O Congresso do até já!
Teve lugar na cidade da Praia, nos dias 8, 9 e 10 de abril o XVII Congresso do PAICV. As expetativas dos militantes, amigos e simpatizantes eram enormes no tocante as propostas do PAICV para se afirmar como alternativa a governação do país. Os novos órgãos eleitos para dirigir os destinos deste grande partido nos próximos 3 anos no tocante a unidade e a coesão interna, a integração de todas as sensibilidades e capacidades do PAICV nos órgãos internos bem como a renovação na perspetiva de dar uma nova roupagem aos órgãos do PAICV. Nesta senda, faço aqui a minha leitura daquilo que foi o XVII Congresso do PAICV. A minha leitura tentará na medida do possível ser autêntica e não tem a pretensão de exaurir outros possibilidades de leituras e análises. Vamos por pontos:
1 – Juntos por Cabo Verde, foi o lema que conduziu o XVII Congresso. Feliz escolha! Não poderia ser melhor, parabenizo aquele ou aquela que teve a feliz ideia de escolher este lema, uma vez que o PAICV precisa reunir todas as suas forças, todos os seus militantes, amigos e simpatizantes para juntos refletirmos os destinos do partido e do país, para juntos refletirmos a solução que o partido precisa dentro da sua diversidade de opiniões, diversidades de posições, pensamentos, formações, formas de ser e de estar, qualidades nas tomadas de decisões, podermos encontrar o nossa força. Ou seja, o PAICV deve encontrar na pluralidade das mundivivências e mundividências dos seus militantes, saber retirar a Unidade como força matriz e mola propulsora na aquisição da confiança do povo das ilhas. Volto a frisar, a escolha do lema não poderia ser melhor.
2 – Vários militantes, amigos e simpatizantes do PAICV, foram ao congresso, movidos pela tese de que o lema do congresso faria, faz e fará todo o sentido para o momento da vida do país e do mundo, onde os Cabo-verdianos clamam por um PAICV forte, unido em torno de causas e voltados para os desafios do país. Outrossim, não é de somenos importância referir que a espectativa maior residia na tese de união e coesão em torno da diversidade e pluralidade de opiniões dos seus militantes e uma certa dose na esperança das mensagens que normalmente os líderes do PAICV transmitem nos congressos. Espectativa que alguns ainda esperam satisfazer quando for publicado no site do partido a moção de orientação política nacional que não foi distribuído no congresso.
3 – Num momento em que os desafios de governação do país exigem tomadas de posições assertivas, o congresso do maior partido da oposição deve e deveria apresentar-se como o momento de apresentação e reflexão dos caminhos alternativos. O Congresso deveria debater alternativas nos setores chave de governação do país quais sejam: segurança, economia, infraestrutura, justiça, saúde, educação, agricultura, economia azul, cultura e comunicação, regionalização, transportes marítimos e aéreos, comércio formal e informal, questões sociais e ambientais, política internacional, turismo, a retoma económica pós – covid 19, finanças públicas, a dívida pública, entre outros assuntos que a visão do PAICV deverá ser claro e deverá ser constantemente comunicada a leitura e a visão alternativa do PAICV face à estes setores de governação. Pois, mais do que dizer que o país anda a ser mal governado por esta maioria conjuntural, o PAICV deve sempre apresentar a sua proposta e posicionar-se como alternativa clara a governação do país em 2026.
4 – O XVII Congresso do PAICV, criou muita espectativa na sociedade cabo-verdiana na questão de renovação dos órgãos nacionais do partido. Penso, que hoje, podemos afirmar que não se conseguiu a renovação dos órgãos nacionais. O que aconteceu foi apenas a saída da anterior presidente para a entrada de um novo presidente, criando uma vaga na vice-presidência que acabou por ser preenchida. Este fato, meche com o adágio popular que diz: “em equipa que ganha não se mexe”. Passamos a ter a seguinte tese ‘em equipa que perde não se mexe’. Este fato vai merecer, certamente, uma leitura muito profunda por parte dos militantes e dos cabo-verdianos. Na nossa leitura, ou o partido ainda não aceitou as sucessivas derrotas, estando a culpar o povo, ou o partido não confia nos outros militantes. Poderemos encontrar uma terceira via de interpretação, mas não nos interessa de momento.
5 – Sobre a tese de coesão interna, penso que esta premissa saiu completamente fraca do congresso do PAICV. Se analisarmos as listas dos órgãos nacionais, somos confrontados com fatos de que os vice-presidentes, o secretário-geral, a comissão política nacional, a comissão permanente, a comissão nacional de jurisdição e fiscalização são constituídos por militantes da mesma sensibilidade dentro do PAICV, ou se quisermos, continuaram as mesmas pessoas que lá estavam. Não se pode falar em coesão quando no conselho nacional em 54 membros eleitos no congresso, repiscas 2 militantes que no passado confrontaram a anterior liderança e propala-se que já temos coesão e unidade. É verdade que a liberdade de apresentação das listas aos órgãos nacionais cabe somente ao presidente do PAICV, conforme os estatutos desta organização partidária. Contudo, tal fato não retira a nenhum militante o direito de questionar a composição destes órgãos. Unidade na diversidade e força na pluralidade de pensamentos e de visão. Um partido político nunca deve almejar a MESMIDADE de opiniões e de pensamentos, muito menos de ação. Dizia Ortega e Gasset: “Eu, sou eu e as minhas circunstâncias”. O mesmo será dizer que somos seres humanos diferentes e imbuídos de uma história própria. Por isso, pensamos e agimos de forma diferente.
6 – No congresso do PAICV temos que analisar um fato que acontece (aconteceu) pela primeira vez e que constitui um sinal transmitido (forte) à liderança do Rui Semedo, que é o fato de a lista que ele apresentou para o Conselho Nacional acolher 40 votos não. Como disse, este fato aconteceu pela primeira vez nas histórias dos congressos do PAICV.
7 – Devo reiterar aqui, o desejo de boa sorte ao Rui Semedo e a sua equipa na liderança do PAICV. Mas, este meu desejo não me inibe de apontar e pontuar o que achei que aconteceu de menos bom durante o congresso e que acaba por frustrar de uma certa forma a espectativa de muitos militantes, amigos e simpatizantes. Desejo da mesma forma, que em breve a equipa que lidera o PAICV possa organizar por forma a confrontar a governação do MPD com propostas claras e inovadoras sobre aspetos de governação que todos reclamam.
8 – Não podemos terminar, sem dizer que o PAICV tem mais de 30 mil militantes. Fato que exige muita entrega e mobilização da parte da nova equipa do Rui Semedo. Esta clarividência advém das últimas eleições internas em que votaram cerca de 11 mil militantes. Temos muitos militantes por mobilizar, se calhar é por isso que alguém escreveu e bem…até já! Digo, temos muitos militantes por mobilizar mais de 25 mil militantes. Portanto, podemos todos afirmar que há muito espaço de mobilização e muitos militantes por trazer para a tarefa nobre de fazer o PAICV conquistar o poder em 2026. Portanto, podemos afirmar, também…ATÉ JÁ!
O PAICV tem mais de 30 mil militantes. Fato que exige muita entrega e mobilização da parte da nova equipa do Rui Semedo. Esta clarividência advém das últimas eleições internas em que votaram cerca de 11 mil militantes