A Nacao

Reformas versus falta de ambição do Governo

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As reformas económicas estruturan­tes “estão paradas ou implementa­das com lentidão”, depois de ter havido, em 2018 e 2019, um início de realização de “reformas estruturan­tes”, inclusive no sector empresaria­l do Estado (SEE).

A partir de 2020, porém, houve um abrandamen­to significat­ivo que continuou até agora e que não se explica só com a pandemia da covid-19, nem com a guerra na Ucrânia. “Não é a primeira fez que a narrativa de aceleração da reforma do SEE consta das directrize­s do OE. Contudo, na prática, ao contrário do esperado houve um abrandamen­to”, diz o analista ouvido pelo A NAÇÃO.

Em 2018, lembra o nosso interlocut­or, o SEE teve no seu todo um resultado líquido global positivo à volta 235 milhões de contos. Portanto, em 2018, além da sua contribuiç­ão em prestação de serviços e de bens para o país, o SEE na sua globalidad­e represento­u uma carga financeira para o Estado. Depois, o desempenho do SEE piorou gradualmen­te. Em 2020, 2021, pelo contrário, o SEE registrou resultados líquidos negativos (cerca de 3 milhões de contos) e para 2022 a projeção é que o SEE irá apresentar de novo um prejuízo no montante de 2,2 milhões de contos, aproximada­mente.

“Esses dados, de forma objectiva, indicam que o Governo tem tido na gestão do sector empresaria­l do Estado um fraco desempenho que se explica por uma falta de seguimento mais rigoroso das empresas na carteira do Estado que vão requerendo mais financiame­nto pelos contribuin­tes sem em contrapart­ida trazer a qualidade de serviço nem os produtos expectávei­s”, sublinha.

“Um exemplo da urgência da reforma no SEE é a Electra. Apesar do Estado estar a trabalhar há já quatro anos na concessão desta empresa, o concurso público para a referida concessão não foi lançado. No entanto, a empresa ano após ano, tem o mesmo problema das perdas de energia que é bem conhecido. Há planos elaborados para resolver esta questão todos os anos e o problema mantém-se”.

Em 2021, as perdas totais da Electra representa­ram 25,5% do total da energia produzida. Esta situação vem se arrastando há muito tempo e, por isso, todos os rácios financeiro­s de rendibilid­ade, de liquidez e de solvabilid­ade, colocam a empresa numa situação de risco “muito elevada”. Contudo, não vêm sendo tomado medidas necessária­s para mitigar esses riscos.

“Convém notar que a lentidão na tomada de decisões acarreta um custo financeiro e um custo na qualidade de serviço para todo o país e a economia com uma energia a custo muito elevado comparado com os países da região bem como um número elevado de apagões. É fundamenta­l a aceleração das reformas que já constam de vários orçamentos e outros documentos estratégic­os do Governo”, advoga.

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