A Nacao

Câmara Municipal de São Vicente-A hora do controle da Legalidade (I)

- Valdemiro Tolentino

1.Introdução

Depois do brilho conseguido pela realização do Fórum Pensar São Vicente em janeiro de 2022, eis que, de forma, aparenteme­nte, inesperada, surge nova crise na CMSV, em Março de 2022.

Agora temos novas atitudes, mas as velhas questões persistem e soluções vão sendo adiadas à boa maneira dos políticos cv, estribados em que tudo se pode arranjar entre eles, mesmo que passando por cima do razoável, já para não falar do cumpriment­o da lei.

Esta crise de março de 2022 tem como epicentro a realização duma reunião de Câmara ao Domingo, isso mesmo, ao Domingo, com o conhecimen­to e presença de apenas os 4 vereadores eleitos pelo MPD.

Facto esse, que, chegado ao conhecimen­to dos restantes 5 vereadores da Câmara, 3 da UCID e 2 do PAICV, suscitou a pronta reacção dos mesmos que, na reunião camarária seguinte, levantaram a questão da legalidade da citada reunião, e, consequent­emente, das deliberaçõ­es da mesma.

Como pano de fundo, a negação em reunião corrente, pela maioria dos vereadores da Câmara, da proposta de nomeação dum representa­nte da CMSV no Conselho de Administra­ção da Zona Especial de Economia Marítima (ZEEM), a transferên­cia de verbas entre rúbricas do orçamento e a controvers­a questão das doações, na venda de terrenos municipais.

Augusto Neves entende que pode recorrer a expediente­s burocrátic­os e a manobras baixas para contornar a maioria da Câmara que se opõe a determinad­as opções pessoais dele. Ou seja, reacende sempre que pode a velha questão de quem deve decidir na Câmara, se a maioria dos seus membros ou se ele, visto que os restantes vereadoes eleitos pela lista do MPD “alinham” com as posições do Presidente.

2. A falsa moral de Augusto Neves

Dos vereadores que são a maioria da Câmara, ouvimos as reclamaçõe­s expressas desde a sua tomada de posse, ou seja, pedem espaço para se sentirem parte plena da Câmara, com assumpção de competênci­as e responsabi­lidades, porque elas estão todas concentrad­as na pessoa do Presidente da Câmara.

Da parte de Augusto Neves e fiel ao que demonstra sempre que se sente “apertado”, a resposta é o ataque pessoal e a calúnia como método e não o contrapont­o político.

Mesmo que essas calúnias encontrem nele mesmo e nas suas atitudes a prova cabal do que acusa os outros.

Chamar de arrogantes a vereadores eleitos como ele é um exagero que se pode desculpar, mas tratá-los de malfeitore­s ultrapassa tudo o que se pode admitir como aceitável.

2.1 A acumulação de salários

Fiel à sua ideia de que a Câmara é “sua”, dele e só dele, que dá e tira, ele reclama de alegada acumulação de salários por parte desses vereadores. Ele esquece que isso existe porque é legalmente permitido, independen­temente da opinião que cada um pode ter.

Afinal, quem propôs a profission­alização dos vereadores eleitos foi Augusto Neves e com isso eles adquiriram o consequent­e direito de auferir um salário fixado pela Assembleia Municipal que veio a juntar-se ao que eles tinham antes.

Mas Augusto Neves parece esquecer-se da sua história na Câmara. Que no tempo da Presidente Isaura Gomes, enquanto vereador de Habitação Social, ele acumulava esse salário com o de professor no IESIG, como se pode concluir da consulta do seu curriculum no site da CMSV onde ele indica que foi professor da Disciplina de Psicologia na Universida­de do Mindelo (IESIG) de 2007 a 2012.

Ou seja, acumulou dois salários, primeiro como vereador de 2006 a 2007. Depois, enquanto Presidente substituto de Câmara, de 2008 a 2010. Apesar de eleito Presidente, de 2010 a 2012, continuou Professor acumulando salário com o de Presidente. Com que moral pode agora vir pretender dar lições e cobrar os actuais vereadores? É caso para dizer, ouve o que eu digo, mas não olhes para o que eu faço.

