A Nacao

Odalilson Bandeira bate com a porta

- Daniel Almeida

Odailson Bandeira afirma, numa carta endereçada ao secretário-geral do PAICV, Julião Varela, que os sinais vindos do último congresso não lhe dão motivação para continuar como militante desse partido. Agindo em consequênc­ia, este antigo deputado pelo círculo de Santo Antão, decidiu pedir a sua desvincula­ção do PAICV.

“Nada na vida é eterno”, realça Odailson Bandeira, na carta que A NAÇÃO teve acesso. Endereçada ao secretário-geral do PAICV, Julião Varela, com conhecimen­to do presidente do partido, Rui Semedo, nela deixa bem claro que se desvincula do PAICV para se tornar um homem da sociedade civil.

“Depois de vários meses de reflexão e de ter ouvido os meus familiares próximos e alguns amigos, entendi que as minhas caracterís­ticas pessoais não se coadunam mais com este novo PAICV. Ou seja, sendo eu uma pessoa irreverent­e, frontal, crítico e direto, sinto que não estou minimament­e alinhado com o novo modus operandi dos que lideram o partido desde 2015. E, os sinais vindos do último congresso vieram a confirmar àquilo que eu já sabia”, salientou.

Diz, por outro lado, que não se sente motivado para continuar a fazer parte de uma organizaçã­o, onde “a cada dia que passa, o número dos meus inimigos cresce de forma vertiginos­a”.

“Gosto de estar onde me sinto bem, mas, sobretudo, onde sou bem-vindo e valorizado. Ao fim ao cabo, gosto de ser livre! Assim sendo, senhor secretário-geral, queria dizer-lhe que, tal como em 2009 entrei nas fileiras do PAICV enquanto militante, de forma livre e consciente, agora em 2022 saio com os meus próprios pés e com a consciênci­a tranquila, porque fui um militante ativo, que deu combate em todos os momentos da vida do partido e que disponibil­izou muita energia, recursos e entusiasmo em prol da referida organizaçã­o”, enfatizou.

Desta forma, Odailson Bandeira requereu a sua desvincula­ção “deste grande partido”, enquanto militante, afirmando que “com esta difícil e dolorosa decisão”, dá por terminada a sua carreira político-partidária. “Naturalmen­te, não vou conseguir arrancar o PAICV do meu coração da noite para o dia, mas ao longo do tempo, quero me tornar em um homem da sociedade civil, sem estar preso ideologica­mente a nenhuma corrente”.

Desalento

Bandeira começou a sua carta lembrando que, por ser filho de José Remígio Bandeira (um ex-miliciano e um fervoroso activista do PAICV), “desde tenra idade”, aprendeu “a gostar deste grande e histórico partido”.

Ou seja, “cresci com uma ligação afetiva muito forte à estrela negra e, ainda no liceu, comecei a participar nas atividades da JPAI na Ribeira Grande. Depois de ter regressado de Portugal, onde fiz o meu curso superior, em meados de 2009, entrei nas fileiras do PAICV enquanto militante”.

Este antigo deputado realça ainda que, desde essa altura, fez um pouco tudo no partido: “desde entregar cartas, arrumar salas de reuniões, colar cartazes, distribuir materiais de campanha, participaç­ão ativa nas campanhas; fui presidente da JPAI na Ribeira Grande durante três anos, fui membro do Conselho do Setor da Ribeira Grande durante muitos anos, fui membro da CPR-SA em dois mandatos (Vice-presidente da última CPR), integrei as listas para as Legislativ­as duas vezes, fiz parte das listas de duas Eleições Autárquica­s, fui Deputado Nacional durante cinco anos e fui candidato a Câmara Municipal da Ribeira Grande. Tudo isso, fez-me crescer como homem, como profission­al e como político. Assim, sou grato, eternament­e, ao PAICV e aos seus líderes locais, regionais e nacionais”.

Porta sempre aberta

Contatado pelo A NAÇÃO sobre este pedido desvincula­ção de Odailson Bandeira, o secretário-geral do PAICV, Julião Varela, confirma a recepção da carta desse militante, afirmando o que o pedido será atendido sem quaisquer problemas tendo em conta que o mesmo não ocupa nenhum cargo no partido.

“É uma situação normal, tendo em conta que, no PAICV, qualquer cidadão pode entrar e sair do partido quando bem entender”, realçou este responsáve­l. “Qualquer pessoa que não se identifica com os princípios basilares de uma instituiçã­o, que estiveram na origem da sua admissão, é livre para sair a qualquer momento”.

O secretário-geral do maior partido da oposição garante, no entanto, que as portas do PAICV “estarão sempre abertas”, caso o um dia Odailson Bandeira decida regressar à família tambarina.

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