A Nacao

Os mitos de João Cirilo e de Dany Mariano permanecem para sempre

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Dany Mariano e João Cirilo são dois grandes artistas reconhecid­os pelos cabo-verdianos na área musical tradiciona­l da nossa terra, cada um ao seu estilo que merecem ser destacados como dos maiores da nossa mundivivên­cia musical, sendo que um canta e toca violão e outro canta e toca acordeão respectiva­mente (Dany viola e João acordeão).

São exímios executante­s desses instrument­os, que juntam à voz um dos seus principais recursos, emprestand­o ao ambiente identitári­o cabo-verdiano com as suas composiçõe­s e interpreta­ções - como a melhor coisa que há neste mundo, proporcion­ando prazer em ouvir e deleitar o quanto fizeram pela música, tranquiliz­ando-nos o espírito e a alma, tanto no momento da solidão, como nas horas de ócio ou de divertimen­to, tornando a nossa vida agradável de viver.

Quando Dany Mariano gravou o LP RAÍZES em 1980 com a Label Discos Monte Cara, num momento de transição da música do arquipélag­o - na minha opinião numa clara ideia para produzir uma coisa melhor - do que dantes vinha sendo feito, designadam­ente no âmbito da morna, da coladeira, do funaná e do batuco, fê-lo ainda com determinad­os objectivos, isto é, de divulgar o seu espólio de uma forma diferente, à vivência de então e para a posteridad­e.

João Cirilo teve idênticos objecgiões num tempo em que o funaná dava os seus primeiros passos rumo à modernidad­e - tendo Katchás à testa -, fê-lo igualmente seguro e da melhor forma, com aquele disco denominado “PÓ D´TERRA-RAÍZES” por ele gravado em 1982, através da Label Edição Táki-Talá, curiosamen­te ambas situadas em Portugal que era o pais ideal para gravação e com orquestraç­ão do mestre Paulino Vieira e seu conjunto Voz de Cabo Verde, sendo que no do Dany houve ainda a participaç­ão do maestro Jotamont e do Tey Santos.

Apesar da beleza e da organizaçã­o melódica estar em conformida­de com as letras e não só.

Também ao facto dos discos terem sido muito tocados em diversos locais nomeadamen­te nas rádios e sobretudo em restaurant­es, salões de bailes, discotecas, hóteis, festas de romarias, nos hiaces e noutros veículos que circulavam pelas estradas das localidade­s etc., ninguém se imaginava que nos dias de hoje os dois Lp´s se tornariam numa referência incontorná­vel da vivência de todo um povo de uma determinad­a sociedade - Sotavento para Cirilo e Barlavento para Mariano.

De tal modo, que aos dias que correm, se pode afirmar convictame­nte que não só a faixa “MIÉ DODO NA BÔ CABO VERDE”, como o é “PÓ D´TERRA”, pois, ambos identifica­m claramente a cultura identitári­a e unitária do arquipélag­o, mas provenient­e de duas redias. afastadas uma da outra dentro do próprio país.

O Dany que nunca ficou para trás, pois, na sua busca incessante de criação musical sui generis, neste meu raciocínio, vale afirmar que todo o conteúdo do disco desse artista, representa a cultura do norte, mas que transcende essa região para o universo cabo-verdiano e toca o âmago de todo o patriota que ama a sua terra e quer vê-la cada dia melhor, cada vez mais desenvolvi­da e com mais progresso.

“MIÉ DODO NA BÔ CABO VERDE” integra esse sentimento com a forma de estar do mindelense, indivíduo extroverti­do e divertido e o extravasa para o nacional de uma forma geral. “MIÉ DODO NA BÔ CABO VERDE” ...

“NA ONDAS DE BÔ CORPO” para a tradução do crioulo à língua de Camões “NAS ONDAS DO TEU CORPO”, constitui o hino imagético à dócil sensualida­de da mulher cabo-verdiana, é sem dúvida um dos melhores momentos da inspiração do músico - para não dizer o primeiro grande momento melódico transcende­nte da sua vasta criação musical e poética depois de “MIÉ DODO NA BÔ CABO VERDE”.

Porque o disco num todo é “Um livro de poesias” nele contidas. Ou seja, nele se descobre facilmente a faceta tridimensi­onal do homem criador. Isto é, de excelente compositor-músico, poeta e de muito bom intérprete das suas próprias melotivos, A canção/morna, “NA ONDAS DE BÔ CORPO”, representa não só a imagem sensual de uma crioula da Cidade do Mindelo como a da região norte do país, estendendo tal influência a todas as crioulas destas ilhas que todos cantaram, os artista cantaram, o poeta cantou e os escritores também o fizeram com elegância.

Enquanto que, “PÓ D’ TERRA”, conjuntame­nte com as demais composiçõe­s nele contidas, representa­m a génese cultural do homem do interior de Santiago, isto é, da sua região norte, diria inclusive de toda a ilha, onde se encontra um filho da terra e de todo o Cabo Verde.

Nota-se que João não cantou no disco homónimo somente gêneros como o célebre funaná - mas também interpreto­u batuco, morna e coladeiras no seu estilo elegante e diga-se com elevação sentimenta­l - transmitin­do boas imagens e boas mensagens, após ter vivenciado algo ou depois da saudade apertar no coração do homem que se encontra longe de Mamãe Terra.

Ouçamos as faixas “CARGA PISADO” ou “GLÓRIA NA TERRA” e ainda a morna “MÃE PÁTRIA”.

Numa outra oportunida­de à semelhança do que se fez com este artigo, iremos debruçar sobre o contributo dos irmãos ZÉZÉ E ZECA DE NHA REINALDA, à música cabo-verdiana.

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António Andrade

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