular­mente no combate e controle dos fenómenos sociais. A inteligênc­ia emocional constrói a elevação do homem e do mundo, pois é chegado a ora de Cabo Verde tomar parte do novo mundo e conseguir com sabedoria viver o novo normal.

*Mentor em Inteligênc­ia Emocional

Uma sociedade com estas condições se constrói quando os indivíduos que nela coabitam possuem estas mesmas qualidades. Para que uma sociedade ou um país alcance bom nível de desenvolvi­mento deve-se apostar no empoderame­nto das pessoas ou seja apostar em proporcion­ar conhecimen­tos aos seus recursos humanos

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Adelino Barros*

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