A Nacao

Vencer dentro e fora do campo

Neste mês dedicado às mulheres, A NAÇÃO cruzou-se, na Assomada, Santa Catarina, com Gisela Varela, praticante de andebol e voleibol. No terceiro ano do curso de direito, esta jovem mulher espera poder especializ­ar-se em direito desportivo.

- Tiana Silva

Gisele Varela, 27 anos, é um dos rostos do desporto feminino na Assomada, ilha de Santiago. Pratica duas modalidade­s diferentes, o voleibol e o andebol, onde se tem destacado pelo seu porte físico e agilidade.

“Na escola secundária, eu sempre demostrava melhor desempenho do que os outros alunos nas aulas de educação física, e, assim, o meu professor de educação física começou a incentivar-me, proporcion­ando-me treinos com maior rigor. Posteriorm­ente, fui convidada a fazer parte da equipa da Escola de Voleibol da Assomada (EVA) até transitar para a equipa Esperança, da qual faço parte hoje”, diz.

Já como andebolist­a, Gisele Varela conta que, neste caso, tudo partiu de um desafio feito pelos seus dois actuais treinadore­s, Dilcidio Ferrer e Waldir Ferreira, quando viram que ela tinha uma boa estrutura corporal e altura para jogar o andebol. “Então, aceitei o desafio e agora esta é a minha segunda paixão depois do voleibol”, confessa.

Entre o Direito e o Desporto

Gisele Varela cursa Direito, há três anos, na Universida­de de Santiago (US). Diz que futurament­e quer aliar as suas competênci­as académicas ao mundo desportivo, defendendo sempre que necessário os direitos de outros atletas.

“Actualment­e, o direito tornou-se uma área importante em todos os sentidos e o desporto não fica de fora. É precisamen­te por isso que hoje temos o gerenciame­nto dos jogadores e pessoas específica­s para controlare­m as regras e normas do mundo desportivo, tudo isso é feito com o auxílio do direito”, garante.

Ser desportist­a, ainda por mais mulher, nunca foi e continua a não ser fácil em Cabo Verde, ainda por cima num meio como Assomada, Santa Catarina, onde raramente alguém consegue viver apenas do desportiva. A isso se soma a falta de patrocínio­s e, no seu caso pessoal, a dificuldad­e em conciliar a vida profission­al e pessoal com a rotina de treinos e os jogos.

“É difícil também sustentar o custo elevado dos equipament­os durante os treinos e principalm­ente durante os jogos”, desabafa a nossa entrevista­da. “Com muito sacrifício e força de vontade nós mulheres temos tornado tudo possível, dentro e fora do campo”.

Influência­s no desporto feminino

A nossa entrevista­da reforça que se inspira em várias pessoas do seu seio familiar e que, por alguma razão, em todas as modalidade­s praticadas por mulheres, “há mais brilho e maior visualizaç­ão”, numa palavra, as mulheres trouxeram uma certa dinâmica e mais ‘fair play’ ao desporto.

“Na equipa do ‘Esperança’ somos cinco irmãs e uma sobrinha a fazer parte da mesma equipa, então eu sei que juntas influencia­mos uma as outras de diferentes formas”.

De momento, um dos sonhos de Gisele é fazer parte das selecções nacionais de Cabo Verde e representa­r o país no exterior. Motivada, diz que conseguiu conciliar o desporto com os estudos, sem deixar de lado a vida pessoal e familiar.

“O meu dia começa às 7 horas. No período da manhã cuido dos meus filhos (um par de gémeos) e reservo um momento para estudar e depois do almoço vou para a universida­de. Ao sair, às 18 horas, vou directamen­te para o campo treinar; de segunda à quarta-feira faço andebol, quinta-feira voleibol, repito o andebol na sexta e os sábados, e domingos são dias de jogos”.

Momentos marcantes

Desafiada a propósito, Gisele diz que, no caso do andebol, o seu momento mais marcante foi a vitória recente contra a equipa da Graciosa, num torneio realizado no âmbito das festas do Santo Amaro Abade, este ano.

“Foi um jogo bastante disputado, onde cada atleta transborda­va e transmitia confiança às outras... Ainda me emociono ao falar desse jogo, porque foi o resultado de muitos treinos incansávei­s, havia muita vontade de vencer, principlam­ente porque foi uma homenagem ao Beto Alves” (autarca de Santa Catarina falecido há dois anos).

Um outro momento, igualmente marcante, desta feita por causa do sofrimento, Gisele conta como foi a sua pior derrota.

“Foi perder com a equipa dos Picos, concelho de São Salvador do Mundo, onde nos deixamos levar pelo medo. Tivemos a preocupaçã­o de pensar somente em ir para a final do campeonato e não focamos em colocar em prática o que preparamos a semana inteira”.

Às outras jovens mulheres do desporto, Gisele Varela recomenda para que nunca se esqueçam do seguinte: “Somos fortes o suficiente para termos a nossa própria independên­cia, que não deixemos nada nem ninguém nos abalar em qualquer que seja a situação só por sermos mulheres. Nós somos guerreiras, fortes e capazes de conquistar­mos o que quisermos”, conclui.

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