Investigadores africanos querem “repor a verdade histórica” da luta de libertação
A Fundação Amílcar Cabral reuniu, esta semana, na Praia, um grupo de historiadores, sociólogos e antropólogos africanos, na segunda Reunião Metodológica das Comissões de Trabalho para a Elaboração da História da Luta de Libertação dos Países Africanos de Língua Portuguesa-PALOP. Em três anos, esperam produzir três volumes sobre o tema.
Ainiciativa, cuja primeira edição foi realizada em Angola, em Março do corrente ano, após concertação entre o presidente da Fundação Amílcar Cabral e o chefe de Estado de Angola, João Lourenço, deve culminar na produção de três volumes, com uma nova abordagem epistemológica.
A primeira fase do projecto é financiada pelo Presidente de Angola, e o custo total da sua execução deve rondar entre os 500 mil e um milhão de dólares.
Conforme a Fundação Amílcar Cabral, a ideia decorreu da necessidade de os principais protagonistas dessa História narrarem, na primeira pessoa, “a gesta heróica e libertadora de seus povos”, visando “repor a verdade histórica, a qual vem sendo deliberadamente adulterada nos últimos tempos, na tentativa de branqueamento do que foi o doloroso domínio colonial”.
Dar voz aos protagonistas
Mentor da ideia, Pedro Pires sublinhou que o foco do projecto é valorizar os protagonistas da história, mas sem fazer o “culto de personalidade a quem quer que seja”.
“As pessoas não são 100% objectivas nem 100% neutras. Da mesma forma que eu não sou isento, porque analiso numa perspectiva. A pior coisa que há é estarmos nessa posição de sermos donos da verdade. Isso leva-nos, às vezes, a posições irracionais”, sublinhou.
Conhecimento para novas gerações
Por seu lado, a coordenadora geral do projecto, a angolana Rosa Cruz, ex-ministra da cultura do seu país, explicou que a obra vai servir para que as novas gerações tenham acesso ao conhecimento do que foi a trajectória da luta desenvolvida para chegarmos à independência dos cinco PALOP (Angola, Cabo Verde, Guiné, Moçambique e São Tomé e Príncipe).
“Há todo um processo da formação das nossas elites intelectuais, o processo da criação das organizações políticas, do trabalho que foi desenvolvido na clandestinidade, depois nos países de acolhimento onde se constituíram as bases militares, as relações diplomáticas, as Nações Unidas e até o 25 de abril”, elencou.
Ao fim de três anos, espera-se ter produzido três volumes sobre a história da libertação, sendo que o primeiro vai abarcar o período que vai dos meados do séc. XIX aos meados do séc. XX.
O 2° volume será dedicado à Luta Armada propriamente dita, nas suas vertentes clandestina, armada e diplomática e o 3° à história da Gestão das Zonas Libertadas pelos Movimentos que conduziram a Luta pela Independência dos PALOP.