O mundo à espera do assalto final a Kiev
A invasão russa à Ucrânia continua cada dia mais violenta. Putin intensificou os ataques nas zonas urbanas da Ucrânia, enquanto a população se abriga do perigo onde e como pode. Apesar das tentativas de conversação de paz entre Kiev e Moscovo, o apoio em peso da Europa e dos EUA às autoridades ucranianas, o banho de sangue persiste, constituindo este a mais grave crise desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
As forças russas multiplicaram as investidas em áreas urbanas naquilo que apelidam de “ataque de alta precisão a alvos estratégicos”, em Kiev. Com a intenção de cortar a comunicação da capital, foi feito um ataque à torre de televisão do país, cortando um dos principais meios de comunicação ao país invadido.
O bombardeamento da segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, foi descrito pelo presidente Volodymyr Zelenskyy como um crime de guerra. O procurador Tribunal Penal Internacional abriu uma investigação e as audiências começam na próxima semana. Enquanto isso, terão chegado mais tropas russas à cidade, por meios aéreos. Uma longa coluna de tanques de guerra dirige-se a Kiev, de onde, ao que tudo indica, Zelenskyy continua a comandar a resistência.
Cada vez mais isolada internacionalmente, e sem o apoio expresso do seu aliado chinês, Moscovo vem reiterando os seus avisos para a população abandonar Kiev, para aquele que poderá ser o assalto final ao coração da Ucrânia. Mas quanto mais tempo se passa sem que os russos conquistem Kiev (ou mesmo Kharkiv, sob fortes ataques desde domingo), mais aumenta o perigo de ataques com maior número de vítimas.
Negociações em andamento
Contudo, nem as negociações têm servido para acalmar a Rússia. Depois das duas primeiras rondas de conversações de paz, na zona fronteiriça Ucrânia e Bielorrússia, que ocorreram nesta segunda e quarta-feira, a guerra segue sem perspectiva de cessar-fogo. Isto porque, segundo Zelenskyy, não se pode sentar para negociar enquanto os aviões estão a sobrevoar e a bombardear a Ucrânia.
Os EUA, por sua vez, anunciaram, esta quarta-feira, que não vão enviar tropas a Ucrânia em resposta a invasão russa. O presidente Joe Biden afirma que os EUA já deram à Ucrânia mais de mil milhões de dólares (900 milhões de euros) em assistência directa.
Washington vai continuar a apoiar o povo ucraniano, mas as forças norte-americanas “não entram e não vão entrar em conflito com as forças russas na Ucrânia”. Contudo os EUA vão defender “cada centímetro” dos territórios dos aliados da NATO.
Invasão continua violenta
A ofensiva das forças de Vladmir Putin prossegue em diversas frentes no território ucraniano, desde a passada quinta-feira, 24 de Setembro. As Nações Unidas já avançam 192 civis mortos, incluindo sete crianças e 304 feridos, mas o balanço real “será consideravelmente mais elevado”, alerta Michelle Bachelet, alta comissária para os refugiados. Kiev, anunciou, por sua vez, mais de 350 civis ucranianos e três mil soldados russos mortos nesta guerra. Os números oficiais ainda não foram avançados.
As autoridades apontam para mais de 600 mil deslocados de guerra que procuram abrigo em países da União Europeia vizinhos da Ucrânia, sobretudo Polónia e Roménia. Neste cenário há africanos e asiáticos, residentes na Ucrânia, que têm relatado racismo dos policiais ucranianos durante à saída do país. Este facto tem sido explorado pelos apoiantes de Putin na sua luta contra o “neonazis” e “drogados” ucranianos, como se refere ao regime de Kiev.
Onda de sanções
Face ao cenário de caos, são cada vez mais as sanções que a comunidade internacional tem aplicado a Rússia. A União Europeia fechou o espaço aéreo aos aviões com quaisquer ligações à Rússia, excluiu diversos bancos russos do sistema internacional SWIFT e aprovou, pela primeira vez, o financiamento da compra de armas para um país sob ataque. O Reino Unido está a pressionar a exclusão da Rússia da Interpol e até do Conselho de Segurança da ONU, o que parece muito improvável, dado que as decisões desse órgão podem ser vetadas por Moscovo.
No desporto, a FIFA e a UEFA emitiram um comunicado conjunto a anunciar a suspensão “até nova ordem” da selecção de futebol e dos clubes de futebol da Rússia de todas as competições.
Putin respondeu às sanções com a colocação em alerta máximo das apelidadas forças de dissuasão, que se presume incluírem as mais de mil ogivas nucleares existentes no país, em jeito de ameaça aos países que se mostram contra a ofensiva.
A guerra prossegue no seu 8º dia, deixando rasto de destruição na Ucrânia, com mortes, feridos e deslocados sem que se tenha previsão para o fim do “banho de sangue” e da instabilidade entre os dois países. Pela sua dimensão este é já visto como o mais grave conflito armado, na Europa, depois da Segunda Guerra Mundial, que terminou em 1945, tendo a Rússia como um dos vencedores contra as forças da Alemanha.