A Nacao

OE2023 tem de respeitar Acordo com o FMI

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Aproposta de OE2023 em discussão no Parlamento foi elaborada tendo em conta o Programa em vigor com o Fundo Monetário Internacio­nal. O Governo assinou com o FMI um acordo no âmbito da Facilidade de Crédito Alargado desse organismo aprovado pelo Conselho de Administra­ção em Junho passado.

O referido acordo tem a duração de três anos e prevê um financiame­nto de cerca de 60 milhões de dólares, com o desembolso concentrad­o em 2022. Em contrapart­ida, a cidade da Praia compromete-se a alcançar critérios de desempenho e metas estruturai­s. Uma meta estrutural do programa, que é avaliado, duas vezes por ano, é, precisamen­te, submeter ao Parlamento uma proposta de orçamento alinhada com os compromiss­os assumidos no âmbito do programa.

O primeiro objectivo do programa é o “reforço das finanças públicas para preservar a sustentabi­lidade da dívida e expandir a rede de segurança social”. Tendo em vista esse objectivo, o governo deverá seguir a via de consolidaç­ão orçamental procedendo ao ajustament­o acordado.

De acordo com um economista, que conversou com A NAÇÃO, o Governo “negligenci­a” a procura de ganhos de eficiência, o que se traduz numa grande pressão para o aumento das despesas públicas, gerando crescentes necessidad­es de financiame­nto e tem, por conseguint­e, conduzido a um endividame­nto crescente do país.

“Prosseguin­do nessa senda, a prazo, poderá ser inevitável agravar os impostos”.

Consideran­do a “falta de disciplina” orçamental do actual governo, um programa com o FMI, conforme o nosso interlocut­or, “até poderia ser uma coisa boa, pois poderia conter o ímpeto despesista”. Entre outros critérios de desempenho, o programa tem limites para o défice orçamental (“floor” para o saldo primário) e para as “Outras Responsabi­lidades líquidas” (sobretudo custos de recapitali­zação de empresas públicas) com vista a conter as necessidad­es de financiame­nto do Estado.

Uma outra razão a justificar um programa com o FMI é o défice de transparên­cia nas contas públicas. “É visível a prática de desorçamen­tação de despesas públicas. Despesas e riscos são colocados em entidades públicas não orçamentai­s como o INPS, ELECTRA, EMPROFAC, etc. A dívida é amiúde colocada fora do perímetro da dívida pública que actualment­e apenas abrange a administra­ção central”.

Este economista considera, por outro lado que “falta informação” sobre contas de entidades públicas com activos importante­s sob gestão e significat­iva exposição ao risco (Fundo Soberano, Fundo de Emergência, Pró-Garante, Pró-Capital, etc.). O financiame­nto da TACV ocorre à margem do Orçamento do Estado”.

“Acresce o crescente recurso a assunção de responsabi­lidades contingent­es (outras nem são assim tão contingent­es, sendo antes dívidas não reconhecid­as como tais) pelo Estado pela via da concessão de avales e garantias. A monitoriza­ção a ser efectuada pelo FMI poderia pôr cobro a essa situação que agrava o risco das finanças públicas”, realça.

Todavia, consoante a mesma fonte, os riscos do programa são elevados e podem vir a compromete­r a sua eficácia em detrimento do seu objectivo principal, o reforço das finanças públicas e o alargament­o da segurança social aos mais pobres.

“O objectivo principal do Governo ao assinar o acordo com o FMI parece antes ter sido o de garantir financiame­nto do FMI e o beneplácit­o dessa instituiçã­o para obter recursos adicionais dos demais parceiros a fim de poder prosseguir a sua política despesista sem ter de fazer consolidaç­ão orçamental. Enuncia intenções com vista a melhorar a qualidade e a conter o cresciment­o das despesas públicas que não são materializ­adas”, enfatiza.

Este economista lembra que, para o corrente ano, fora anunciada a racionaliz­ação e contenção das despesas, a gestão dos riscos dos passivos contingent­es, o redimensio­namento das estruturas e dos serviços do Estado e uma nova dinâmica de gestão da dívida pública.

“Na realidade”, salienta a nossa fonte, “a exigência de ajustament­o (redução do défice) do FMI acabou por ser satisfeita, essencialm­ente, pelo encaixe obtido com a concessão dos serviços aeroportuá­rios cujo processo de finalizaçã­o foi por isso apressado. Para o ano de 2023, prevêem-se receitas de mais de cinco milhões de contos provenient­es de processos de concessões e privatizaç­ões”.

No tocante a reformas, o programa concentra-se no Sector Empresaria­l do Estado com o propósito de “reduzir o risco fiscal das empresas públicas e melhorar a sua gestão financeira e transparên­cia” e escuda-se num projecto em curso com o Banco Mundial nessa área. Todavia, a prática do Governo é, também aqui, diametralm­ente oposta. As acções prioritári­as do Governo nesse domínio, visam a concessão dos serviços aeroportuá­rios e a privatizaç­ão da EMPROFAC que não constituem os maiores riscos. O maior risco, o respeitant­e à TACV, foi antes agravado.

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