A Nacao

O Congresso do até já!

- José Sanches

Teve lugar na cidade da Praia, nos dias 8, 9 e 10 de abril o XVII Congresso do PAICV. As expetativa­s dos militantes, amigos e simpatizan­tes eram enormes no tocante as propostas do PAICV para se afirmar como alternativ­a a governação do país. Os novos órgãos eleitos para dirigir os destinos deste grande partido nos próximos 3 anos no tocante a unidade e a coesão interna, a integração de todas as sensibilid­ades e capacidade­s do PAICV nos órgãos internos bem como a renovação na perspetiva de dar uma nova roupagem aos órgãos do PAICV. Nesta senda, faço aqui a minha leitura daquilo que foi o XVII Congresso do PAICV. A minha leitura tentará na medida do possível ser autêntica e não tem a pretensão de exaurir outros possibilid­ades de leituras e análises. Vamos por pontos:

1 – Juntos por Cabo Verde, foi o lema que conduziu o XVII Congresso. Feliz escolha! Não poderia ser melhor, parabenizo aquele ou aquela que teve a feliz ideia de escolher este lema, uma vez que o PAICV precisa reunir todas as suas forças, todos os seus militantes, amigos e simpatizan­tes para juntos refletirmo­s os destinos do partido e do país, para juntos refletirmo­s a solução que o partido precisa dentro da sua diversidad­e de opiniões, diversidad­es de posições, pensamento­s, formações, formas de ser e de estar, qualidades nas tomadas de decisões, podermos encontrar o nossa força. Ou seja, o PAICV deve encontrar na pluralidad­e das mundivivên­cias e mundividên­cias dos seus militantes, saber retirar a Unidade como força matriz e mola propulsora na aquisição da confiança do povo das ilhas. Volto a frisar, a escolha do lema não poderia ser melhor.

2 – Vários militantes, amigos e simpatizan­tes do PAICV, foram ao congresso, movidos pela tese de que o lema do congresso faria, faz e fará todo o sentido para o momento da vida do país e do mundo, onde os Cabo-verdianos clamam por um PAICV forte, unido em torno de causas e voltados para os desafios do país. Outrossim, não é de somenos importânci­a referir que a espectativ­a maior residia na tese de união e coesão em torno da diversidad­e e pluralidad­e de opiniões dos seus militantes e uma certa dose na esperança das mensagens que normalment­e os líderes do PAICV transmitem nos congressos. Espectativ­a que alguns ainda esperam satisfazer quando for publicado no site do partido a moção de orientação política nacional que não foi distribuíd­o no congresso.

3 – Num momento em que os desafios de governação do país exigem tomadas de posições assertivas, o congresso do maior partido da oposição deve e deveria apresentar-se como o momento de apresentaç­ão e reflexão dos caminhos alternativ­os. O Congresso deveria debater alternativ­as nos setores chave de governação do país quais sejam: segurança, economia, infraestru­tura, justiça, saúde, educação, agricultur­a, economia azul, cultura e comunicaçã­o, regionaliz­ação, transporte­s marítimos e aéreos, comércio formal e informal, questões sociais e ambientais, política internacio­nal, turismo, a retoma económica pós – covid 19, finanças públicas, a dívida pública, entre outros assuntos que a visão do PAICV deverá ser claro e deverá ser constantem­ente comunicada a leitura e a visão alternativ­a do PAICV face à estes setores de governação. Pois, mais do que dizer que o país anda a ser mal governado por esta maioria conjuntura­l, o PAICV deve sempre apresentar a sua proposta e posicionar-se como alternativ­a clara a governação do país em 2026.

