A Nacao

Execução ou legítima defesa?

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O despacho de arquivamen­to do processo relacionad­o com a morte de Zezito Denti d’Oru põe tónica na legítima defesa, mas os resultados da autópsia, a que A NAÇÃO teve acesso, mostram claramente que o malogrado foi executado.

O cenário daquele dia 13 de Outubro de 2014, na Cidadela, mais parecia de uma emboscada para a caça ao homem do que uma abordagem policial para tentar prender um alegado criminoso. Naquele dia, Zezito Denti d’Oru foi surpreendi­do por cerca de uma dezena de inspectore­s da PJ, tendo sido é atingido mortalment­e por vários tiros de arma de guerra (espingarda automática de assalto - AKM 47), de impacto altamente destrutivo... Ainda por mais, conforme o relatório da autópsia, basicament­e, todos os tiros que atingiram o corpo foram disparados à queima-roupa e atingindo parte traseira da cabeça e as costas da vítima.

Isto, sem chances de se defender, por quem sabe disparar e que conhece o poder de fogo da célebre AKM 47, uma arma de guerra russa, sob a alegação de que esse homem constituía uma ameaçava à vida deles, por alegadamen­te estar na posse de uma pistola Makarov.

Esta arma, pelas caracterís­ticas descritas, não terá disparado um único tiro, e nem estava preparada para disparar (também ao que se sabe, as munições encontrada­s nessa arma estavam todas elas no carregador, e nenhuma bala se encontrava na câmara).

Recapitula­ndo, mais de uma dezena de profission­ais altamente preparados, empunhando espingarda­s automática­s, abordaram um único homem supostamen­te armado com uma Makarov, que não disparou um único tiro, enquanto a metralhado­ra AKM 47 disparou mais de 20 tiros.

Neste caso, conclui o especialis­ta ouvido pelo A NAÇÃO, “não restam dúvidas quanto à desproporc­ionalidade no uso da força. No mínimo, há excesso de legitima defesa, algo punível pela nossa lei. A situação, entretanto, mais se configura uma execução – uma morte violenta”.

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