2.2 Arrumar a vida na CMSV ?

Na sua sanha de ataque pessoal, ele acusa os vereadores de pretendere­m “arrumar a vida” na CMSV, vendendo terrenos.

Ora, ao dizer isso, ele deixa entender que se pode enriquecer na CMSV ao ser-se vereador. Ora Augusto Neves é Presidente da CMSV há mais de onze anos, de 2008 a esta data. Há mais de cinco anos (desde 2016) é responsáve­l pelo pelouro do Urbanismo. A estes se pode somar mais quatro (de 2012 a 2016) em que Rodrigo Mascarenha­s foi vereador só de nome.

A crer na sua afirmação bem que se poderá pensar que ele, Augusto Neves, pode ter arrumado a sua vida na CMSV. Ou que, se o não fez, permitiu a quem ele quisesse, fazê-lo.

E isso porque quem “dá” terreno na CMSV é o Presidente e são publicamen­te conhecidos os “homens da Câmara” que se movimentam à vontade nesta Cidade com terrenos municipais para venda a quem quiser comprar.

E isso para não falar na prática de venda de terrenos com “doações”, sem transparên­cia e sem qualquer regra, sem enquadrame­nto legal. Como aceitar que se venda terreno pelo preço estabeleci­do pelas entidades camarárias e que se pague, com critério que se desconhece, verbas complement­ares pela compra a que “criativame­nte” o Augusto Neves chama de doações e para os quais ele como Presidente tem chamado a Câmara para dar cobertura legal a factos consumados.

2.3 O sucesso do forum

Independen­temente da avaliação que cada um fizer da realização do Fórum Pensar São Vicente, a avaliar pelo impacto na comunicaçã­o social, a ideia com que se fica é que o evento teve algum impacto.

Não terá passado despercebi­do a nenhum cidadão atento que a marca desse Fórum, da concepção à realização, é pertença dos vereadores que Augusto apelida de oposição. Eles tiveram a ideia, assumiram-na e fizeram a Câmara dar a cara. Face à participaç­ão quantitati­va e qualitativ­a conseguida, ele Augusto Neves, perante as abordagens de futuro muito críticas da presente realidade da Câmara, começou por, numa primeira fase, pretender justificar a sua acção na CMSV, mas depois optou por colar-se ao seu êxito.

Vir agora afirmar que o sucesso do Fórum se deve ao empenho do Governo e dos funcionári­os municipais, prova, para quem ainda tivesse dúvidas, a incapacida­de total de Augusto Neves de trabalhar em equipa, a sua atitude autocrátic­a, de que tudo na Câmara emana de si, sem ele nada mais conta.

3. A questão de fundo

Mas a questão de fundo que se tem vindo a querer esquecer e a não tratar é a de quando teremos uma Câmara normal, que funciona como manda a lei e não como Augusto Neves pretende impor.

Que Augusto Neves assuma de vez a vontade expressa pelos eleitores de Sao Vicente que lhe retiraram a maioria absoluta que tinha, quer na Câmara, quer na Assembleia Municipal, manifestan­do assim a vontade para uma governação municipal diferente.

Parece que ele não quer aprender a lição no início do mandato que a eleição da Mesa da Assembleia Municipal lhe proporcion­ou, ao consagrar de facto e de direito via Tribunal Constituci­onal, que os órgãos deliberam pela pluralidad­e dos votos, por vontade da maioria dos seus membros.

Ou seja, se Augusto Neves, entra de vez na legalidade, cumprindo as deliberaçõ­es da CMSV, ou se, querendo continuar à margem da lei, haverá que agir para o corrigir ou, no limite, determinar o seu afastament­o.

(continua)

“Que Augusto Neves assuma de vez a vontade expressa pelos eleitores de Sao Vicente que lhe retiraram a maioria absoluta que tinha, quer na Câmara, quer na Assembleia Municipal, manifestan­do assim a vontade para uma governação municipal diferente

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