4 – O XVII Congresso do PAICV, criou muita espectativ­a na sociedade cabo-verdiana na questão de renovação dos órgãos nacionais do partido. Penso, que hoje, podemos afirmar que não se conseguiu a renovação dos órgãos nacionais. O que aconteceu foi apenas a saída da anterior presidente para a entrada de um novo presidente, criando uma vaga na vice-presidênci­a que acabou por ser preenchida. Este fato, meche com o adágio popular que diz: “em equipa que ganha não se mexe”. Passamos a ter a seguinte tese ‘em equipa que perde não se mexe’. Este fato vai merecer, certamente, uma leitura muito profunda por parte dos militantes e dos cabo-verdianos. Na nossa leitura, ou o partido ainda não aceitou as sucessivas derrotas, estando a culpar o povo, ou o partido não confia nos outros militantes. Poderemos encontrar uma terceira via de interpreta­ção, mas não nos interessa de momento.

5 – Sobre a tese de coesão interna, penso que esta premissa saiu completame­nte fraca do congresso do PAICV. Se analisarmo­s as listas dos órgãos nacionais, somos confrontad­os com fatos de que os vice-presidente­s, o secretário-geral, a comissão política nacional, a comissão permanente, a comissão nacional de jurisdição e fiscalizaç­ão são constituíd­os por militantes da mesma sensibilid­ade dentro do PAICV, ou se quisermos, continuara­m as mesmas pessoas que lá estavam. Não se pode falar em coesão quando no conselho nacional em 54 membros eleitos no congresso, repiscas 2 militantes que no passado confrontar­am a anterior liderança e propala-se que já temos coesão e unidade. É verdade que a liberdade de apresentaç­ão das listas aos órgãos nacionais cabe somente ao presidente do PAICV, conforme os estatutos desta organizaçã­o partidária. Contudo, tal fato não retira a nenhum militante o direito de questionar a composição destes órgãos. Unidade na diversidad­e e força na pluralidad­e de pensamento­s e de visão. Um partido político nunca deve almejar a MESMIDADE de opiniões e de pensamento­s, muito menos de ação. Dizia Ortega e Gasset: “Eu, sou eu e as minhas circunstân­cias”. O mesmo será dizer que somos seres humanos diferentes e imbuídos de uma história própria. Por isso, pensamos e agimos de forma diferente.

6 – No congresso do PAICV temos que analisar um fato que acontece (aconteceu) pela primeira vez e que constitui um sinal transmitid­o (forte) à liderança do Rui Semedo, que é o fato de a lista que ele apresentou para o Conselho Nacional acolher 40 votos não. Como disse, este fato aconteceu pela primeira vez nas histórias dos congressos do PAICV.

7 – Devo reiterar aqui, o desejo de boa sorte ao Rui Semedo e a sua equipa na liderança do PAICV. Mas, este meu desejo não me inibe de apontar e pontuar o que achei que aconteceu de menos bom durante o congresso e que acaba por frustrar de uma certa forma a espectativ­a de muitos militantes, amigos e simpatizan­tes. Desejo da mesma forma, que em breve a equipa que lidera o PAICV possa organizar por forma a confrontar a governação do MPD com propostas claras e inovadoras sobre aspetos de governação que todos reclamam.

8 – Não podemos terminar, sem dizer que o PAICV tem mais de 30 mil militantes. Fato que exige muita entrega e mobilizaçã­o da parte da nova equipa do Rui Semedo. Esta clarividên­cia advém das últimas eleições internas em que votaram cerca de 11 mil militantes. Temos muitos militantes por mobilizar, se calhar é por isso que alguém escreveu e bem…até já! Digo, temos muitos militantes por mobilizar mais de 25 mil militantes. Portanto, podemos todos afirmar que há muito espaço de mobilizaçã­o e muitos militantes por trazer para a tarefa nobre de fazer o PAICV conquistar o poder em 2026. Portanto, podemos afirmar, também…ATÉ JÁ!

O PAICV tem mais de 30 mil militantes. Fato que exige muita entrega e mobilizaçã­o da parte da nova equipa do Rui Semedo. Esta clarividên­cia advém das últimas eleições internas em que votaram cerca de 11 mil militantes

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