Odalilson Bandeira bate com a porta
Odailson Bandeira afirma, numa carta endereçada ao secretário-geral do PAICV, Julião Varela, que os sinais vindos do último congresso não lhe dão motivação para continuar como militante desse partido. Agindo em consequência, este antigo deputado pelo círculo de Santo Antão, decidiu pedir a sua desvinculação do PAICV.
“Nada na vida é eterno”, realça Odailson Bandeira, na carta que A NAÇÃO teve acesso. Endereçada ao secretário-geral do PAICV, Julião Varela, com conhecimento do presidente do partido, Rui Semedo, nela deixa bem claro que se desvincula do PAICV para se tornar um homem da sociedade civil.
“Depois de vários meses de reflexão e de ter ouvido os meus familiares próximos e alguns amigos, entendi que as minhas características pessoais não se coadunam mais com este novo PAICV. Ou seja, sendo eu uma pessoa irreverente, frontal, crítico e direto, sinto que não estou minimamente alinhado com o novo modus operandi dos que lideram o partido desde 2015. E, os sinais vindos do último congresso vieram a confirmar àquilo que eu já sabia”, salientou.
Diz, por outro lado, que não se sente motivado para continuar a fazer parte de uma organização, onde “a cada dia que passa, o número dos meus inimigos cresce de forma vertiginosa”.
“Gosto de estar onde me sinto bem, mas, sobretudo, onde sou bem-vindo e valorizado. Ao fim ao cabo, gosto de ser livre! Assim sendo, senhor secretário-geral, queria dizer-lhe que, tal como em 2009 entrei nas fileiras do PAICV enquanto militante, de forma livre e consciente, agora em 2022 saio com os meus próprios pés e com a consciência tranquila, porque fui um militante ativo, que deu combate em todos os momentos da vida do partido e que disponibilizou muita energia, recursos e entusiasmo em prol da referida organização”, enfatizou.
Desta forma, Odailson Bandeira requereu a sua desvinculação “deste grande partido”, enquanto militante, afirmando que “com esta difícil e dolorosa decisão”, dá por terminada a sua carreira político-partidária. “Naturalmente, não vou conseguir arrancar o PAICV do meu coração da noite para o dia, mas ao longo do tempo, quero me tornar em um homem da sociedade civil, sem estar preso ideologicamente a nenhuma corrente”.
Desalento
Bandeira começou a sua carta lembrando que, por ser filho de José Remígio Bandeira (um ex-miliciano e um fervoroso activista do PAICV), “desde tenra idade”, aprendeu “a gostar deste grande e histórico partido”.
Ou seja, “cresci com uma ligação afetiva muito forte à estrela negra e, ainda no liceu, comecei a participar nas atividades da JPAI na Ribeira Grande. Depois de ter regressado de Portugal, onde fiz o meu curso superior, em meados de 2009, entrei nas fileiras do PAICV enquanto militante”.
Este antigo deputado realça ainda que, desde essa altura, fez um pouco tudo no partido: “desde entregar cartas, arrumar salas de reuniões, colar cartazes, distribuir materiais de campanha, participação ativa nas campanhas; fui presidente da JPAI na Ribeira Grande durante três anos, fui membro do Conselho do Setor da Ribeira Grande durante muitos anos, fui membro da CPR-SA em dois mandatos (Vice-presidente da última CPR), integrei as listas para as Legislativas duas vezes, fiz parte das listas de duas Eleições Autárquicas, fui Deputado Nacional durante cinco anos e fui candidato a Câmara Municipal da Ribeira Grande. Tudo isso, fez-me crescer como homem, como profissional e como político. Assim, sou grato, eternamente, ao PAICV e aos seus líderes locais, regionais e nacionais”.
Porta sempre aberta
Contatado pelo A NAÇÃO sobre este pedido desvinculação de Odailson Bandeira, o secretário-geral do PAICV, Julião Varela, confirma a recepção da carta desse militante, afirmando o que o pedido será atendido sem quaisquer problemas tendo em conta que o mesmo não ocupa nenhum cargo no partido.
“É uma situação normal, tendo em conta que, no PAICV, qualquer cidadão pode entrar e sair do partido quando bem entender”, realçou este responsável. “Qualquer pessoa que não se identifica com os princípios basilares de uma instituição, que estiveram na origem da sua admissão, é livre para sair a qualquer momento”.
O secretário-geral do maior partido da oposição garante, no entanto, que as portas do PAICV “estarão sempre abertas”, caso o um dia Odailson Bandeira decida regressar à família tambarina.