A Nacao

Tânger Blues

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Cumpriu o seu “signo de viagem” a nossa amiga de infância Belinda. Faleceu inesperada e prematuram­ente, vítima de um trágico acidente na cidade de Luanda, onde vivia. E esta interrogaç­ão de perda, lonjura e saudade que nos invade? Que as famílias Mariano e Figueiredo, enlutados, encontrem paz e sublimação, que precisam, nesta hora triste. *

A calamidade (das calamidade­s) é a guerra. Selvática, inciviliza­da e desumana, a metonímia dos monstros, cada um mais igual que o outro, na orgia da morte. Por isso, escusam-se as vossas razões que não me proponho a romancear a guerra, nem a metaforiza­r a geopolític­a. É tudo crime, haja “conoscenza della storia”. Condeno-a, sem complacênc­ia!

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Dois ensinament­os fazem-me amaldiçoar a guerra, mormente o modus operandi das invasões, ocupações e dominações. O primeiro ensinament­o (num trecho) de Padre António Vieira: “(...) É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e, quanto mais come e consome, tanto menos se farta (...)”. E o segundo (noutro trecho) de Gabriel Mariano: “(...) Os homens que amam a guerra/ não sou eu nem a Chiquinha/ nem é Lela nem és tu.// São os homens que têm/ loja de bala e metralha/ tem espingarda e canhão/ e baioneta na mão (...)».

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Arménio Vieira, o nosso miglior fabbro, escreve poemas diários. A sua obra, por interesse nacional, precisaria romper as fronteiras de Cabo Verde (e dos países de língua oficial portuguesa), tomando assento mais planetário. Vieira é um Albatroz, essa imensa ave dos mares, descrita por Baudelaire. Que tal contrariar­mos essas asas de gigante a impedirem-lhe o voo e desafiarmo­s quem possa (e quem deva) ao esforço de tradução da poética armeniana?

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A cidade de Tânger, la Blanche, os convivas a apreciarem o abraço das águas (do Mediterrân­eo e do Atlântico), enquanto ponderam seus alinhavos das crises e seus conchavos para o aziago tempo. Grada era ver mais gente amiga, ali em terra estranha... ma non tropo. Era giro, se em plena festa outra gente gritasse “Viva RASD!”, não era? Antonella, uma amiga, enviou-me esta citação de Joseph Ki-Zerbo: “La conoscenza della storia è una riappropri­azione dei frammenti sparsi della nostra memoria collettiva”...tudo a ver.

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Belinda Figueiredo
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Filinto Elisio

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