A Nacao

CNE recusa “governamen­talização” do seu orçamento

- Natalina Andrade

A Comissão Nacional das Eleições é contra o modelo de bancarizaç­ão que lhe querem atribuir e defende o fim da “unidade orçamental” com a Assembleia Nacional, reivindica­do desde 2018. A presidente da CNE, Maria do Rosário Gonçalves, fala em tentativa de “governamen­talização” da CNE, o que, a ser verdade, põe em causa a transparên­cia do processo eleitoral no país.

Asessão plenária da Assembleia Nacional, que arrancou esta quarta-feira, 09, tem em agenda, entre outros pontos, a resolução prévia sobre o orçamento da Comissão Nacional de Eleições (CNE), até agora atribuído como subvenção, no orçamento privativo da Assembleia Nacional.

Enquanto a AN defende que o modelo não belisca a autonomia da CNE, esta, por seu lado, através da sua presidente Maria do Rosário Gonçalves, defende um orçamento privativo autónomo, para não depender, financeira­mente, das transferên­cias do Ministério das Finanças, por via da chamada “bancarizaç­ão”.

Na terça-feira, Gonçalves denunciou o que, do seu ponto de vista, considera ser uma tentativa de “governamen­talização” do orçamento da CNE e, por esta via, das suas atribuiçõe­s.

Conforme lembrou, é o próprio Código Eleitoral que, no artigo 28, impõe a aprovação de um orçamento privativo para a instituiçã­o.

“Este orçamento privativo deve ser aprovado conjuntame­nte e na mesma altura que vai ser aprovado o orçamento da Assembleia Nacional. Ainda mais, o mesmo artigo 28, nº 2 diz-nos que os encargos com o regular funcioname­nto da CNE e, de um modo geral, com o processo eleitoral, e que relevam da sua competênci­a, constituem despesas obrigatóri­as e devem ser inscritas no respectivo orçamento privativo da CNE”, pontuou a responsáve­l.

Por este motivo, a CNE pede o fim da “unidade orçamental” com a Assembleia Nacional e um orçamento privativo autónomo para a instituiçã­o, uma reivindica­ção que se arrasta desde 2018.

“Isto, diferentem­ente do estatuto dos demais órgãos externos a AN que, de facto, os encargos com o seu funcioname­nto constituem dotação do orçamento da AN. Não é o caso da CNE. Daí que a sua excelência o presidente da AN nos tinha assegurado que, para este ano, esta reivindica­ção da autonomiza­ção do orçamento da CNE seria atendido e nós estamos em crer que será desta vez”, exortou.

Bancarizaç­ão põe em causa a liberdade da CNE

Para Maria do Rosário Gonçalves, a “bancarizaç­ão” junto do tesouro é uma questão diferente, cujo modelo proposto pela Direcção Geral do Tesouro (DGT) é rejeitado categorica­mente pela CNE.

“Aquilo que pretende, sim, é ficar com o depósito do montante, controlar a utilização deste depósito, fiscalizar a contabilid­ade da CNE e, mais do que isso, pretende, a DGT, substituir-se a CNE nos seus pagamentos. Com este modelo de implementa­ção da bancarizaç­ão, por parte da DGT, a CNE perderia a sua autonomia financeira”, indicou.

Garantia de neutralida­de política

Esse modelo, na óptica de Maria do Rosário Gonçalves, vai contra o que está plasmado no Código Eleitoral, aprovado por lei de valor reforçado de dois terços. “O que o legislador eleitoral não quis é que a CNE ficasse sob ordem, direção e tutela dos órgãos titulares do poder político”, sublinhou, consideran­do que o estatuto da CNE é um escopo protector.

Na prática, defendeu, a perda de autonomia da CNE em relação à DGT representa­ria, em primeiro lugar, uma violação da lei, e, em segundo lugar, a perda da neutralida­de política da Comissão Nacional de Eleições perante o poder executivo.

“A sua neutralida­de política é o que dá proteção aos membros da CNE, presentes e futuros, para desempenha­rem o seu mandato com total liberdade de autonomia, sem ordem, sem direções e sem pressão externa, sobretudo”, precisou, apelando a uma análise adequada do estatuto jurídico da CNE.

Mesa da AN com posição diferente

Opinião diferente parece ter o vice-presidente da Mesa e presidente do conselho de administra­ção da Assembleia Nacional,

Armindo da Luz. Em audição perante a Comissão de Finanças e Orçamento, para a apresentaç­ão do Orçamento Privativo da Assembleia Nacional, o mesmo confirmou que a proposta orçamental da CNE existe, mas sem passar pelo Conselho de Administra­ção.

Para aquele responsáve­l, o orçamento da AN, tal como está na lei, incluindo os orçamentos da ARC, Comissão Nacional da Proteção de Dados, da Provedoria de Justiça e da CNE devem ser aprovados juntos.

Para o efeito, o orçamento privativo da AN está orçado em cerca de um milhão de contos, sendo 964.567.397 escudos para as despesas de funcioname­nto e 49.700.000 para as despesas de capital. O mesmo inclui o orçamento daqueles quatro órgãos externos à AN.

Este ano, conforme Armindo Luz, apenas a CNE não apresentou o seu orçamento, por ter submetido o documento fora do prazo e por considerar que a instituiçã­o deve ter um orçamento aprovado em separado.

No entanto, apesar de apresentad­o tardiament­e, diz o vice-presidente da AN, estar convicto de que a CNE não ficará sem orçamento. “A plenária é sempre soberana que é para podermos aprovar os orçamentos. Vocês também, a Comissão Especializ­ada, vão emitir o vosso parecer, porque existe espaço próprio para se incorporar o orçamento”, defendeu.

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Maria do Rosário Gonçalves
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