Rosalina Barreto recordada como um “Património” da Cidade Velha
Rosalina Barreto, “Dona Linda” ou “Rosa Linda”, faleceu na Cidade Velha, de onde era natural, de causas naturais, não tendo resistido à velhice e ao passar dos anos. Foi a enterrar, no dia seguinte, na Cidade Velha, sobe o último adeus de familiares e amigos.
Para a história e memória dos que perduram fica um legado imenso de uma vida dedicada ao berço da nação cabo-verdiana, eternizada como uma das figuras mais carismáticas do Sítio Património Mundial da Humanidade.
Em sua homenagem e em reconhecimento do seu legado, as redes sociais inundaram-se de mensagens de pesar, na certeza de que Rosalina ficará também ela, para a história, como um verdadeiro “Património” da cultura nacional e da Cidade Velha.
“Cidadã muito culta”
Enquanto pessoa que sempre defendeu e lutou pela preservação do legado histórico do Património da Humanidade Rosalina transformou-se numa “relíquia” da tradição oral.
O internauta José Carlos Semedo escreveu que o seu passamento é “uma perda irreparável” para o “nosso património cultural”, destacando que Rosalina era uma “cidadã muito culta” e que gostava de partilhar a sua “sapiência” com os outros, especialmente os turistas que visitam a cidade berço .
Igualmente, Spencer Lopes destacou a “grande senhora” que Rosalina foi e que guardará na memória as suas “historias de vida e conhecimentos...” A mesma ênfase é colocada por Silvano Sanches, que enalteceu que a malograda era “conhecedora profunda do nosso património cultural”.
A internauta Margarida Rocha reforçou a importância que Rosalina tinha para a Cidade Velha. “Ninguém conta a história da Cidade Velha como a Dona Rosalina. Ela era o Património da Cidade Velha”.
Além de repassar a história da Cidade Velha aos turistas, fazia-o igualmente às gerações futuras de Cabo Verde, como recordou o professor Miguel Santos. “Sempre que levava os meus alunos em visita de estudo, ela estava sempre conosco, dando valiosas informações”, escreveu.
Também o economista Paulino Dias fez questão de homenagear Rosalina recordando que também ele teve a oportunidade de “beber um pouco do seu conhecimento enciclopédico sobre a Cidade Velha”, numa tarde em que ele andava por lá a passear.
Da mesma forma, o fotógrafo Tó Gomes, que reside na Cidade Velha, foi um dos que destacou a importância do seu legado. “Em sua memória esta sua frase: O património somos Nós!, para que não nos esqueçamos, nunca”, escreveu.
Fiel depositária das chaves da igreja
Pessoa alegre, de bom trato, simpática e educada, quem frequentava a Rua Banana, em tempos, facilmente se cruzava com Rosalina, antes da velhice da idade chegar.
Como chegou a contar, num desses momentos ao A NAÇÃO, Rosalina foi, durante muitos anos, a fiel guardiã das chaves da igreja de Nossa Senhora do Rosário tendo perdido a conta às vezes que abriu as portas da Igreja para que os turistas pudessem “apreciar a beleza deste património”.
“Dona Rosalina” era a pessoa certa para contar as histórias da Cidade Velha, numa ponte entre o passado e o presente.
O legado de “Dona Linda”
A Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (CMRGS), através do seu Presidente, Nelson Vaz Moreira, também manifestou o seu “mais profundo pesar e sentimento” pelo passamento desta “antiga funcionária” e figura do município.
“A malograda foi uma incondicional amante da Cidade Velha e conhecedora da sua história, como ninguém, e preservadora dessa mesma história, através da oralidade e da sua vivência nesta que é Cidade Património da Humanidade, desde 2009”.
Também o Instituto do Património Cultural (IPC) mostrou a sua consternação pelo falecimento de “Dona Linda” e lembrou que ela foi colaboradora do Ministério da Cultura, através do antigo INAC, desde década de 80.
Altura em que “acompanhou as primeiras intervenções de reabilitação e prospeções arqueológicas nomeadamente durante os trabalhos levados a cabo pelo arqueólogo português Clementino Amaro e pelo arq. Ciza Vieira”.
Defensora da classificação a Património Mundial
O IPC lembra ainda que Dona Linda foi uma “importante portadora da memória do sítio e uma das grandes defensoras da classificação da Cidade Velha como património mundial”, além de ser uma das figuras “incontornáveis” do sítio histórico.
Apesar de se ter aposentado em 1995, continuou o seu legado, tendo participado, de forma activa, segundo o IPC, na disseminação dos conhecimentos por várias gerações.
Conhecimentos esses que ficarão, agora, para a história como legado que a própria Rosalina deixou para ser preservado.