Professora Cláudia fala das suas experiências em sala de aula
Cláudia Vaz é professora na escola Miraflores. Este ano, teve o seu primeiro contacto directo com uma criança autista, de seis anos. O desafio tem sido grande.
“No início não foi nada fácil porque ele resistia a tudo que lhe era novo, apesar de estar na mesma escola onde frequentou o pré-escolar. Foi necessário um assistente dentro da sala para o acompanhar para que eu pudesse dar conta do recado”, conta esta docente que trabalha naquele estabelecimento de ensino privado desde 2012.
“Eu tive muita sorte de poder contar com a direcção e toda a comunidade educativa da Miraflores porque todos os funcionários são sensíveis para com a situação. A família da criança também esteve sempre em contacto comigo e foi possível contratar uma estagiária para acompanhar a criança permanentemente dentro da sala, para que as aulas possam decorrer com normalidade e eu possa dirigir-me à turma como um todo”.
Assistência e formação
Esta não é, no entanto, o caso de colegas de Cláudia do ensino básico público, que passam por situações difíceis. “Eu mesma, antes deste caso, já tinha trabalhado em escolas com menos condições, ouvia desabafos dos colegas, no dia-a-dia”, explica a nossa entrevistada, para quem um dos desafios que se colocam ao nível do ensino e acompanhamento de crianças com necessidades especiais tem a ver, acima de tudo, com assistência e formação “adequada” para esta camada.
“No meu caso fiz minha formação no Instituto Pedagógico para o ensino básico, mais tarde, formei-me em filosofia na Uni-CV. Tirando isso, nunca tive formação ou especialização para trabalhar com alunos especiais, por exemplo. Mesmo no curso básico não recebemos formação para tal”, contou a docente que, para trabalhar com a criança autista de seis anos, teve que recorrer a pesquisas na internet, entre outras formas de se adaptar à situação.
“Tudo o que consegui foi com base nas informações passadas pelos pais, apoio da escola, dos funcionários e pesquisas que eu fiz na internet e não só para contextualizar e adaptar a sua própria realidade porque cada criança é uma criança, dentro desta especialidade”, avançou a professora Cláudia, falando da necessidade de formações mesmo que sejam básicas para lidarem melhor com as crianças com necessidades educativas especiais.
“Deveríamos ter, por exemplo, algumas disciplinas básicas para orientar ou disponibilizar de vez em quando, alguma formação complementar, workshops de apoio entre outras coisas já que todos os dias estamos propícios a ter crianças especiais nas salas de aulas”, sugere a docente que este ano, após contacto directo com a criança autista teve a oportunidade de participar de uma formação com a professora universitária Célia Sousa, portuguesa.
“A formação, uma parceria entre a escola e a Colmeia, veio mesmo a calhar para mim, uma vez que me encontrava naquela fase de choque com uma criança autista na sala, sem saber muito bem como fazer. Foi proveitoso e recebi algumas orientações, mas acredito que precisamos muito mais disso, sobretudo nas escolas públicas porque já ouvi falar de salas de recurso para apoiar crianças com necessidades especiais, mas na prática não é bem assim”, salientou.
Mais inclusão
Para uma sociedade educativa mais inclusiva, Cláudia Vaz diz que há necessidade de uma averiguação junto das instituições para ver a situação nas escolas, para melhores respostas.
“Muitas vezes, as condições socioeconómicas dos pais que não permitem mesmo em termos de esclarecimentos, muito menos em termos de condições para pagar um assistente particular para acompanhar os filhos nas salas de aulas e creio que este aspecto precisa ser considerada. Instituições centrais precisam ver isto, nomeadamente o que se pode fazer em conjunto para uma sociedade educativa mais inclusiva”, terminou. RM