Vida e legado de Luís Loff de Vasconcelos eternizados em livro
O livro “Luís Loff de Vasconcelos – Obra quase Completa, volume I, OPÓSCULOS” foi lançada na passada sexta-feira,18, no âmbito da Gala dos 30 anos da Ímpar, em São Vicente. A obra retrata a vida de Luís Loff de Vasconcelos e os seus feitos enquanto ativista, jornalista e advogado e, acima de tudo, enquanto lutador da construção e dignificação da identidade crioula. Um legado importante agora eternizado e testemunhado em livro, com questionamentos e preocupações muito actuais para a realidade dos nossos dias.
Com a chancela da editora Artiletra, a apresentação da obra decorreu no hotel Porto Grande, e esteve a cargo de Ana Cordeiro e do Bispo Dom Ildo Fortes, a convite de Larissa Rodrigues, investigadora e coordenadora do livro.
Durante a sua intervenção, Ana Cordeiro, destacou ser uma enorme satisfação apresentar o primeiro volume do lançamento deste livro, uma vez que, como realçou, considera Luís Loff de Vasconcelos “um dos intelectuais mais brilhantes e combativos da sua geração”. A sua apresentação debruçou-se especialmente nos opúsculos, fazendo um resumo dos mesmos.
“Não vou falar da biografia e bibliografia do autor, pois, nas páginas de introdução a este volume, e de forma sucintamente brilhante, esta escrito o que demais essencial há dizer sobre a vida e obra do autor. Sobre os opúsculos, sim, há e haverá muito a dizer. Agora, passam a estar disponíveis ao grande público e, com certeza, passarão a ser objeto de estudo imprescindível da historiografia cabo- verdiana. Aqui encontramos elementos essenciais, como é que a ideia de nação tomou corpo nas ilhas, moldada por uma construção identitária pela rejeição do domínio colonial e por uma ideologia republicana”, realçou.
Luta pela dignidade
A investigadora, acrescentou ainda que este primeiro volume demonstra que Luís Loff de Vasconcelos procurou, por todos os meios, ao seu alcance “reivindicar investimentos e medidas que trouxessem às ilhas o desenvolvimento tão necessário, nos transportes, na indústria e na educação”, mas, também, “tão ou mais importante” do que luta pelo desenvolvimento de Cabo Verde, realça Ana Cordeiro, foi a luta que ele travou “pela dignidade do seu povo e pelo reconhecimento das suas qualidades enquanto cabo-verdianos e africanos”.
Atualidade e pertinência das preocupações da época
No decorrer da sua apresentação, a investigadora fez menção a factos curiosos que deixam transparecer que as preocupações daquela época prevalecem nos nosso dias, e que muitos dos temas da agenda política atual já vinham sendo retratados por Luís Loff de Vasconcelos, no século passado. Sendo os “erros” apontados por Vasconcelos e apresentados por Cordeiro, os seguintes: “Uma Administração excessivamente centralizada na Praia; uma deficiente organização da justiça; um regime aduaneiro pouco adequado à economia local demasiado complexo e até incoerente; falta de competitividade nas atividades económicas devido a elevados impostos e excesso de taxas; falta de investimento no ensino pú
blico e falta de infraestruturas necessárias ao incremento da navegação”, elencou.
Neste contexto, Ana Cordeiro questionou como é que Luís Loff de Vasconcelos ficou esquecido durante tantos anos, tendo em conta o seu contributo na defesa dos direitos dos cidadãos e o seu patriotismo.
“É difícil entender como é que um homem com a força, a coragem, como o Luís, esteve tanto tempo à espera da história?”. Do seu ponto de vista há duas explicações. A primeira, diz, é puramente factual, pois as obras que publicou e os jornais que fundou, e dirigiu, desapareceram e, segundo, porque em Cabo Verde “não há uma cultura de arquivo não se valoriza os documentos e o clima não ajuda”, lamenta.
Por isso, acredita que “se não fosse o livro de João de Oliveira, sobre a imprensa em Cabo Verde, e o empenho da família Vasconcelos, esse esquecimento continuaria”.
Um “grande visionário” para Dom Ildo Fortes
Também o Bispo Dom Ildo Fortes não poupou elogios a Luís Loff de Vasconcelos. Na sua intervenção explicou que, depois do seu contacto com a obra, atreve-se a dizer “que estamos na presença de um grande visionário para o desenvolvimento de Cabo Verde”.
Sempre com a serenidade que lhe é conhecida, o Bispo Dom Ildo Fortes fez questão ainda de realçar que “o mundo seria outra coisa”, como diz Manuel de Novas, se Luís Loff de Vasconcelos “tivesse sido escutado e não relegado para o esquecimento”.
As palavras sábias do avô
A apresentação da obra “Luís Loff de Vasconcelos – Obra quase Completa, volume I, OPÓSCULOS” contou ainda com a emocionante intervenção de Augusto Vasconcelos Lopes, um dos fundadores do Grupo Ímpar e neto de Luís Loff de Vasconcelos. Augusto Vasconcelos Lopes destacou a importância do legado do avô e, numa analogia entre o passado e o presente, face à conjuntura da Guerra na Europa, devido à invasão da Rússia à Ucrânia, recordou as dificuldades vividas durante a Segunda Guerra Mundial.
“Hoje, é mais um dia especial, que guardarei na minha memória e na minha alma. Eu gostaria que este dia de hoje, este dia de festa, para mim, tivesse calhado num tempo diferente, num tempo melhor, em que não estaríamos a receber os horrores da guerra que, infelizmente, os homens desencadearam neste século”, lamentou.
Mas , prosseguiu, “a roda do tempo tem os seus caprichos e os seus males difíceis de entenderem e, nós, pequenos e insignificantes, infelizmente só nos resta a melhor forma de entender esta loucura, e pedir que consigam dar à volta por cima e produzir a paz”, almejou, lembrando, “eu sofri na pele as consequências da Segunda Guerra Mundial, eu criança, recordo perfeitamente”.
Homem de fé
Mas por ser um homem de fé, Augusto Vasconcelos Lopes acredita que vamos sair desta guerra “firmes e fortes” porque o “mal não dura para sempre”, recordando as palavras do avô.
“A força do bem, pese embora possíveis demoras que aconteçam, vence sempre, cá estou eu como exemplo, com quase 86 anos de idade rijo ainda, para provar que o mal não dura para sempre, com fé, devoção, o mal será vencido conforme dizia o meu avô nos seus discursos”, concluiu.
Para finalizar Cordeiro questiona como é que Luís Loff de Vasconcelos ficou esquecido durante tantos anos, tendo em conta o seu contributo na defesa dos direitos dos cidadãos e o seu patriotismo.
“É difícil entender como é que um homem com a força a coragem como Luís esteve tanto tempo a espera da história”, apontando duas razões “do meu ponto de vista há duas explicações para este esquecimento e a primeira é puramente factual as obras que publicou e os jornais que fundou e dirigiu, desparecem-se e segundo porque em Cabo Verde não há uma cultura de arquivo não se valoriza os documentos e o clima não ajuda” .
É neste sentido que julga poder afirmar que “se não fosse o livro de João se Oliveira sobre a imprensa em Cabo verde e o empenho da família Vasconcelos esse esquecimento continuaria”.
De realçar que para além do primeiro volume, agora apresentado, faltam ainda dois outros volumes para completar esta trilogia das obras de Luís Loff de Vasconcelos.